segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Filme em destaque - Selvagens

A maconha nossa de cada dia 
O diretor Oliver Stone na capa de julho de 2012, ocasião do lançamento de Selvagens no cinema americano, de uma revista especializada em maconha. Seu novo filme "respira" a erva e é um dos entretenimentos mais vigorosos do cinemão americano em 2012



Quem melhor do que Oliver Stone para rodar um filme que coloca o cultivo de maconha no centro do debate? Ainda que seja um debate que só faz antessala para uma espiral de violência incontida, Stone, também por isso, é o homem certo para o trabalho.
Defensor declarado da legalização e descriminalização das drogas, ele é responsável por alguns dos filmes mais violentos do cinema contemporâneo. Desde Platoon (1986), sobre os horrores da guerra do Vietnã, passando pelo histriônico Assassinos por natureza (1994), sobre um casal de psicopatas que sai em matança pelos EUA, Stone é um diretor que sabe dotar seu cinema de energia e caos, sem necessariamente prescindir de um discurso político de teor mais explosivo. São credenciais que o habilitam para Selvagens, com o qual se comprometeu antes mesmo do livro que serve de base para o filme ser publicado. “Senti uma faísca quando li o material”, disse o diretor em entrevista ao portal IG. Stone é responsável pela adaptação do livro, o mais premiado da carreira do escritor americano Don Winslow, junto do autor que contou à Folha de São Paulo que o processo de roteirização foi tenso: “Stone é muito intenso, discutíamos cada elemento do filme. Muitas vezes, gente do cinema não entende que escritores lidam com cortes e edições diariamente; é parte do trabalho".

Lótus
Oliver Stone, depois de considerar Leonardo DiCaprio e James Franco, chamou Aaron Johnson – o John Lennon de  O garoto de Liverpool para viver Ben, um botânico riponga e entusiasta da prática de ações de caridade. Taylor Kitsch, que em 2012 já pôde ser visto em John Carter- entre dois mundos e Battlheship – a batalha dos mares, foi escalado para viver Chon, um veterano das guerras do Iraque e do Afeganistão que volta para os EUA com algumas das melhores sementes de maconha do planeta. Juntos, Ben e Chon erguem um pequeno e lucrativo império produzindo e comercializando, legal e ilegalmente, a maconha mais pura de todo o hemisfério norte. A boa vida em uma mansão na ensolarada Califórnia é adornada pelos beijos de O (Blake Lively), uma típica patricinha que é namorada dos dois. O, que seria interpretada por Jennifer Lawrence, que rescindiu o contrato para estrelar o blockbuster Jogos vorazes, é a narradora do filme. O é abreviação de Ophelia, batizada em homenagem a princesa shakespeariana que se suicida em "Hamlet". A abreviação foi uma adaptação pontual que a garota fez ao capricho da mãe. Essa informação aparentemente banal diz muito sobre a natureza da personagem de Blake Lively, que, de alguma maneira, veste O melhor do que se imagina Jennifer Lawrence fizesse.
Ben, por sua vez, chama O de “minha doce Lótus”, uma planta de beleza e cheiro incomuns.

O amor tem três vértices em Selvagens: os três protagonistas em momento romântico


“Algo de errado na sua história de amor”
Mas a semântica que Selvagens quer discutir não é de cunho botânico ou shakespeariano. E sim sobre qual postura se adequa melhor ao termo “selvagem”. Para isso, Oliver Stone confronta o “american way of life”, encarnado nos valores pós-modernos de Ben e Chon – eles mesmos tão diferentes entre si – e os mexicanos de um poderoso, mas ainda assim a beira da ruína – cartel de drogas comandado com mãos de ferro por uma mulher. É Elena (Salma Hayek), quem manda sequestrar O como forma de coagir os “traficantes do bem” a se aliar ao lado negro da força, quem adverte ao lótus de Ben que há algo de errado com a história de amor dela. “Eles nunca amarão você mais do que um ao outro, do contrário, eles não te compartilhariam, não é mesmo?”. É uma frase poderosa e que acrescenta a essa discussão regada a maconha e cabeças rolando, certo romantismo que faz de Selvagens algo ainda mais singular. Mas que discussão? Em um dado momento, novamente O nos informa que Chon costuma dizer que “a droga é a resposta racional a um mundo irracional”. Oliver Stone não sabe fazer entretenimento sem ser político. E não há nada de errado nessa história.

4 comentários:

  1. Torcendo para que ele chegue por aqui... Depois que Cosmopolis não estreou em Salvador, ando pessimista. hehe.

    bjs

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  2. Ainda não fui conferir "Selvagens", o poster é igual ao do "Babel", mas pelo visto o filme é outro...

    Oliver Stone sempre faz polêmica. Não espero nada de diferente do que ele tem feito com o tipo de filme que faz aquele debate pertinente. Seus filmes tem uma marca de violência crua e de fato alguns deles são teatrais. Lembro daquela cena gay de Alexandre que deu o que falar ou a aparição de Jesus Cristo numa cena tensa de As Torres Gêmeas e assim por diante... Stone é assim, de uma modo ou de outro é sempre a atenção.

    Ótimo artigo, como sempre!
    Abraço.

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  3. Esse eu quero ver no cinema. Tô ansioso mesmo :D

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  4. Amanda: Aiaiaia Salavdor... boa sorte Amandita!
    Bjs

    Rodrigo: Obrigado pelo elogio meu caro. Olha, gostei mais desse filme do que achava que ia gostar. E eu já achava que ia gostar.
    Abs

    Alan: Its good pot, my friend!
    Abs

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