sábado, 6 de outubro de 2012

Crítica - Procura-se um amigo para o fim do mundo


Deliciosamente e melancolicamente romântico



Não é exagero dizer que Procura-se um amigo para o fim do mundo (Seeking a friend for the end of the world, EUA 2012) é um dos romances mais originais do cinema contemporâneo. Talvez seja algo surpreendente aponta-lo como um dos melhores filmes da safra americana de 2012. Mas é exatamente o sentimento que fica com o expectador ao fim da sessão deste que é o primeiro filme dirigido por Lorene Scafaria – que já havia escrito o fofo Uma noite de amor e música.
Na trama, o apocalipse é iminente. O que Scafaria faz com sagacidade e sensibilidade é conjugar clichês de uma comédia romântica com o espírito de um road movie para entregar um filme que faz da melancolia um sentimento doce. Não é uma equação fácil. Scafaria dosa o humor – nunca exagerado – de maneira que se apresente como respiro de uma jornada existencial e faz dos tipos que surgem na tela, inclusive os muito bem delineados protagonistas, comentários sobre o que nos faz humanos.
No fundo, seu filme vislumbra algumas respostas para a pergunta “como você gostaria de passar seus últimos dias em vida”? Desse mote incomum, Scafaria pode não tirar uma ressonância profunda das angústias humanas, mas realiza um filme cheio de predicados. Dentre os quais destaca-se o saboroso retrato do nascedouro de um amor. De como apaixonar-se é potencialmente transformador e capaz de preencher o vazio de sentido.
A última tentativa de deter Matilda, o meteoro que se chocará com a Terra, falha. Com a sentença de morte da humanidade decretada, Dodge (Steve Carell), um vendedor de apólices de seguros, é abandonado pela mulher. Desconfortável com a agonizante falta de rotina e propósito que se estabeleceu nos poucos dias que separaram a Terra de seu destino final, ele decide se recolher em seu apartamento. É quando conhece sua vizinha – que já morava no mesmo edifício há três anos – Penny (Keira Knightley). Um tanto espaçosa e desajeitada, mas profundamente generosa, ela será a responsável pela mudança mais profunda na vida de Dodge.
Eles estabelecem um pacto em que ela o ajudará a encontrar o primeiro amor da vida dele e ele a ajudará a rever os pais pela última vez. Na viagem, eles cruzam com tipos estranhos e esquisitos que reagem ao armageddon de maneira diferente. Essa viagem incauta por um EUA em colapso promoverá um estreitamento entre os dois dos mais tenros e belos.
É seguro dizer que a estreia na direção de Lorene Scafaria é promissora. Ela faz um romance atípico, extremamente cativante, que alterna doçura, humor e drama com equilíbrio e espontaneidade. Contribuem para essa condição, as atuações certeiras de Keira Knightley – uma atriz de repertório cada vez mais impressionante – e Steve Carell, que segue mesmerizando por sua capacidade de alternar os tons da atuação como um passe de mágica. É um talento hediondo!
Por fim, Procura-se um amigo para o fim do mundo é o raro tipo de filme que faz da tristeza um instrumento de alegria. Se isso não faz dessa pequena obra prima algo especial, definitivamente é o fim do mundo. 

3 comentários:

  1. Ainda não tive oportunidade de assistir, mas sua ótima crítica me estimulou, apesar de ser um filme que tem dividido opiniões, confio na sua visão.

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  2. Uma grande filme mesmo, seu título já resume tudo: Deliciosamente e melancolicamente romântico.

    bjs

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  3. Celo: Poxa, obrigado pelo crédito e moral. O filme é bom sim.
    Abs

    Amanda: Foi um título feliz, não foi?
    Bjs

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