quinta-feira, 10 de junho de 2010

Crítica - O golpista do ano

O melancólico Steve Russel

O cinema independente americano tem o brilho de reciclar com certa inventividade fórmulas desgastadas e contar uma mesma história de maneira arejada e contagiante. Foi assim com pequenos filmes como Pequena miss sunshine e Preciosa – uma história de esperança. Filmes que não apresentavam nenhuma originalidade em seus cernes, mas que vinham dotados de coração em tramas bem desenhadas. É isso que ocorre com O golpista do ano (I love you Phillip Morris, EUA 2009). O filme, dirigido e roteirizado pela dupla John Requa e Glenn Ficarra, conta a história de um cidadão acima de qualquer suspeita que após passar pelo que ele chama de epifania (um acidente automobilístico quase fatal) resolve viver a vida nos “seus termos”. Para Steve Russel (Jim Carrey), isso inclui assumir sua homossexualidade e cometer algumas vigarices para manter um alto padrão de vida.
O golpista do ano é sobre esse individuo que tenta preencher a vida de sentido. O inicio da fita e o final, embora um tanto professorais, ratificam essa constatação. É em uma de suas passagens pela prisão que Steve conhece Phillip Morris (Ewan McGregor) e se apaixona por ele. A paixão mútua é muito bem delineada na tela. Tão bem quanto a expertise de Steve para burlar e dissimular.
O filme se vale de uma comédia com retoques dramáticos para contar a história (real) de um homem que tentou prevalecer de todas as formas possíveis e imagináveis a seus impulsos naturais. Essa dicotomia entre dissimulação e impulsos é, na verdade, sobre o que trata O golpista do ano. E é justamente o resultado que advém dela que confere uma certa melancolia ao filme.
Rodrigo Santoro faz o primeiro "namorado sério" de Steve em sua nova fase: o filme tem momentos de humor, mas não é exatamente uma comédia


Jim Carrey entrega sua melhor atuação em anos. O ator acerta o ponto na caracterização de um homem que sucumbe às próprias engenharias. Carrey ainda tem o mérito de evitar repetir a si mesmo. Ewan McGregor é outro em aparição inspirada. O ator faz uma composição delicada revelando toda a fragilidade de seu personagem e se desvia da caricatura e afetação a qual muitos outros atores poderiam ceder. Mas o grande trunfo dessa inusitada história, que tem o seu charme justamente devido a esse histrionismo romântico, é o desenvolvimento dos personagens. Os dois pilares da trama (Phillip e Steve) tentam cada qual a sua maneira contornar aquilo que parece ser a sina de suas vidas. Essa sina, que não tem nenhuma relação com a homossexualidade (embora em um ou outro momento a realização teça um comentário a respeito), corresponde justamente a facilidade com que ambos cedem a seus impulsos. O que, como fica claro no desfecho do filme, nem sempre resulta em um felizes para sempre.

6 comentários:

  1. Parece que este filme caiu mesmo no seu gosto Reinaldo... quero ver porque gosto das atuações dramáticas de Jim Carey e este papel parece ser mescla do humorista com o ator dramático... deve ter dado um resultado interessante. Outro que quero ver é Ewan McGregor que me surpreendeu em O Escritor Fantasma e que agora quero vê-lo num papel totalmente diferente para ver seu desempenho.
    ABS!

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  2. Pelo que você descreve, parece ser um belo filme, quero conferir em breve, mas fico frustrada que Rodrigo Santoro nem seja citado em seu texto, significa que é mais um personagem totalmente dispensável do rapaz.. hehe. Acho ele um bom ator, pena que Hollywood não lhe dá uma chance de verdade.

    bjs

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  3. Quero muito ver este filme, para conferir uma atuação dramática de Carrey, que sinceramente, eu prefiro! rs
    E tbm claro pelo Ewan McGregor que acho um excelente ator!
    Agora pelo visto Rodrigo Santoro, ainda não deslanchou realmente em Hollywood...

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  4. Diz o ditado que quem é vivo sempre aparece...hahahaha.

    Nossa, quanto tempo não passo por aqui. Tudo por conta dessa vida atribulada que não me permite todo dia prazeres como esse que é visitar o seu sempre atual e pontual blog, Reinaldo. Mas tenho a obrigação de tentar passar por aqui mais vezes, e conferir tudo que rola nesse mundinho do cinema...rs

    E logo hoje que passo por aqui, tem os coments desse filme que espero a tempos, porque sim, confesso sem medo de ser feliz, adoooro Jim Carey, e em um drama mais ainda. Fiquei feliz que gostou, me deixou mais ansioso, principalmente em relação a atuação do Jim.
    Porém para variar, por aqui nem sinal do filme :x

    Abração Reinaldo! Sempre que puder passarei por aqui ;)

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  5. A tua opinião foi, de longe, a melhor que li sobre "O Golpista do Ano".

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  6. Fernando:Carrey é uma figura muito forte. Isso, obviamente, atrapalha trabalhos mais experimentais. Mas aqui ela dá mais uma demonstração de bom ator que é. Já Ewan mostra que cresce a cada trabalho. abs

    Amanda:O filme é bom sim Amanda.É preciso saber apreciá-lo. Quanto a Santoro, tb o acho ótimo ator. Carismático, corajoso e versátil. Três qualidades raras de se achar em um ator (especialmente brasileiro). Em Cannes, o diretor Ficarra explicou que teve que cortar muitas cenas de Santoro por que elas se desviavam do objetivo da história ( conferindo o filme a gnt entende as razões da dupla de diretores), mas mesmo assim, Santoro tem uma boa presença. É pequena, mas marcante sim.
    bjs

    Alan:Não chega a ser uma atuação dramática como em O show de Truman, Alan. É uma atuação assertiva, justamente, por ser tão difícil de rotular.
    abs

    Paulo: É verdade. Esse ditado é muito verdadeiro. rsrs. Fico feliz pelo carinho e prestígio Paulo. Quanto ao filme, vale esperar. Não é nenhum suprasumo, mas é um filme eficiente e, o melhor, com algo a dizer.
    E trate de voltar sempre. Além de muito bem vindo, suas opiniões enobreçem esse espaço. Abs

    Kamila:Espero que a sua possa se aproximar da minha! rsrs. Bjs

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