sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Cantinho do DVD

Dando sequência ao momento Oscar aqui em Claquete, e já que a seção Cantinho do DVD de semana passada destacou Quem quer ser um milionário?, nada mais justo do que trazer avante a critica de O curioso caso de Benjamin Button, o filme que foi o grande rival da obra de Danny Boyle na temporada de premiação passada, pelo menos no tocante as indicações. O filme também constou da lista dos melhores do ano aqui do blog. Vamos a critica:

Sobre o tempo, o amor e a solidão...

O novo projeto de David Fincher era por muitas razões aguardadíssimo. Pelo reencontro do diretor com seu ator preferido - Brad Pitt- pelo tom fabular da história - homem que nasce velho e rejuvenesce, e mais do que tudo pela curiosidade de ver como Fincher um diretor cerebral iria ajustar uma história com tamanho potencial emocional á sua filmografia.
O curioso caso de Benjamim Button (The curious case of Benjamim Button EUA 2008) é um filme triste. Não há nenhum demérito ou restrição inerente nessa constatação. O que Fincher persegue com sua obra e alcança com sobriedade muscular é realizar um filme sobre o tempo. Sobre a perenidade das coisas, dos sentimentos e dos sentidos. Fincher e Eric Roth, roteirista da fita, pegaram a premissa de um conto de F. Scoot Fitzgerald e o transformaram em uma obra tão lúcida e tão eloquente, quanto ambiciosa.
Brad Pitt é Benjamim, homem que nasce velho e passa a rejuvenescer, mas apenas fisicamente. Mentalmente, Button segue o curso natural das coisas. Esse homem extraordinário se aventura a viver uma vida comum. A fantasia de ser jovem e contar com a experiência dos anos vividos é desmontada por Roth e Fincher de maneira serena e robusta. Isso porque o filme a todo momento busca a grandiloquência. Talvez aí resida a grande irregularidade da fita. A busca pela perfeição do relato (que pode ser notada na maravilhosa maquiagem e nos efeitos revolucionários) incuba a emoção, pelo menos em um primeiro momento, já que Fincher não se permite desviar do objetivo central um momento sequer.
E aqui ele fala sobre o amor. Um amor que se transforma com o tempo e com as circunstâncias. Benjamim e Daisy, se conheceram quando crianças, só que ele em um corpo idoso, ela em um corpo de criança, e só poderiam viver plenamente o sentimento que nutriam um pelo outro uma vez. Quando se cruzassem no meio da vida. Há poesia aí. E muito de melancolia também.
Fincher adentra a melancolia com bisturi. A solidão humana. O sentimento de não pertencimento. O existencialismo que permeia as ciências sociais desde que o mundo é mundo são a matéria prima talhada pelo diretor nas suas três horas de filme. Na medida em que Benjamim Button se constrói, Fincher o desconstrói para o público para provar que nas nossas angústias, não temos nada de excepcional. O tempo passa para todos e não poupa ninguém.
Outro elemento presente na fita é a morte. E como os personagens são forçados a lidar com ela. Seja ela natural ou não. Fincher movido por uma curiosidade quase antropológica insiste que o objetivo de nossas vidas é preenche- la de sentido. A cena final para quem não tiver conseguido captar a mensagem é didática.
O filme recebeu 13 indicações para o próximo Oscar, inclusive filme, direção e ator. Justo reconhecimento a um filme que permanece com o espectador e mais, estimula a reflexão. Não uma reflexão qualquer, mas uma que nos faz olhar para dentro de nós mesmos. Emocional ou não, Fincher conseguiu provar seu ponto de vista.

6 comentários:

  1. Não gostei do filme, mas gostei demais da sua crítica!

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  2. Nossa Anabela, muito obrigado pela deferência. Mesmo. Fico feliz que tenha apreciado o meu olhar independentemente do seu gosto pela obra. Exige grandeza e despreendimento. Curiosidade matou um gato da minha idade, mas fiquei intrigado: Pq não gostou do filme? Bjs

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  3. A maior injustiça da história do Oscar para mim! Claro que o filme de Fincher é exagero em todos os sentidos, mas é lindo e daqueles que nos traz emoções inimagináveis! Nunca havia sentido o que senti quando assisti Benjamin Button!

    Pode ser melancólico, triste, não trazer esperança nenhuma, mas é um filme único!

    Abração Reinaldo.
    Bom Carnaval!

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  4. Obrigado Eri. Bom carnaval para vc tb. Tb acho uma das grandes injustiças do Oscar. Como vc disse, é um filme único. ABS

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  5. Oi Reinaldo,

    Este é um filme fascinante para mim. Melancólico porém honesto o suficiente para falar sobre a passagem do tempo e a inevitabilidade da morte. E o que estamos fazendo com o nosso tempo? Eis a pergunta fundamental. A cena final é única. Algumas pessoas nasceram para fazer algo e, o estamos fazendo este algo no tempo que nos sobra?

    Divino!


    Grandiosa resenha assim como o filme!
    bjs

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  6. Obrigado madame. Esse e amor sem escalas foram os últimos dois filmes, que assisti no cinema, que me acompanham em meus pensamentos por alguns dias. Uma obra excpecional, sem dúvidas. Bjs

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