quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

OSCAR WATCH 2011 - Crítica dos indicados ao Oscar

Acontecerá no próximo domingo, 27 de fevereiro, a 83ª cerimônia de entrega dos prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. O Oscar 2011 destaca-se por agregar uma lista tão eclética quanto equilibrada. No segundo ano com dez concorrentes na categoria principal, a academia teve a sorte – e competência – de contar com dez filmes de alta qualidade esquivando-se de alguns equívocos cometidos no ano anterior. É perceptível o afinamento. Repare que dos dez indicados a melhor filme, nove concorrem a melhor roteiro e, excetuando-se A origem e Toy story 3 (que estão contemplados em categorias igualmente nobres) todos os filmes apresentam performances indicadas. Avançando nesse exercício, é possível analisar que diferentemente do ano passado as categorias de atuação refletem a superioridade dos filmes escolhidos. Um compasso de qualidade que faz muito bem ao Oscar.
Por falar nos dez filmes que compõem a lista dos melhores do ano segundo a academia, cabe o reconhecimento de que o Oscar se preocupou em reconhecer a pluralidade do cinema contemporâneo. A intervenção estética como força narrativa (127 horas), a força de um bom elenco para levantar um filme (Minhas mães e meu pai, O vencedor e O discurso do rei), a animação como obra de arte (Toy story 3), o recôncavo cinematográfico que continua a respirar (Inverno da alma), a originalidade do registro autoral em um produto comercial (A origem), o cinema de força bruta e cativante (Cisne negro) e o filme que traduz seu tempo em conteúdo e dialética (A rede social). É uma lista de respeito que poderia continuar a ser adjetivada de trás para frente.

Cena de A rede social: o filme mais importante dessa edição do Oscar 2011 pode não levar o prêmio principal


A disputa principal se entrincheirou em A rede social e O discurso do rei. É, a grosso modo, uma disputa injusta. Seria mais justo se o filme de Fincher- claramente superior a seu principal adversário – concorresse nas cabeças contra Cisne negro ou A origem, por exemplo. Filmes que aliam, na medida certa, doses de experimentalismo, força narrativa, propriedade visual e reverberaram mais do que satisfatoriamente nas bilheterias. Mas O discurso do rei é a resposta dos conservadores ao avanço da influência da crítica nas hordas da academia. É bom salientar que ano passado esse grupo se viu órfão. Avatar e Bastardos inglórios eram libertinos demais e Guerra ao terror se apresentava com certo conservadorismo em sua liberalidade vocacional. Alinhar-se a crítica evitou consagrar um filme que atacava alguns males tipicamente americanos (o também premiado pela crítica Amor sem escalas).

Colin Firth, favorito na corrida pelo Oscar de ator, em cena do igualmente favorito O discurso do rei: desforra conservadora


Este ano, esse grupo teve sua desforra na inclusão de três filmes: O vencedor (7 indicações), O discurso do rei (12 indicações) e Bravura indômita (10 indicações). Essa guinada a direita pode, até mesmo, não se materializar. A mudança de comportamento da academia, que advém da mudança de perfil do membro votante, pode culminar em uma nova pulverização dos prêmios (como ocorrido em 2006 quando os principais Oscars se dividiram entre O segredo de Brokeback Mountain e Crash- no limite). Fato é que O discurso do rei ganhará mais prêmios do que merece. Inclusive podendo sorver o prêmio de melhor filme; o que entreposto a qualidade dos demais indicados seria lamentável.
Contudo, um indicador de que a briga ainda não está definida foi o resultado do Bafta. Por trás da esperada consagração de O discurso do rei na premiação britânica, estão os três sólidos prêmios conquistados por A rede social (direção, roteiro adaptado e montagem). A rede social também ganhou o prêmio do sindicato dos montadores e como em 90% das vezes, o melhor filme também ganha o prêmio de edição (o que aconteceu nos últimos oito anos é bom que se diga), a chama da esperança para o filme de Fincher ainda está acesa. Correm por fora nessa disputa, o novo e idolatrado filme dos Coen (Bravura indômita) e O vencedor. Contra o filme dos Coen, pesa o fato deles terem sido premiados muito recentemente. O que não quer dizer que o filme não seja forte em algumas categorias (som, fotografia e atriz coadjuvante são as melhores apostas). O filme pode, ainda, se beneficiar da acirrada disputa entre A rede social e O discurso do rei e se firmar como uma louvável terceira via. O vencedor tem o apoio inconteste dos atores, mas a derrota na categoria de elenco no SAG sugou um pouco de suas forças.

Cena de Bravura indômita, dos prestigiados irmãos Coen: honrosa terceira via


Legados

A disputa por direção parece restrita a três candidatos. Tom Hooper, mais por defender o filme líder de indicações, David Fincher, diretor que já merece o Oscar desde os anos 90, e Darren Aronosfky, o que apresenta o melhor trabalho de direção da temporada. Os Coen (que já venceram na categoria) e David O. Russell atingiram nas indicações o reconhecimento máximo a seus trabalhos. Hooper não merece ganhar. Talvez ganhe. Se o apoio do sindicato dos diretores trabalha em seu favor, a opção do Bafta por Fincher lhe desperta atenção. O trabalho de Fincher em A rede social é muito mais atraente, desafiador e gradual do que o de Hooper em O discurso do rei. A opção por Fincher deve ganhar força entre adeptos da divisão de prêmios entre A rede social e O discurso do rei. O melhor trabalho de direção nesse sentido (o de Darren Aronosfky em Cisne negro), só teria chance se os adeptos dessa divisão não fossem todos na dobradinha O discurso do rei/David Fincher e também prestigiassem a lógica A rede social/ Tom Hooper. Essa nova divisão poderia dar a vitória para Aronosfky. Mas é um cenário improvável. David Fincher deve prevalecer.

David Fincher sorri: 2011 deve ser o ano dele no Oscar 


A categoria de roteiro adaptado é a mais óbvia da noite. Mesmo que A rede social não fature nenhum outro prêmio, esse Oscar é certeza. Seria regredir moralmente se a academia negasse (ainda que por vias compensatórias a outros candidatos) esse Oscar ao filme.
Já a disputa na ala original é mais traiçoeira. Competem bons roteiros, é verdade, mas é igualmente inegável a superioridade do texto de A origem. Contudo, em favor do septuagenário roteirista de O discurso do rei (David Seidler), a academia pode preterir Nolan uma vez mais (cá entre nós, não é difícil preterir de novo, quando a maré está a favor). Por outro lado, há quem enxergue a necessidade de fazer justiça a um dos melhores filmes do ano e a um dos melhores artistas em atividade no cinema americano atualmente. Essa seria a categoria para fazer isso.


As atuações

O páreo já parece decidido nesse departamento. O favoritismo inconteste de Colin Firth, que vem desde antes do início da temporada de premiações, continua a ser ameaçado por Jesse Eisenberg (com mais chances) e por James Franco (com chances bem remotas). Contudo, Firth deve prevalecer por seu trabalho correto-embora longe de grandes ovações – em O discurso do rei.
Se Natalie Portman não vencer a disputa entre as atrizes é caso de Procon. O merecimento é inquestionável e a certeza só não é mais cristalina porque há sempre o fantasma das injustiças passadas, dessa vez materializado na figura de Annette Bening (que apresenta o trabalho menos notório do elenco de Minhas mães e meu pai e das indicadas nessa categoria).
Entre os coadjuvantes, Christian Bale segura a tocha de favorito por O vencedor e deve prevalecer mesmo. Tudo indica que o fato de ser antipático não irá influir. O que é positivo, embora Bale não apresente a melhor atuação do ano. Entre as coadjuvantes o cenário é mais nebuloso. A favorita ainda é Melissa Leo (O vencedor), mas a estreante Hailee Steinfield (Bravura indômita) que já era uma desafiante forte (ganhou o maior número de prêmios na temporada), além de ter mais tempo em tela, conta com a escorregada de Melissa Leo que andou cometendo gafes na campanha pelo Oscar. Amy Adams (O vencedor), a melhor da categoria, também é uma forte sombra.

Amy Adams e Christian Bale em cena de O vencedor: eles podem ser oscarizados no próximo domingo


O melhor do resto

A candidatura do mexicano Biutiful a melhor produção estrangeira foi impulsionada pela indicação de Javier Bardem ao Oscar de ator. Se o filme vinha escorregando nas premiações periféricas, recupera aqui o protagonismo. Mas como ser favorito não é bom negócio nessa categoria, o Oscar deve ficar mesmo ou com o canadense Incêndios ou com o dinamarquês Em um mundo melhor. Entre os documentários, Trabalho interno – apesar da estética jornalística - deve prevalecer. Exit Through the gift shop, sobre um famoso –ainda que anônimo - pichador francês, parece uma opção mais viável do que o anglo-brasileiro Lixo extraordinário.
O discurso do rei deve beliscar algumas categorias técnicas de A origem, assim como Alice no país das maravilhas. O veterano Roger Deakins pode engrossar a lista de não premiações a A origem se prevalecer por seu belo trabalho em Bravura indômita. Em sua nona indicação, já está na hora de um dos melhores fotógrafos em atividade no cinema atual ser reconhecido. Para variar, azar da turma de Nolan.

2 comentários:

  1. Excelente análise, Reinaldo!

    Acho que a lista de indicados ao Oscar 2011 mostra uma variedade e um padrão de qualidade que MUITO me agrada. Muito satisfeita com essa lista do Oscar, independente daquelas ausências que a gente sempre lamenta em ocasiões como essa. E que venha o Oscar! :)

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  2. Kamila: Obrigado Ka. E que venha o Oscar! Bjs

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