domingo, 28 de fevereiro de 2010

OSCAR WATCH - Contexto

Por que esses dez filmes?

Judeus, guerra, Iraque, alienígenas, ficção científica, crise econômica, relacionamentos amorosos, Tarantino, George Clooney, James Cameron, 3D, mulheres e audiência. Essas são as palavras chaves para definir os filmes selecionados para a disputa de melhor filme. O escopo, esse ano, é maior; uma vez que são 10, os indicados a melhor filme. É inegável que a academia sempre elabora um comentário sobre o estado das coisas na sociedade com o anuncio dos principais filmes concorrentes ao Oscar. Pelo menos a critica em geral, e a americana em particular, enxerga essa disposição todos os anos. Assim como a escolha do vencedor nunca se dá puramente por méritos artísticos. O melhor filme no Oscar é fruto de uma combinação de interjeição política e social, campanha de marketing assídua, baixo índice de rejeição e, sim, qualidade artística.
De ano para ano, varia o grau de influência de um desses fatores. Mas invariavelmente, a escolha do melhor filme do ano se dá em virtude da combinação desses aspectos.


Cena de Amor sem escalas: relacionamentos amorosos e crises financeiras pautam uma história sobre o nosso tempo

Depois de Bush e de Obama...
Os favoritos do ano são Avatar, um mega sucesso de bilheteria que acena com uma tecnologia capaz de fazer os estúdios de cinema faturarem mais, pelo menos no curto prazo, e Guerra ao terror, um filme sobre a guerra do Iraque (algo ainda presente no contexto socioeconômico americano) apolítico, o primeiro filme de guerra com essa característica em anos.
Em 2007 e 2008, os dois últimos anos da era Bush, filmes com visões e perspectivas pessimistas da América (Os infiltrados e Onde os fracos não têm vez) venceram. Em 2009, na euforia da era Obama, um filme com um traço de globalização e com uma mensagem de redenção e esperança (Quem quer ser um milionário?) triunfou. Esse ano, com Obama com um índice de popularidade não mais do que satisfatório, com uma guerra no Afeganistão cada vez maior, e a do Iraque ainda longe de um desfecho, parece oportuno revisitar a guerra sem tomar partidos. Entender a fissura que a mesma causa na nossa humanidade parece oportuno. Tanto Avatar, em um viés mais fantasioso, quanto Guerra ao terror, abraçando a realidade sem pudores, se prestam a esse serviço.

Cena de Guerra ao terror: A guerra do Iraque ainda não acabou, mas o foco do cinema sobre ela mudou


Os dois lados de uma mesma moeda
Mas as semelhanças acabam aí. Os dois filmes se situam diametralmente opostos no que toca o modelo de produção cinematográfica. Também diferem quanto ao público ao qual se destinam. Avatar é o filme mais caro e de maior bilheteria da história do cinema e busca um público predominantemente jovem e entusiasta de tecnologia. Guerra ao terror é um filme barato, que sofreu para conseguir distribuição e que quase ninguém viu. Ambos mimetizam o alcance do cinema e o que o mesmo significa nesse século XXI. Não que premiar um em detrimento do outro seja uma sentença de morte de um modelo de produção (caso Avatar seja o vencedor) ou preconceito com o entretenimento para as massas (caso Guerra ao terror seja o vencedor). Mas inadvertidamente essas questões estão atreladas a decisão da academia. E é bom que estejam. É, afinal de contas, equilibrando-se entre os sucessos comerciais, os dramas independentes, os filmes de atores, os roteiros sensacionais e as inovações tecnológicas que o Oscar ajuda a dimensionar o cinema no passar dos anos.

Anúncio de Avatar na campanha para angariar indicações ao Oscar: o 3D busca o aval da academia

Sempre os judeus
Educação, Um homem sério e mais compulsoriamente Bastardos inglórios, trazem em seu âmago elementos que abordam o judaísmo e seu espaço-tempo de forma bastante elaborada. O Oscar, talvez por que Hollywood e o cinema em uma escala mais ampla sejam um negócio bem judeu, sempre conferiu destaque a filmes que se dedicassem ao jew living status. Esse ano, os três filmes que iluminam o universo judeu são de uma eloquência ímpar. Em Educação há o breve, e subliminar elemento anti-semita, algo que assim como ocorre no filme, ocorre na vida. O anti-semitismo nunca é declarado. Um homem sério foca a comunidade judaica. Suas idiossincrasias e reminiscências. Em Bastardos inglórios, Tarantino oferece uma catarse judaica como nunca se vira antes. E se tirássemos os escalpos dos nazistas? Se espalhássemos o terror entre eles como eles fizeram conosco? Se matássemos Hitler em um cinema?
Os judeus e seus anseios nunca foram tão bem assistidos pela academia.

Cena de Bastardos inglórios: E se?

O amor, a audiência e o gênero maldito
E o Oscar precisa fazer as pazes com a audiência. Nos últimos 20 anos, as cerimônias que mais tiveram audiência foram as de 1998 e 2004. Não por coincidência os anos dos triunfos de dois blockbusters. Titanic e O senhor dos anéis: o retorno do rei respectivamente. Essa é a única razão de filmes como Avatar e Um sonho possível estarem entre os indicados a melhor filme. Atrair a atenção do espectador comum para a cerimônia.
Por outro lado a academia reconheceu a excelência de um gênero sempre preterido, a ficção cientifica. Distrito 9, uma poderosa parábola sobre preconceito, e Avatar. A maturação do amor, o mais nobre e dolorido dos sentimentos, também chama atenção nos selecionados desse ano. Amor sem escalas e Educação tratam do tema com sobriedade e sofisticação.
Cena de Educação: o amor é um dos fragmentos no caminho da maturidade

Os dez filmes do Oscar desse ano significam muita coisa. Indelével, no entanto, é que com cinco fica mais fácil saber o que a academia quer dizer. O discurso não se dilui. Assim como a qualidade dos indicados.

6 comentários:

  1. Quem merece ganhar o Oscar mesmo é Megan Fox! Por que não existe atriz mais marcante que ela, e sim, leve para o mal caminho!
    =D

    Agora sem brincadeiras... Sinto que no futuro comentarão sobre a injustiça contra Bastardos Inglórios nessas premiações. Tirando Waltz, o filme não está sendo reconhecido.

    A disputa mesmo deveria estar acontecendo entre Guerra ao Terror e Bastardos Inglórios, e não entre o primeiro e Avatar. É incompreensível Avatar estar nessa disputa. Essa comissão do Oscar usa coisas ilícitas... Só pode!

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  2. Bela análise. Acho que a briga estava entre Avatar e Guerra (com uma vantagem para o último), mas de uns tempos para cá minha paixão por Bastardos tem falado mais alto e ele roubou minha torcida.

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  3. Excelente análise. Como você bem disse, a briga pelo Oscar de Melhor Filme está mesmo entre "Avatar" e "Guerra ao Terror", dois filmes que são diametricalmente opostos um ao outro. Eu acho que, no momento, a vantagem toda é de "Guerra ao Terror", mas vai saber o que o escândalo do e-mail do produtor lá vai fazer ao filme!

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  4. Raphael: Ótima essa Rafa! rsrs Tb gostaria de ver a vitória de Bastardos, mas acho que vai ser dificil. Nessa altura do campeonato, me contentaria com o fato de Avatar não vencer. Seria um desserviço ao cinema. ABS

    Luis Galvão: Obrigado. Pois é, ah esses bastardos... Abs

    Kamila: Obrigado Ka. Acho que o famigerado e-mail pode pesar sim, mas no fundo acho que não vai mudar muito a coisa de figura não. Quem viu Guerra ao terror e prefere o filme, deve votar normalmente. Muda o voto quem ia votar em guerra ao terror para avatar não ganhar. Esses são os votos que podem fugir. Vamos esperar para analisar. Bjs

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  5. Apesar de ter adorado Guerra ao Terror, estou torcendo por Bastardos Inglórios. Mas sei que não vai rolar. O filme é ousado, crítico e bem-humorado, tudo o que a Academia não é.
    Mas se Guerra ao Terror perder para Avatar... aí eu vou ficar muito p* da vida. [nada contra James Cameron. hehe] mas não acho o filme essa coca-cola toda.
    bjos

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