sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Cantinho do DVD

Para inaugurar essa nova coluna, o melhor dos destaques. Gran torino, filme eleito - por este blog - o melhor a ter sido exibido em salas brasileiras no ano de 2009, tem a chance de ser resenhado qui em Claquete (uma vez que foi lançado antes do surgimento do blog). O filme, que já está disponivel em DVD, reúne todos os predicados para estrelar essa coluna de abertura. É um filme de grande qualidade e que goste-se ou não dele, é essencial para entender as transformações pelas quais passam os EUA e, consequentemente, seu cinema.





Critica - Filme testamento!

Em 1992, Clint Eastwood surpreendeu meio mundo ao faturar o Oscar de direção e filme por um Western sombrio e revisionista. Os imperdoáveis, era o primeiro sólido indício do estupendo autor, cineasta e teórico da América que se formava. Dali em diante vieram mais reconhecimento, o Oscar de direção e filme mais uma vez, e muito clamor de critica e público.
Aos 79 anos, Eastwood alcança com Gran Torino (EUA 2008) a maior bilheteria de sua carreira e, novamente, cai nas graças da critica. Com todo o mérito do mundo é bom que se diga. Em Gran Torino, Eastwood volta a atuar após 4 anos, seu último trabalho como ator havia sido no premiado Menina de ouro, e segundo o próprio pela última vez, já que pretende se dedicar somente a carreira de diretor daqui para frente. E que despedida.
Na fita, Eastwood vive Walt Kowaski. Um veterano da guerra da Córeia, recém enviuvado que além do patriotismo exacerbado, cultiva também o mais brutal preconceito racial e mantém-se alinhado a valores e tradições que parecem não caber mais no mundo. Prova da inadequação de Walt, é o Ford Gran Torino que mantém sob extremo zelo em sua garagem. O simbolismo do carro excede a pura nostalgia e sintetiza o caráter de Walt. Eis que depois que um vizinho da etnia Hmong em um ritual de iniciação de gangue tenta roubar-lhe seu Ford Gran Torino, para depois da mal sucedida tentativa, ser salvo por Walt de seus insatisfeitos algozes, surge uma bela amizade que vai proporcionar a Walt uma experiência não só redentora como também revigorante, educativa e até mesmo terapêutica.
Gran Torino é eloquente em muitos aspectos. Mais é inegável que sua maior força reside no poderoso comentário que tece sobre uma América agonizante em meio a tantas mudanças. Sofrendo com suas crises geracionais e os conflito de valores que delas surgem. Questões periféricas como imigração, envelhecimento em uma sociedade que preza cada vez mais a juventude e orfandade são muito bem abordadas por Eastwood.
Em um último momento, Gran Torino, a exemplo de Os imperdoáveis, é também, um filme revisionista. Só que seu escopo é muito maior. Aqui Eastwood não só esfacela o mito da América como uma terra prometida e imaculada, ele destrona a politica de agressão de Bush- logo ele um republicano convicto - e desfaz o próprio mito. Muitos tem comparado seu personagem a um de seus mais emblemáticos, o policial durão da série Dirty Harry. Mas um olhar mais apurado, permitirá constatar que o Walt de Gran Torino guarda muito do William Manny de Os imperdoáveis. Estabelecendo de vez o caráter revisionista do filme.
Gran Torino têm uma força ímpar. É daqueles filmes que acompanham o espectador por um longo tempo. Em muito graças a estupenda atuação de Clint Eastwood, injustamente excluído da disputa do Oscar. Gran Torino é, por falta de uma definição melhor, um filme testamento. A renúncia de Eastwood ao ofício de atuar reitera essa percepção. O cineasta deixou o ator para trás. Filme para marcar época e marcar uma época.

6 comentários:

  1. Nossa o seu blog é muito bom você está de parabéns vou vir te visitar em seguida! tem muitas dicas de filmes e eu sempre estou em dúvidas qual comprar ou alugar!! amei mesmo!! bjoOoO
    http://noveintoxicado.blogspot.com/

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  2. Vou te visitar tb Cibelle. Obrigado pelas palavras. Beijos!

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  3. Belo post, principalmente a genialidade de comentar que Gran Torino é um filme testamento!

    Este filme é perfeitamente atual, a rendeção de um homem que pode servir de modelo a nós em outras rendenções, principalmente aquelas que teimamos não aceitar por motivos mais coletivos que individuais.

    Gran Torino tem a maravilhosa competência de Clint Eastwood e, não sei se fico feliz ou triste com o testamento, eu amo Clint atrás e na frente das telas. Espero que ele mude de idéia.

    Madame Lumière ama Walt Kowaski!

    Beijo!

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  4. Tb amo Clint madame. Tanto que, em caráter de homanagem, resolvi publicar essa critica que fiz em março, quando assisti o filme, e que não pude colocar aqui (já que só posto criticas de filmes em cartaz nos cinemas). Agora, as sextas, esse espaço trará criticas minhas para filmes que estão disponíveis em dvd e que não foram resenhados aqui em Claquete.
    Bjs

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  5. Oi Monsieur, que bom que você vai criticar estes filmes, eu já havia percebido que suas resenhas são de filmes quentíssimos em cartaz, tenho muita curiosidade de saber o que pensa de outros filmes que ainda não foram resenhados. Excelente notícia! beijo

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  6. Fico feliz que tenha gostado da notícia e dessa nova coluna madame. Bjs

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