terça-feira, 19 de julho de 2011

Claquete repercute - Avatar


Talvez seja cedo para Avatar figurar nessa seção. Não se passaram nem mesmo dois anos que o épico adornado e idealizado por James Cameron arrebatou público e grande parte da crítica nos cinemas. A produção que levou quase uma década para ser produzida e que arrecadou U$ 2,8 bilhões nas bilheterias, no entanto, já teve um relançamento nos cinemas e desencadeou uma espécie de corrida à lua (no caso o 3D) entre os estúdios de cinema. Avatar também possibilitou um crescimento do ganho real de Hollywood com a venda direta de tickets e recuperou os bons tempos em que famílias iam ao cinema para prestigiar um filme de aventura com forte identidade narrativa e moral conectada com seu tempo. É o caso da cria mais preciosa de James Cameron, o homem por trás de Titanic e O exterminador do futuro.
Avatar, porém, não rendeu a glória dos Oscars que Cameron tanto projetava. Indicado a nove prêmios da academia, incluindo filme e direção, a fita foi derrotada por Guerra ao terror – dirigido pela ex-mulher de Cameron, Kathryn Bigelow. Uma derrota clamorosa de qualquer ângulo que se observe.
Mais doída porque analistas apostavam na consagração de Avatar, um filme que adornava a indústria do cinema com toda a sua ostentação. Avatar era colossal do ponto de vista da produção, do marketing e da penetração. Desde o dialeto Na´vi criado por linguistas para o filme, passando pela fauna cuidadosamente elaborada por uma equipe supervisionada pelo próprio Cameron e por uma campanha de marketing que torrou milhões na produção de especiais de tv e em viagens promocionais como a que Cameron fez à Amazônia com o filme ainda nos cinemas. Avatar, apesar de azul, era verde. A consciência ecológica do filme casava com a moda da sustentabilidade tão em voga em multinacionais e em condomínios à beiramar.
Os críticos de Avatar enxergavam na releitura da história de Pocahontas, um oportunismo atroz disfarçado pela inegável inovação tecnológica apresentada pelo cineasta. Até mesmo essa inovação se provou de menor impacto do que o avassalador marketing prometia. Mas Avatar era um filme movido por uma indústria que precisava de um filme com essas características para continuar em movimento. É o que genial Christopher Nolan provou em dois de seus melhores filmes (O grande truque e A origem) ser uma “ilusão” ou uma “ideia”, para quem se prende em conceitos.
Toda essa engenharia prescinde dos Oscars que não vieram. Eles afagariam o ego inflado de Cameron que, no final das contas, saiu consagrado mesmo sem os prêmios - quebrar o próprio recorde de bilheteria é mais vistoso do ponto de vista da indústria.
O filme propriamente dito não faz jus à bilheteria esmagadora. Embora a trajetória de Jake Sully (o australiano Sam Worthington) seja bem delineada e muito bonita. Deficiente físico, o rapaz é apresentado à oportunidade de andar através de seu avatar em um planeta nocivo ao homem: Pandora. Lá, a velha história dos colonizadores contra os bons selvagens será recontada com o devido adendo de uma história de amor. Muito se falou da boa atuação de Zoe Saldana que dá voz e movimentos a Neytiri , a Na´vi que se apaixona pelo humano que se finge Na´vi. Avatar é essencialmente idílico na sua capacidade de dialogar com o espectador e mesmerá-lo com um conto de genuína excitação romântica. É impossível manter-se inerte quando o herói assume seu destino (e o seu lado) em uma batalha que antagoniza mais do que visões de mundo, ativos como honra, amor, solidariedade e humanidade.

Concebendo Pandora: James Cameron à frente do fundo verde responsável pelo azul dos Na´vi de Avatar


James Cameron gostar de exaltar seu filme como anti-bélico. Na verdade não o é. É uma demonstração eloquente do poderio americano. Seja no campo do soft power (influência cultural) ou no hard power (militarismo). Os Na´vi não seriam capazes de subjugar o ataque humano sem a presença do americano Jake Sully. Um americano renegado, aleijado e disposto a abraçar uma nova vida (nova identidade), mas ainda assim um americano. Portanto, a pecha de antiamericano (acreditem, levantaram essa bola por aí) não cabe à Avatar.
Como não cabiam os Oscars. Avatar é a mais perfeita tradução do gigantismo de Hollywood. É cinema em sua magia mais rarefeita. Deve ser louvado por isso. Os aparentemente inatingíveis U$ 2,8 bilhões que arrecadou nas bilheterias o habilitam a referência em termos de negócio e entretenimento, mas não lhe outorgam a classificação de excelente enquanto cinema. O filme é, para fechar com indisfarçável figura de linguagem, um avatar de uma Hollywood conquistadora.

8 comentários:

  1. Muito bom, gostei da sua linha de pensamento sobre o filme. Particularmente, adoro Avatar, é um dos maiores espetáculos do cinema nos últimos sei lá quantos anos.

    http://cinelupinha.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  2. Acho que uma das boas coisas de blogs é que passamos a conhecer outros bons blogs graças aos comentários.

    Bom, como não sou fã de Avatar (aliás, muito pelo contrário), nem vou comentar o post em si, mas elogiá-lo! ^^

    Visitarei sempre.

    ResponderExcluir
  3. Ao mesmo tempo em que foi grandioso nos cinemas, Avatar parece estar destinado ao esquecimento na televisão. É um espetáculo visual, sem dúvida, mas deixa um pouco a desejar como filme.

    ResponderExcluir
  4. Grande texto Reinaldo, me fez refletir aqui. Adoro quando você discuti o mesmo filme em várias e diferentes colunas apresentando outras discussões pelo mesmo ponto de vista.
    Concordo que o recente mega blockbuster de Cameron não merecia Oscar e tampouco merece louvações artísticas, só é louvável esse mundo físico e os gastos milionários arrecadando bilhões. Como filme, prefiro até mesmo a premissa de O Exterminador do Futuro onde existia um Cameron mais anarquista, agora ele tem dinheiro demais.

    Acho que Titanic foi o máximo na arrecadação de prêmios que ele poderia receber, porque não era um filme de ficção científica (apesar de ele fazer de Titanic um filme quase futurista com toda aquela obsessão masculina pelo tamanho, rs). Pelo visto Cameron irá continuar com filmes como Avatar e propor super-espetáculos e o desejo de se ir ao cinema. Só isso vale o ingresso, além do que o tema ecológico é um assunto que merece atenção, e mais atenção que qualquer filme do Cameron de Titanic em diante não há. Fazer o quê não é? Vamos continuar dando mais lucro a esse ousado e suntuoso cineasta.

    Abs.
    Rodrigo

    ResponderExcluir
  5. Acredita que ainda não vi o filme? Então...

    ResponderExcluir
  6. Eu acredito que "Avatar" vai mais figurar como um filme que marcou seu nome na questão da linguagem cinematográfica, provando os limites inexplorados que a linguagem ainda pode enfrentar. James Cameron é um visionário e isso é provado pelo que ele alcançou em termos visuais e dos equipamentos que ele desenvolveu para alcançar isso. O legado de "Avatar" é justamente esse.

    ResponderExcluir
  7. "Um americano renegado, aleijado e disposto a abraçar uma nova vida (nova identidade), mas ainda assim um americano." Exatamente, Reinaldo, li uma crítica na época dizendo que Avatar perdeu o Oscar porque valorizava os Na´vis, enquanto Guerra ao Terror valorizava o americano... E o filme é exatamente o contrário.

    Talvez, olhando hoje, seja um filme sem alma. Tem um visual lindo, mas foi formatado demais para ganhar prêmios e ser recorde de bilheteria, né? Como você apontou no texto, é tudo arrumadinho demais pensando em todos os pontos. E, cá entre nós, é mesmo Pocahontas moderna, né? kkk.

    Ótimo texto.

    bjs

    ResponderExcluir
  8. Rafael W.: Poxa, valeu Rafael. Abs

    Adecio Moreira Jr.: Concordo. Curti mesmo sua entrevista com o Cris. Seja bem vindo a Claquete.Espero que vc goste. Aqui o culto é a co cinema.Abs

    Renata: Sabe que eu penso igualzinho a vc em relação a isso?! rsrs. Obrigado pelo comentário.
    Bjs

    Rodrigo: Obrigado meu caro.Pois é, foi um erro a menos que a academia cometeu né? rsrs
    Abs

    Alan: acredito.rsrs
    Abs

    Kamila: Não acho que haja uma contribuição em termos de linguagem cinematográfica tão grande aí não Ka. Mesmo o aparato tecnológico, que é seu grande atrativo, é menor do que se fazia crer... ainda assim representa um notável avanço nas possibilidades cinematográficas.
    Bjs

    Amanda: Obrigado pelo endosso Amanda. It means a lot.
    Bjs

    ResponderExcluir