domingo, 5 de dezembro de 2010

ESPECIAL A REDE SOCIAL - Crítica

Obra- prima!

This is our time: Em A rede social, David Fincher saca sua lupa e enquadra uma geração ansiosa por relevância


David Fincher entrega um filme destinado a ser grande. Não só porque captura com propriedade a gestação de um dos maiores fenômenos de nosso tempo (o impacto das redes sociais), mas por que o faz com sofisticação e sentido alinhados á ideia e personalidade retratadas. A rede social (The social network, EUA 2010) dialoga com o clássico e o moderno com efervescência tão coloquial como se fosse obra do acaso. As comparações com Rashomon e Cidadão Kane não são despropositadas. Fincher, calcado no excepcional roteiro de Aaron Sorkin, ratifica sua narrativa na pluralidade dos pontos de vista do litígio que se apresentou sobre a propriedade do Facebook. Em momento algum nos é apresentado apenas uma versão sobre quem é Mark Zuckerberg ou de como o Facebook se tornou a barreira entre ele, seu melhor amigo Eduardo Saverin (um fantástico Andrew Garfield) e os colegas de universidade que se sentiram lesados por Mark - os gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss (Armie Hammer) e Divya Narendra (Max Minghella).
Fincher vai e volta no tempo, pormenorizando situações e diálogos a partir das perspectivas das partes envolvidas. O mais importante de tudo: sem promover julgamentos. A crescente sensação que acomete o espectador sobre a dubiedade moral de Zuckerberg é algo muito bem abalizado pela cena final em que uma das advogadas do time do presidente do Facebook (Rashida Jones) explica sobre como, em um júri, ela fácil e habilmente plantaria dúvida sobre a idoneidade do réu, no caso Mark, e de como essa dúvida seria suficiente para que o resultado do julgamento não lhe fosse favorável. É sob essa perspectiva que A rede social se inscreve. Faz as perguntas e lança as dúvidas para que o espectador se resolva pelo que testemunhou no filme.

A fórmula do sucesso: Andrew Garfield é dos que mais brilham em um elenco coeso e pulsante


É preciso acrescentar, ainda, que o filme é um elaborado estudo de personalidade. Não é porque Fincher resiste a nos dizer quem é Mark Zuckerberg (pelo menos o personagem escrito por Aaron Sorkin) que ele não nos provê algumas pistas sobre esse sujeito. Pode-se detectar inveja, pode-se detectar uma baixa auto-estima, entre outras coisas, mas o que Fincher realmente sugere com seu filme é que toda uma geração busca mais do que dinheiro, relevância.
A competição está na alma do filme. Seja por acompanharmos um reduto elitista (afinal, o Facebook surgiu em Harvard), seja por termos dois personagens atletas e outros que se ressentem de não sê-lo, ou pelo fato de que todos eles são, de alguma maneira, pessoas vingativas e gananciosas.
Ao enquadrar toda essa ambiência como um filme de época (embora os eventos mostrados sejam recentes, a condução da trama pressupõe um distanciamento temporal), David Fincher saca de sua cartola um filme a frente de seu tempo. O diretor teve a ousadia de conceber uma obra avaliando historicamente uma geração que ainda tem muito a produzir (e quem sabe a destruir também).

5 comentários:

  1. Espero assistir ao filme nesta semana, por isso, nem lia a crítica inteira. rsrs.

    Beijos! ;)

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  2. É um belo exemplar fílmico mesmo, e nos faz pensar. Vi ontem pela segunda vez e pude confirmar o quanto ele funciona bem.

    bjs

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  3. REINALDO: A Rede Social é sobretudo um filme com diálogos ríspidos como se os personagens estivessem blogando em suas vidas offline!

    Um filmaço que vou rever. Adorei as digressões temporais e o perfil de cada personagem ali apresentado.

    Muitos amigos, alguns inimigos. Ops, na verdade nenhum amigo, muito dinheiro e uma rede social!

    Abs.
    Rodrigo

    Aliás te dei um selo. Vá colher o fruto. O Claquete merece!

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  4. wow!
    bela crítica! Sucinta e perfeita. Em poucas palavras, fez um belo resumo do significado desta bela obra. Só faltou o espaço para assinar embaixo.

    reassistirei amanhã (pretendo). E crítica no meu blog é por questão de tempo ;)

    só pra discordar de um texto que reflete integralmente a minha opinião, só tiraria uma palavra: "fantástico", quanto tu se refere a Andrew Garfield rs. Ele está bem, assim como o resto do elenco, e esse adjetivo, eu adicionaria antes do nome de Jesse Eisenberg =)


    E aproveitando a deixa, poxa, Reinaldo, muito obrigado pelo Prêmio Dardos, cara. Uma honra mesmo. Fico muito feliz, ainda mais vindo de você.

    Sucesso pra nós!

    abraço!

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  5. Mayara: Essa sua mania de só ler críticas depois de ver o filme... aiaiai
    bjs

    Amanda: Funciona muito bem mesmo. Bjs

    Rodrigo: Primeiramente obrigado pelo selo (e pela homenagem que nele vem embutida). A Quanto ao filme, é isso mesmo. fincher criou um filme muito dinâmico e cheio de minúcias. É um prazer assistir esse filme que passa como um flash. Abs

    Elton: Sucesso para nós. Quanto ao prêmio, vc merece cara!
    Obrigado pelos elogios. O filme é, na minha avaliação, o filme do ano mesmo. Pelo menos a ter estreado em terra brasilis em 2010. Acho que Eisenberg está sensacional e não por acaso tem seu nome quase certo na briga pelo Oscar (ainda que largue atrás na disputa). Mas creio que Garfield é quem opera o milagre mesmo. Isso pq o personagem de Eisenberg é melhor. Mais profundo (recebe mais atenção do roteiro) e tem os melhores diálogos. Garfield faz muito com menos. Não que ele tenha pouco para trabalhar, mas em comparação com Eisenberg, sai ganhando pela soma dos fatores entende?!
    Aliás, acho que os dois vão ao Oscar.

    Aquele abraço!

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