quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Crítica - Como não perder essa mulher

Sociedade no divã

Joseph Gordon-Levitt há muito tempo é um ator interessante. Daqueles que não se recomenda desviar o olhar. Eis que sua estreia na direção com Como não perder essa mulher (Don Jon, EUA 2013), em que também é o responsável pelo roteiro, além de protagonista, sugere um artista muito mais completo, pensativo e talentoso do que se percebia até então. A comentada estreia de Levitt é muito mais ambiciosa do que o infeliz título nacional oferece. Não se trata de uma comédia romântica com algo a mais, no caso um hype em cima do vício em filmes pornôs do protagonista.
Levitt vive Jon, um jovem adulto que carrega o estereótipo da atual geração que tem no individualismo a sua maior conquista. Logo no início Jon elenca suas prioridades na vida. Seu corpo, seu apê, seu carro, sua família, seus amigos, suas garotas e seu pornô. Nesta ordem! 
Jon é afável, esperto e não tem problemas em conseguir garotas, no entanto, não se sente satisfeito com o sexo que pratica com frequência maior do que muitos “dons juans” do lado de cá das telas. Apenas vendo filmes pornôs, Jon obtém um prazer mais definitivo. Ele não vê problemas nisso, até esse hábito tornar-se o catalisador da separação de Barbara (Scarlett Jonhansson), “a garota mais linda que ele já viu na vida” e que realmente havia mexido com Jon. Para tentar entender o rigor, e o ridículo, da situação, Jon acaba se aproximando de Esther (Julianne Moore), uma mulher madura que identifica nele aquilo que ele tenta a todo custo esconder, sua fragilidade emocional.

Jon em ação para conquistar Barbara... 

... e em ação para entender a si mesmo.

O mais interessante deste debute de Levitt atrás das câmeras é a total consciência do jovem realizador de seus objetivos e de onde chegar com eles. O paralelo entre a obsessão de Jon por aquele sexo irreal do entretenimento adulto e a forma como Barbara modela suas relações no esquema de comédias românticas hollywoodianas é um achado que reafirma a acuidade do comentário de Levitt sobre o status quo de nosso tempo. As pessoas vivem para si mesmas. A tônica das relações sociais contemporâneas é o egoísmo. Não há disposição de enxergar o outro e é essa evolução, dolorosamente real, a qual Jon é submetido. O final feliz, ainda que esteja por ser escrito, não será possível sem esse aprendizado. Nesse recorte, sobra até mesmo para a religiosidade que mascara essa tendência emburrecedora dos novos tempos.  
Há alguns clichês, há humor, há soluções fáceis, mas acima disso tudo há um diretor com a exata noção de como tornar um tema complexo e intrincado, palatável e sensível. Essa convicção beneficia Como não perder essa mulher, configurando-o em um filme muito mais reflexivo, questionador e perene do que uma análise superficial faz supor. 

3 comentários:

  1. Estava super curiosa para ver a sua análise do filme: adorei a resenha! Vida longa à Claquete :D

    ResponderExcluir
  2. Poxa, obrigado! Feliz que vc gostou da resenha. Vida longa à Claquete!
    bjs

    ResponderExcluir
  3. De fato, o filme surpreendo por passar uma mensagem diferente do esperado em toda comedia romântica, mas prefiro as frescuras irreal que tira suspiros e lagrimas dos telespectadores. Sem querer tirar o mérito da realmente boa atuação dos personagens e direção, deixo claro que se eu quiser ver experiência de vida, assisto filmes baseado em fatos reais.

    ResponderExcluir