quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

OSCAR WATCH 2011 - A peleja dos diretores

Da esquerda para a direita: Darren Aronofsky (Cisne negro), David Fincher (A rede social), Tom Hooper (O discurso do rei), David O. Russell (O vencedor) e Ethan e Joel Coen (Bravura indômita)



O bem aventurado


David Fincher só tem oito filmes no currículo. Mas a qualidade com que exerce seu ofício sugere pelos menos cinco vezes esse número. O diretor de A rede social merece reconhecimento da indústria do cinema faz tempo. Pode obtê-lo por seu trabalho mais contido, mas não menos genial.


Prós:
+ Ganhou a maioria dos prêmios da temporada
+ Ganhou dois dos principais prêmios da Oscar season (Globo de ouro e critic´s choice awards)
+ É um trabalho artesanal de direção. Dos filmes dirigidos por Fincher é o que ele menos interfere como autor
+ Está a frente do filme mais premiado da temporada
+ Pode se beneficiar do consenso de que é preciso premiar um dos diretores mais autorais e capacitados do cinema americano atual
+Pode se beneficiar de uma divisão de prêmios entre O discurso do rei e A rede social. Configurando-se em uma escolha mais viável por ser um diretor mais tarimbado



Contras:
- É antipático
- Perdeu o prêmio do sindicato para o rival Tom Hooper
- Diferentemente dos outros candidatos não se engajou no prêt-à-porter da campanha pelo Oscar e preferiu tocar as filmagens de The girl with the dragon tattoo
- Não é seu melhor trabalho de direção e esse referencial pode pesar
- Perdeu há dois anos com um trabalho superior e com uma concorrência inferior


Segunda indicação
Indicação anterior: Melhor diretor por O curioso caso de Benjamin Button (2009)


A opção conservadora


Tom Hooper vem da TV e dos telefilmes de época. Quem acusa O discurso do rei de parecer uma produção da BBC cita as credenciais de Hooper para dar suporte a acusação. Apesar da intriga, Hooper mostra competência em urdir um filme de época, sobre a família real britânica, e revesti-lo de componentes tão cômicos quanto dramáticos. É um registro cuidadoso que, se não salta aos olhos, também não macula a lista dos candidatos do ano.


Prós:
+ É inglês e depois dos americanos, eles são os grandes vencedores nessa categoria
+ Ganhou o aval do sindicato dos diretores. De todos os sindicatos é o que detém maior percentual de acertos no Oscar
+ Apresenta o tipo de trabalho acadêmico que agrada a maioria dos votantes
+ É uma direção calcada na ausência de rompantes estilísticos. É o único dos trabalhos indicados nesses termos
+ Está a frente do filme que lidera a disputa pelo Oscar


Contras:
- É relativamente inexperiente em cinema. O discurso do rei é apenas seu terceiro filme. A academia pode julgar precipitado honrá-lo
- É uma direção calcada na ausência de rompantes estilísticos. É o único dos trabalhos indicados nesses termos
- Concorre com figuras mais famosas e admiradas pela indústria
- Perdeu o Bafta que sempre entorna para os ingleses, o que pode ser encarado como um balde de água fria


Primeira indicação


O ilusionista

Darren Aronofsky é, da lista, o maior interventor. Cisne negro foi concebido a sua imagem e semelhança, artisticamente falando. Há quem aprecie isso e há quem deteste. Aronofsky alimenta a dualidade com gosto. Uma direção vistosa, pouco sutil e polarizante, mas incrivelmente vibrante e simbólica. Pode não ser o mais sofisticado trabalho de direção do ano, mas é seguramente o mais inesquecível.


Prós:
+ É o diretor que mais intervenções estéticas fez em seu filme, dentre os indicados
+ Se apresenta com o trabalho mais autoral entre os concorrentes
+Seu filme reúne muitos admiradores entre os membros votantes


Contras:
- É um trabalho de direção pouco sutil. É raro o Oscar agraciar esse perfil de direção
- Está a frente de um filme sombrio e cheio de referências cinematográficas que, apesar de admiradas, não renderam prêmios
- Como os holofotes estão todos em Natalie Portman (estrela do filme), um reconhecimento a Aronofsky seria improvável


Primeira indicação


American legends


Nada melhor do que afagar o irascível e pensativo cinema dos irmãos Coen, esse patrimônio do cinema americano, quando eles prestam uma bela homenagem ao gênero mor da cinematografia ianque, o western. Bravura indômita não é só superior ao filme original de 1969, é um filme com alma. E os Coen souberam iluminá-la perfeitamente.


Prós:
+ Dos indicados são os que reúnem uma base mais sólida de fãs entre os votantes
+ Já receberam um Oscar e, é sabido, que para a dimensão de sua obra, um Oscar é pouco
+ Representam a aposta mais segura e, menos contraditória (vide Tom Hooper), para eleitores conservadores
+ A boa bilheteria do filme pode render um poder de sedução inevitável para os fãs dos Coen


Contras:
- Não é o melhor trabalho da dupla e até eles sabem disso
- Ganharam o Oscar há três anos atrás e não é comum reincidência tão breve na academia nos tempos modernos
- Não ganharam nenhum prêmio na temporada



Décima quarta indicação (também concorrem como roteiristas e produtores) e terceira nomeação na categoria
Indicações anteriores: melhor edição, direção e roteiro original por Fargo (1997), melhor roteiro original por E aí meu irmão cadê você? (2001), melhor edição, direção, roteiro adaptado e produção por Onde os fracos não têm vez (2008), melhor roteiro original e produção por Um homem sério (2010)
Vitórias anteriores: melhor roteiro original por Fargo (1997), melhor direção, roteiro adaptado e produção por Onde os fracos não têm vez (2008)



O desafiante


David O.Russell não é um grande diretor. Apesar de sempre ter se mostrado eficiente em seus trabalhos, ao lado de Tom Hooper é o patinho feio da lista. Em O vencedor, por seu trabalho mais convencional, Russell recebeu uma, até pouco tempo, improvável indicação ao Oscar. Nada mal para quem só tem 4 filmes no currículo. A presença no Oscar pode redirecionar os rumos da carreira de Russell e colocá-lo no caminho da grandeza. Potencial ele tem.


Prós:
+ Sua direção é econômica e eficiente. Em um ano que a academia acena para o tradicional, Russell rezou a missa direitinho
+ Realiza ótima direção de atores sem perder de vista o senso estético, uma qualidade que salta aos olhos em O vencedor


Contras:
- É um sujeito beeem antipático
- É uma direção muito convencional
- A força do elenco se impõe, com todos os méritos, ao trabalho de Russell
- a pecha de que a indicação já é suficiente

Primeira indicação

4 comentários:

  1. OI, Reinaldo! Que ótimo estava esperando a minha peleja favorita aqui, a dos filmakers!

    Fincher: O cara que começou fazendo clipes,errou na estréia com Alien ³ e depois acertou em fitas policiais,de suspense e dramáticas de grande impacto. Hoje ele é mais do que eficiente, um verdadeiro artesão do cinema. Um pouco Sidney Lumet.

    Aronofsky e os Coen: Autores visuais. Cinema de patente e mais autoral. Filmes como Requiem Para Um Sonho e Fargo marcaram uma década.

    David O Russell: o patinho feio (rs) realizou só outra fita boa, Três Reis. Mas como Malick e Martin Brest, ficou preguiçoso. Não merece, apesar de tb achar que ele tem talento.

    Tom Hooper: me lembra um pouco o Daniel Filho. Nao acha? Rs!Para ele cada filme no seu quadrado. Não sei o que impressionou a Academia, mas enfim.

    Mesmo não tendo Christopher Nolan e nem Danny Boyle, uu acho que a disputa esta brava. Meus favoritos são Fincher, Aronofsky e os Coen. Se um deles levar, está ok. Simplesmente pq estamos falando de três filmes que empatam na excelência.

    Abs.
    RODRIGO

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  2. Bela análise. Ainda lamento a ausência de Christopher Nolan e acho que tá mais para
    David Fincher mesmo. Ficaria muito feliz se Darren Aronofsky levasse. hehe.

    bjs

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  3. Acho que foi O. Russell que roubou a vaga do Nolan ou os Coen, rsrs. Mas, por falta dele aposto em Fincher, apesar de Aronofsky merecer também.

    Beijos! ;)

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  4. Rodrigo:Complementaste com brilhantismos esses aforismos aqui de Claquete meu caro. Te agradeço! Abs

    Amanda:Para mim,Aronofsky foi o melhor diretor do ano. Mesmo que Nolan estivesse na disputa... bjs

    Mayara: Foi Russell Ma. A direção dele é a menos, digamos, qualificada para constar dessa lista. Bjs

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