segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

OSCAR WATCH 2011 - Cenas de Cinema: 83ª cerimônia do Oscar

A era de Harvey Weinstein
O momento em que Colin Firth lhe faz uma deferência e Harvey Weinstein lhe sorri com pose de poderoso chefão é antológico. Mais do que qualquer coisa, Harvey Weinstein sabe como vender um filme. O homem que dominou o Oscar nos anos 90 (e fez com que uma comédia triunfasse sobre um filme de guerra) novamente emplacou um filme fraco como o melhor do ano. O discurso do rei prevaleceu com 4 Oscars (filme, direção, ator e roteiro original) em uma noite que o único que parecia saltitar de satisfação era o poderoso chefão.


A era de Harvey Weinstein II
Interessante imaginar como será o Oscar quando Harvey Weinstein não mais estiver por aí. É pacífico que as campanhas continuarão e, provavelmente, serão ainda mais refinadas e agressivas. Contudo, dificilmente um produtor conseguirá reproduzir os ganhos de Weinstein. O homem que consegue elevar filmes medianos a Oscar winners.


A era de Harvey Weinstein III
Para se ter uma dimensão da influência, prestígio e escárnio de Harvey Weinstein, basta se ater ao clipe dos indicados a melhor filme. Com o off do discurso do rei George de Colin Firth, os coadjuvantes da noite eram apresentados em vultos que se inferiorizavam ante o grande momento do filme bancado por Weinstein. Muitos acharam uma bandeira da academia antecipando o vencedor da categoria. Não era o caso. Era Weinstein marcando o território. Tripudiando mesmo!


Juntando-se a Cidadão Kane


Coube a Steven Spielberg o tapa com luva de pelica. Escalado para entregar o Oscar de melhor filme, o diretor lembrou que um dos concorrentes se juntaria a filmes como Como era verde meu vale e Franco atirador, enquanto que os outros nove se juntariam a obras como Touro indomável, Rede de intrigas e Cidadão Kane. A inclusão desse filme em particular diz muito sobre o juízo que Spielberg faz dessa edição do Oscar. E não só ele.


Sobre uma má escolha

E demorou para chegar a este comentário. Isso por que, conforme as expectativas, James Franco e Anne Hathaway decepcionaram como apresentadores da 83ª cerimônia do Oscar. Desconectados da audiência, fora do tom, com piadas ruins e, no caso de Franco, aparentando desinteresse extremo, ambos foram vencidos pelo nervosismo. Nem a puxação de saco de Hathaway – a mais esforçada – para algumas celebridades (“grata de respirar o mesmo ar que ela”, ao apresentar Oprah Winfrey e “este é um grande momento para mim”, ao chamar Sandra Bullock para o palco) valeu de alguma coisa.


Porém...
A culpa não pode ser debitada apenas na conta deles. Apesar de em um minuto Billy Crystal arrancar mais risadas da platéia do que Franco e Hathaway em toda cerimônia, eles contaram com um péssimo texto. As piadas fracas (principalmente se comparadas a acidez de Ricky Gervais no Globo de ouro) empalideceram os atores que não conseguiram segurar o rojão de apresentar um espetáculo como a noite do Oscar.

Não deu certo: James Franco e Anne Hathaway não convenceram e receberam duras críticas pela performance apagada


A sanha dos estúdios

E Harvey Weinstein está com tudo mesmo. Das treze indicações que emplacou no Oscar (doze delas com O discurso do rei), converteu quatro vitórias. E nas categorias principais. A Warner teve bom desempenho. Com os quatro prêmios de A origem conseguiu um terço das doze indicações obtidas. Já a Paramount foi a grande derrotada da noite. O estúdio por trás dos badalados O vencedor e Bravura indômita só conquistou duas das dezoito indicações que ostentava. Uma derrota amargurada que só encontrou par no pífio desempenho das produções da Fox Searchlight. Com Cisne negro e 127 horas em disputa, o estúdio só conquistou um Oscar dos onze a que concorria. Quem teve ótimo aproveitamento, dadas as circunstâncias, foi a Universal. O poderoso e antigo estúdio só concorria na categoria de maquiagem com o filme O lobisomem. E levou.


You know...

Aos 94 anos e com profunda dificuldade para falar, Kirk Douglas foi o grande destaque da cerimônia do Oscar. O ator foi responsável pelo momento mais genuíno da noite em que na hora de anunciar a melhor atriz coadjuvante do ano segurou a tensão de todo o teatro ao engatar uma divagação com a interjeição “Vocês sabem de uma coisa...”.
Justin Timberlake, mostrando que se sairia melhor no ofício de host do que James Franco e Anne Hathaway, fez graça com a gag e a imortalizou como um dos grandes momentos dessa apagada 83ª cerimônia do Oscar.

O dono do pedaço: Kirk Douglas faz graça no palco e torna-se responsável pelo melhor momento de uma cerimônia sem sal



Sobre ironias
Não deixa de ter um componente de ironia a premiação do esquemático e tradicional O discurso do rei no Oscar em que imperaram as redes sociais. Do smartphone usado pelo apresentador Justin Timberlake (que estava no filme do Facebook) para iluminar a tela com a homenagem a Shrek às tweetadas do host James Franco e das mães dos indicados, passando por hits do Youtube com filmes tão díspares como A rede social e Eclipse. O Oscar 2011 se esforçou para atingir um público diversificado de maneira tão diversificada quanto. Mas furtou-se a responsabilidade de realmente parecer evoluído e conectado com os novos tempos.



A antisurpresa
Se podemos apontar uma surpresa no Oscar 2011 foi o fato de não ter acontecido uma. Existia a vã esperança de que a ala mais moderna da academia prevalecesse premiando A rede social ou mesmo as zebras Cisne negro e A origem, mas a expectativa real era de que David Fincher fosse sagrado o melhor diretor do ano em uma política de compensação bem característica da academia. Mas isso não ocorreu. A obviedade marcou presença e com sotaque inglês.

 
Listen to your mother!

E já que o melhor diretor do ano pelo Oscar foi Tom Hooper, não poderia haver um discurso mais formal e moralista em uma escolha mais conservadora. Hooper encerrou seu discurso lembrando que sua mãe em 2007 vira a leitura de uma peça em Londres de O discurso do rei. A matriarca disse para o filho que havia achado o material de seu próximo filme. Hooper dedicou o prêmio a mãe e fechou com a seguinte moral: “Escutem sua mãe!”



Mas antes...
Hooper fez questão de mencionar, tal qual fizera no Bafta, o triangulo amoroso que, em sua leitura, é a força motora de O discurso do rei. “Só estou aqui por causa de vocês (em referência a Geoffrey Rush e Colin Firth)... espero que essa deferência não a deixe com ciúmes (dirigindo o olhar para Helena Bonhan Carter)!”



Eternamente jovem
Tom Hooper juntou-se a Sam Mendes como o diretor mais jovem e inexperiente a ganhar o Oscar na categoria. Sam Mendes tinha 35 anos quando ganhou o Oscar por Beleza americana, então seu primeiro longa-metragem. Hooper, três anos mais velho em 2011, recolheu sua estatueta por seu quarto filme.



Nenhum deles está preso!
A bravata de Charles Ferguson, vencedor na categoria documentário por Trabalho interno, não reverberou. Ferguson aproximou-se do microfone já pedindo desculpas e emendou: “Já fazem três anos dessa crise financeira e nenhum de seus responsáveis está preso e isso é errado”, argumentou. Como uma carabina de Rooster Cogburn (personagem de Jeff Bridges em Bravura indômita) apressou-se em amolecer o discurso: “Mas isso aqui é sobre cinema”!


A Frase é...

"Quem quer explodir na indústria da música? É como um banco que já foi roubado!”,
O ganhador do Oscar Randy Newman no backstage quando indagado sobre um conselho para quem pretende explodir na indústria da música


Fucking yeah!
Melissa Leo viveu fortes emoções nessa temporada do Oscar. Depois de toda a controvérsia envolvendo sua campanha pelo Oscar, a atriz soltou um palavrão que acabou censurado pela TV americana (a transmissão do Oscar ocorre com um delay de um minuto). Forçando na emoção, Leo disse que quando viu Kate Winslet há dois anos tudo parecia mais fácil. Só que ela externou essa impressão usando a F...bomb, como ficou rapidamente conhecido o episódio


 
Playing for the audience!

Quem vê Christian Bale em seus discursos de agradecimento pelos prêmios conquistados por O vencedor nessa temporada não reconhece Christian Bale. Exibindo impensável humildade, o ator se permite algum senso de humor.”Meu deus! No meio de tanta gente inspiradora me pego pensando o que estou fazendo aqui”, declarou logo de cara ao empunhar o esperado Oscar. “Não se preocupem! Não vou soltar a F... bomb como Melissa!”, emendou para assegurar que se tratava de um Bale diferente o que ganhava o Oscar.

Senhoras e senhores, eu sou um novo homem...




Nem tão conservadora assim!
A vitória de O discurso do rei, ainda que não de forma maiúscula, deixa transparecer o ranço conservador da academia. Em contrapartida, as vitórias de Melissa Leo e Christian Bale nas categorias de coadjuvante, denotam que já há uma mudança de postura. Há quem atribua a derrota de Mickey Rourke na disputa pelo Oscar de ator ano retrasado, sua postura arrogante nos primórdios da carreira. Bale tem postura semelhante e isso não impediu sua consagração na noite de domingo (27). Eddie Murphy, por muito menos do que as trapalhadas de Melissa Leo, perdeu o Oscar de coadjuvante por Dreamgirls há cinco anos. São avanços, ainda que tímidos, notáveis.


A frase é...

"Apenas se divirta e ache o bar mais próximo!"
Kevin Spacey, duas vezes vencedor do Oscar, instruindo Jeremy Renner sobre como este deveria se comportar na noite do Oscar


De uma infância gaga ao palco do Kodak Theatre

A frase é de Tom Hooper, mas reverencia a trajetória do roteirista David Seidler. Premiado pelo roteiro original de O discurso do rei, Seidler conjeturou que deve ser o mais velho a triunfar na categoria e expressou o desejo de que essa marca não permaneça por muito tempo. Finalizou o discurso agradecendo a academia por ter dado voz aos gagos.



“Vou cozinhar bastante!”
Essa é a ideia do vencedor do Oscar de melhor ator, Colin Firth. Premiado por seu papel em O discurso do rei, o ator – antes dar essa curiosa declaração – agradeceu no palco do Kodak ao amigo Tom Ford (que o dirigira em Direito de amar) e ao mega produtor Harvey Weinstein brincando: “Divido isso (o Oscar) com você que me apadrinhou quando eu ainda era um garoto charmoso”.
 
 
Quem diria...

...Que o Globo de ouro sairia fortalecido ao final da Oscar season?! Tanto pelo reconhecimento justo e devido a A rede social quanto pelo fluxo da cerimônia em si.



A pergunta é...
O que Ricky Gervais achou da cerimônia do Oscar?

5 comentários:

  1. Ricky Gervais está rindo por últimos... James Franco bombou muito mais que ele... E o Ricky nem bombou neste ano, um detalhe importante...

    No Oscar 2011, a gente não pode reclamar da vitória de "O Discurso do Rei", porque a gente já sabia que isso iria acontecer, mas podemos reclamar do triunfo de Tom Hooper e a apresentação do James Franco (Anne Hathaway fez o que podia)! E podemos comemorar, por outro lado, as vitórias de Natalie Portman e de "A Origem", que foram merecidíssimas!

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  2. Kirk Douglas proporcionou um raro momento interessante nesta que eu considero como uma das cerimônias mais desinteressantes do Oscar. E o que foi aquele coralzinho no final? Meu Deus!

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  3. Kirk Douglas rocks! (Melissa Leo who?) rsrsrs.

    Enfim, tinha vezes que iria desistir de assistir. Vi Billy Crystal ali e torcendo para ele ficar mais um pouco, ele anda sumido. E "Somewhere Over the Rainbow" merecia uma apresentação digna de nota, aqui foi sem graça e apressada.

    Beijos! ;)

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  4. Só você Reinaldo para dar uma ótima análise crítica da mais midiática festa do cinema.

    Eu até que curti este ano, só não gostei da entrega ao prêmio de melhor diretor e filme do ano.

    Espero que ano que vem, o Oscar não faça uma homenagem RIP ao energético Kirk Douglas. Grande Homem!!

    Abs.
    RODRIGO

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  5. Kamila: Foi um Oscar honesto Ka. Quem não foi muito honesto em sua performance, como vc bem observou, foi o James Franco... bjs

    Caique: Concordo demais contigo! Abs

    Mayara: Concordo demais contigo!(2)

    Rodrigo: Kirk é dos grandes mesmo! É prévio ao próprio Oscar. A true american legend! Pois é, esses dois prêmios foram mesmo os mais insatisfatórios da noite...
    abs

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