quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

OSCAR WATCH - O dilema da academia

As indicações ao Oscar anunciadas ontem, mais do que qualquer outra coisa, demonstram o dilema que a academia de cinema se encontra. Com a polarização entre o maior sucesso comercial da história do cinema, Avatar, e o filme que carrega a pecha de ser não só o menos visto da temporada, mas o candidato ao Oscar de melhor filme menos visto dos 82 anos de Oscar. O independente Guerra ao terror não chegou nem mesmo a ser lançado internacionalmente e depois de não ter conseguido distribuição em 2008, seus produtores o lançaram em alguns cinemas de Los Angeles e nova Iorque em pleno verão americano (mais informações sobre a trajetória do filme aqui!).
A polarização entre os dois filmes revela muito mais. Ambos têm 9 indicações. Ambos receberam indicações imerecidas. Ambos são filmes originais (em um momento que Hollywood padece de originalidade) e ambos apresentam discursos que se voltam para questões pontuais da América. Como os efeitos de guerras longevas, o gigantismo militar, o ímpeto colonialista americano, a premência da sustentabilidade, entre outros aspectos.
Avatar e Guerra ao terror também emancipam os caminhos do futuro. O cinema independente ganhou força na década passada no Oscar. Os principais filmes que chegaram ao Oscar (Crash, Menina de ouro e Quem quer ser um milionário? saíram, inclusive, com a principal estatueta dourada) não vinham de grandes estúdios, mas de seus braços independentes como Fox searchlight, Focus e Warner independent. Em compensação, os números de audiência e a influência do Oscar nas bilheterias despencaram. Analistas passaram a buzinar que era necessário o Oscar rever seus conceitos, repatriar os grandes filmes de estúdio.
Se os estúdios não produziam filmes de grande qualidade que fossem dignos de figurar entre os cinco finalistas na disputa pelo Oscar de melhor filme, então que o Oscar mudasse. E o Oscar mudou. Retomou um hábito ao qual abandonara em 1943. De incluir 10 filmes entre os finalistas na categoria de melhor filme. Com isso espera-se que blockbusters de qualidade consigam um lugar ao sol. Avatar e Um sonho possível foram os escolhidos desse ano. A despeito da qualidade dos filmes, espera-se que eles alavanquem a audiência da cerimônia que anda um tanto combalida. E é justamente aí que entra o maior dilema da academia, representado na disputa entre Avatar e Guerra ao terror. Premiar o sucesso comercial, mesmo que esse não seja um grande filme, ou premiar a determinação e garra do cinema independente itinerante, mesmo que esse também não seja um grande filme. Escolher o público ou a crítica. Cada um revestiu de amor seus preferidos. Com muito dinheiro no caso de um e com muitos prêmios e criticas elogiosas no caso do outro. Todos, a sua maneira, estão a espera da benção da academia.

7 comentários:

  1. Reinaldo,
    Eu acho que a audiência levará o prêmio, infelizmente e, para ironizar mais a situação ridícula que a Academia está alimentando, penso que não há filmes excepcionais neste ano, o que torna a decisão da academia por 10 filmes um circo montado para que as pessoas dêem risadas e sorriem durante a celebração achando que o cinema está com uma bola cheia e sem remendos. O non sense é tanto que, se não há grandes filmes, porque aumentar esta lista de indicados?

    Os que têm mais conteúdo são os independentes mesmo assim duvido muito que ganhem. Milagres acontecem, mas grana e influência falam alto na Academia e James Cameron abocanhando 2 globos de ouros foi o fim da picada.

    bjs!

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  2. Só discordo quando você diz que The Hurt Locker não é um grande filme. No mais, considero essa disputa entre a Bigelow e o Cameron, uma briga entre o uso de um bom roteiro, e boa direção, ao uso da técnica/tecnologia.

    A inclusão de 10 filmes demonstra bem a política do "panis et circenses" da Academia. Esse formato vai durar muito tempo. Com ele, a Academia pode agradar a todos os gostos, o que dá mais audiência ao evento. Dessa forma, todos ficam contemplados, os queridinhos da crítica e os que tiveram melhores bilheterias. Se esse não for o raciocínio, o que The Blind Side está fazendo do lado de Bastardos Inglórios/Guerra ao Terror?

    É isso aí, Cinema também é política e dinheiro!

    Abraço!

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  3. Oi Reinaldo,
    Só complementando, há filmes muito bons como Guerra ao Terror e Bastardos Inglórios, mas quando me referi a não ter filmes excepcionais neste ano, me referi a não ter tantos filmes excepcionais para haver mais 5 vagas como melhor filme. E, não me surpreende esta atitude da Academia, eles são bem cobrados por uma Oscar tradicional e cada vez mais reconhecido, se a audiência cai, é normal eles apelarem, hoje temos tantos apelos, não é mesmo? Já basta os big brothers da vida. bjs!

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  4. Boa reflexão Reinaldo. Não sei parece que a academia anda mesmo num dilema grande acerca do futuro do Oscar. Acredito que deveriam se focar na qualidade e não nos apelos da bilheteria, mas de qualquer forma, os dois com maiores chances são bons e qualquer um que vencer estará representando bem a temporada que está acabando.

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  5. Em minha humilde opinião, o Oscar está precisando de audiência e apelam para indicações de filmes com apelo mais popular, uma exemplo agora com "Avatar" e "The Blind Side", já que o primeiro já ultrapassou a marca de 1 bilhão de dólares e o último foi um dos maiores sucessos no cinemas americanos no fim de ano. Já filmes como "Guerra ao Terror", que aqui foi vendido como um filme de guerra qualquer e foi lançado direto em DVD, pode não ter feito sucesso de bilheteria por lá, mas são os tipos de filme que a Academia gosta de premiar. Tenta ser popular, mas não vai deixar de ser conservador, infelizmente.

    Beijos! ;)

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  6. Madame: Entendi seu comentário madame, mas obrigado pela gentileza do complemento.Tb acho que não há na produção atual lugar para 10 filmes na disputa pelo prêmio de melhor filme. Talvez sete, mas 10 certamente não. O ideal mesmo são cinco. Em anos felizes como 1999 ou 2005, tivemos cinco fortes concorrentes e ainda uma consideravel leva d einjustiçados. Tb penso que esse ano foi mais fraco. Ano passado, apesar da vitória de Quem quer ser um milionário, o Oscar tinha garndes filmes como Foi apenas um sonho, Dúvida, O cavaleiro das trevas, O lutador, Gran torino (ok esse sabe-se lá Deus pq não foi ao Oscar), A troca e O curioso caso de Benjamin Button, O leitor e Frost/Nixon entre os cinco melhores. Esse ano, francamente, não vejo uma produção de tanta qualidade. Exceções feitas a Bastardos inglórios, amor sem escalas e esperanças tenho para Direito de amar, Educação e Um homem sério. Bjs

    Santiago:Cinema tb é política e dinheiro. Santa e cristalina verdade. E é bom que seja isso tb. Mantém-nos atentos, inconformados.
    Quanto a Guerra ao terror, acho-o um filme muito bom. Inclusive, como destaco no link do artigo, já o resenhei aqui. Porém, não acho o filme digno de todo esse clamor. É um eficiente filme de guerra in loco. Tenso, reflexivo e angustiante. Melhor filme de 2009.Seguramente não é. Dos 10 selecioandos, ainda não vi três. Mas duvido muito que sejam melhores do que Amor sem escalas ou Bastardos inglórios. Uma coisa, porém, é indiscutível. Guerra ao terror está milhas na frente de Avatar. ABS

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  7. Fernando: Pois é, esse dilema é recente mas tem se aprofundado com as escolhas dos últimos três anos. Creio ter atingido o ápice esse ano, daí a razão do meu post. Interessante observar como sob a presidência de determinadas figuras, a acadêmia torna-se mais receptiva a certos filmes. Repare só, sob a presidência de Sid Ganes, produtor que começou no cinema independente, a academia indicou muito mais filmes independentes do que seu histórico fazia supor. Vamos ver como será o legado de Tom Sherak. ABS

    Mayara:O espirito é esse aí Ma. Mas deixa eu te contar um segredo. Guerra ao terror só está nesse love todo por causa da critica. O filme chegou a concorrer a dois prÊmios (ator e roteiro) no Spirit awards de 2009 (pelo ano de 2008 quando o filme, se arranjasse distribuidor, deveria ter sido lançado) e não ganhou nada. A badalação de Guerra ao terror reflete duas coisas: 1 - Um ano fraco para o cinema (para os filmes, não para os negócios) e que a critica exerce sim muito mais influÊncia do que muitos gostariam de admitir em termos de Oscar. Bjs

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