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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Oscar Watch 2013 - O impacto da lista do sindicato dos produtores na corrida pelo Oscar

Cena de Moonrise kingdom: cada vez mais sério candidato a "surpresa" entre os indicados a melhor filme no Oscar 2013
 
 
Foram anunciados nessa quarta-feira os indicados ao Producers Guild Awards (PGA), prêmio do sindicado dos produtores. Entre os dez filmes lembrados, nenhuma surpresa propriamente dita. Muitos acreditam que a lembrança de 007- operação Skyfall pode ser rotulada como tal, mas Claquete já observava que o filme era o blockbuster do ano na temporada de premiações. Além de ser um ótimo filme, o último James Bond foi beneficiado por uma temporada de blockbusters decepcionantes. Sua inclusão, no entanto, não lhe assegura vaga no Oscar. Embora ela não possa ser descartada justamente pela cota dos filmes blockbusters no prêmio da academia. Ainda assim, Operação Skyfall no Oscar não seria uma surpresa, mas sua presença é improvável. Uma vez que é preciso liderar 5% das preferências entre os acadêmicos para conquistar uma indicação a melhor filme. Nesse cenário, o indie Moonrise kingdom é que mais se ajusta a uma possível nomeação. Tendo estreado em Cannes e feito bela carreira comercial, o filme pode muito bem roubar a vaga de independente do ano de Indomável sonhadora, esse sim uma surpresa na lista do PGA. Surpresa porque o filme desapareceu das premiações prévias ao Oscar e se o anúncio dos indicados ao Oscar não fosse na próxima semana, talvez a menção no PGA pudesse impulsionar a candidatura do filme.
Justamente pelas indicações ao Oscar estarem dobrando a esquina que a força do PGA está ainda mais reduzida neste ano. A bem da verdade, o PGA é um indicador mais eficiente do vencedor do Oscar de melhor filme do que de seus concorrentes. Na temporada 2012/2013 essa característica deve ser ainda mais forte em virtude da antecipação proposta pela Academia.
Isso posto, Argo, A hora mais escura, Os miseráveis, O lado bom da vida, Lincoln e As aventuras de Pi já eram filmes dados como certo entre os concorrentes a melhor filme. Todos lembrados pelo PGA. Django livre, Operação Skyfall, Indomável sonhadora e Moonrise kingdom, filmes aventados para a corrida ao Oscar de melhor filme, permanecem incógnitas nessa conjuntura.
O que talvez tenha mais impacto na lista dos indicados ao Oscar que conheceremos na próxima semana seja o conturbado sistema de votação online instituído pela Academia como opção para seus eleitores neste ano. Essa mudança, juntamente ao estreitamento do calendário, pode gerar anomalias. A academia estendeu o prazo para as votações e distribuiu às pressas mais cédulas de papel. Nada garante, no entanto, que haja volume suficiente de votos para impedir surpresas. Sejam elas boas ou ruins.

domingo, 28 de outubro de 2012

Insight

O lado B dos filmes teen

Duas produções que estrearam nos cinemas brasileiros neste mês de outubro colocam em evidência a opção por um cinema de verve mais artística no tocante a ambientação da fase adolescente. Moonrise Kingdom e As vantagens de ser invisível, no entanto, se diferem da obra de Gus Van Sant sobre o tópico por terem a capacidade de preservar algumas características alinhavadas ao universo pop. Wes Anderson, diretor do primeiro, dono de uma filmografia cult é um tipo estranho e, certamente, um gosto a se adquirir. Já Stephen Chbosky é um diretor estreante, mas não um estranho ao mundo do cinema. Já produziu e roteirizou, por exemplo, o musical Rent – os boêmios (2005) – por sua vez uma atualização de uma bem sucedida peça da Broadway- e a série de TV "Jericho" – cult em seu próprio eixo.
Há pouco mais de dois anos na extinta seção Contexto, Claquete abordou a questão sob um prisma mais abrangente. “Quando a adolescência é ofoco” discutia a boa safra de filmes, capitaneada pelo brasileiro As melhores coisas do mundo, que discutia a adolescência como algo factível e buscava se comunicar com o público retratado nas telas; fosse com bom humor, originalidade ou mesmo boas doses de ironia.
Moonrise kingdom e As vantagens de ser invisível elevam o status dessa discussão. Primeiro porque foram idealizados por dois diretores escritores altamente criativos e recém-ingressos na casa dos 40 anos. No caso de Chbosky, a experiência é ainda mais profunda, já que ele adapta a si mesmo de outra mídia, no caso o livro homônimo que escreveu para remontar sua própria vivência adolescente.
Esses filmes não buscam o diálogo com os adolescentes, mas também não o alienam- como o faz a obra de Gus Van Sant. Eles buscam abrigo na memória de quem já se despediu dessa fase da vida. Por essa beleza nostálgica e por encampar a adolescência em todo o seu esplendor de caos e expectativa, os filmes encontraram aplausos na crítica e respaldo de um público de procedências e faixa-etárias diferentes.
Os dois filmes, justamente por essa característica híbrida, podem representar um oásis na produção hollywoodiana. Fica a expectativa de que reverberem e que a proposta encontre eco entre produtores e diretores. Porque público, definitivamente, ela já encontrou.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Crítica - Moonrise Kingdom


Os desajustados

Wes Anderson sempre foi peculiar e, dessa maneira, alçou seu cinema a um estrato autoral difícil de ser tangenciado no cinema contemporâneo. Seu mais recente filme, que abriu o último festival de Cannes, Moonrise kingdom (EUA 2012) é, de alguma maneira, seu filme mais acessível e, também, aquele mais incomum. Essa aparente ambiguidade se deve ao amadurecimento de Anderson enquanto cineasta na arquitetura do discurso cinematográfico e na maturação, não menos fascinante, de suas opções estéticas. Essa convergência resulta em um filme plasticamente belo e emocionalmente encantador.
Na trama, que se ambienta em uma ilha afastada na costa da Nova Inglaterra (EUA) na década de 60, acompanhamos a busca por dois adolescentes que mobiliza a cidadezinha. Um deles, Sam (Jared Gilman), órfão e escoteiro, foge do acampamento supervisionado pelo abobado mestre Ward (Edward Norton) para ir ao encontro de Zusy (Kara Hayward, uma revelação hipnótica) e juntos fugirem para um local ao qual Sam guarda algum fascínio. Anderson então equilibra a ação entre a busca desajeitada perpetrada pelo xerife local (um Bruce Willis encantador), pelos pais de Suzy (Bill Murray e Frances McDormand) e pelo escoteiro Ward e seus comandados e a fuga planejada, mas com gosto de improviso, de Sam e Suzy.
Moonrise kingdom revela a partir dessa divisão seus interesses. O primeiro e mais palatável está no flagra que faz do despertar de uma paixão – daquelas irremediadas pelo torpor da adolescência. Toda a inocência, a excitação e a inadequação da infância contraposta a sisudez e amargura da fase adulta ganham ainda mais viço na segunda frente do filme: Anderson nos diz que crescer nos priva de um certo encantamento circunscrito àquela fase da vida em que Suzy e Sam experimentam.
Os adultos aborrecidos, acovardados e entristecidos (e cada personagem é um comentário particular e intercambiável) são o contraponto perfeito à esperança ingênua e adornada de sentimentos das crianças que descobrem a adolescência.

O olhar: a jovem Suzy, brilhantemente interpretada por Kara Hayward, costuma observar atentamente tudo e todos a sua volta




Todos os personagens recusam a convenção. Mas são os apaixonados e “perturbados” Suzy e Sam quem preservam o romantismo de mudar, transmutar, viver...
Moonrise kingdom, como revela a poética cena final, é mais um estado de espírito do que um lugar. O filme de Anderson se inscreve como fervorosa referência tanto em sua obra quanto na cinematografia que se pretende estudiosa da adolescência, na qual Gus Van Sant parece ter tomado cadeira cativa. Moonrise kingdom parece destinado a puxar, talvez ao lado de Os excêntricos Tenenbauns (2001), a fileira da filmografia cult do diretor.