segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Oscar Watch 2013 - Cenas de Cinema Especial (85ª edição do Oscar)


Passando recibo...

Confirmaram-se as expectativas mais controvertidas com a vitória de Argo, o filme mais celebrado da temporada. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood voltou atrás, por assim dizer, e sagrou Argo o filme do ano. O movimento patenteia de maneira jamais vista a influência do Globo de Ouro, sempre questionada e em 2013 levada às últimas consequências e em particular de uma premiação menos badalada que é o Critic´s Choice Awards. Era claro, no momento do anúncio dos indicados ao Oscar, que Argo não era para a Academia um “top contender”. Se “voltar atrás” é um sinal de humildade e, nesse contexto precisa ser louvado, é também um sinal de que enquanto instituição, o Oscar renunciou completamente a sua autonomia.

Argo fucked everyone: Com três prêmios, Argo será um daqueles filmes que a história proverá diferentes justificativas para seu sucesso no Oscar


Pero no mucho
A 85ª edição do Oscar tem tudo para entrar para a história como uma das mais esquisitas de todos os tempos. Não só pela pulverização um tanto injustificada entre alguns dos principais concorrentes, mas pela estrutura do show mesmo. Se não foi a oitava maravilha do mundo, Seth MacFarlane foi um anfitrião competente. Boas piadas, ótimo timing cômico e boa inserção com os números musicais – em alta no ano. Mas as homenagens pareciam descalibradas (a aguardada homenagem a James Bond foi frustrante), as gafes se enumeraram (o que foi a entrega do Oscar de canção e a descortesia com alguns concorrentes? E a insistência da homenagem a Chicago que foi produzido pelos produtores da edição do Oscar deste ano?) e o ritmo da produção severamente prejudicado. Não ajudou o fato do Oscar atentar contra a própria coerência.

Porém...
Alguns elogios precisam ser feitos. A Academia mostra reiteradamente que está se desligando de certos paradigmas inconvenientes como o de não premiar repetidamente atores já consagrados. Meryl Streep entregando o Oscar a Day Lewis é um feliz sintoma disso. A vitória de Christoph Waltz entre os coadjuvantes – ele havia vencido em 2010 por Bastardos inglórios – é ainda mais eloquente nesse sentido. O austríaco conquistou sua segunda vitória em sua segunda indicação e tudo isso em um espaço de quatro anos. E mais: concorria com quatro celebrados atores americanos, também oscarizados, mas que estavam há mais tempo sem vencer.


O fator Lee I

Ang Lee derrotou pela segunda vez Steven Spielberg em uma disputa direta entre os dois pelo Oscar de direção. Lee é, também, o primeiro cineasta asiático a ganhar o Oscar e o segundo também. O primeiro a ganhá-lo novamente. Mais importante: Ang Lee é o primeiro diretor a vencer o Oscar por um filme dirigido em 3D. Honra negada aos americanos James Cameron (Avatar) e Martin Scorsese (A invenção de Hugo Cabret).

O fator Lee II
Ang Lee, no entanto, entra para uma outra seletíssima lista. É o primeiro cineasta a ter dois Oscars de direção sem que um dos filmes pelos quais ganhou o Oscar tenha prevalecido na disputa de melhor filme. 

A culpa é do Day Lewis...
É sabido que Daniel Day Lewis rouba atenções para si, mas raciocínio rápido do desempenho dos últimos filmes estrelados por ele com múltiplas indicações no Oscar. Gangues de Nova Iorque há dez anos teve dez indicações, e Day Lewis era favorito ao prêmio de melhor ator, e não levou nada. Há cinco anos, Sangue negro divida as atenções e oito indicações com Onde os fracos não têm vez dos irmãos Coen. O filme só faturou os troféus de fotografia e ator para Day Lewis. Lincoln, este ano, tinha 12 indicações e novamente apenas dois prêmios: direção de arte e ator para Day Lewis.

Empate
Foi apenas a sexta vez na história que houve empate no Oscar. O inusitado se deu na categoria de edição de som com as vitórias de A hora mais escura e Operação Skyfall. Ou seja, em 2013, foram 25 vencedores em 24 categorias do Oscar...

Affleck para senador?

Ben Affleck o grande vitorioso da noite está com seu discurso cada vez mais lapidado. Soube enobrecer Spielberg tão logo aproximou-se do microfone para agradecer pelo prêmio de melhor filme dado a Argo e soube voltar-se com afetuosidade e brandura à esposa Jennifer Garner. Humilde, Affleck 15 anos depois da efusiva vitória pelo roteiro original de Gênio indomável volta a vencer um Oscar e, talvez, se prepara para uma nova empreitada. Seu nome é bastante comentado em corredores democratas para uma cadeira no Senado americano. Endosso hollywoodiano é o que não vai faltar!

 4,3,2,1...
Foi um grande Pi! A Academia pulverizou seus prêmios e, como não ocorria desde 2005, o melhor filme do ano não liderou o número de Oscars. Naquele ano, O aviador ganhou cinco Oscars e Menina de Ouro, o melhor filme, quatro. No ano seguinte, um empate quádruplo: Kink Kong, Memórias de uma gueixa, O segredo de Brokeback Mountain e Crash - no limite empataram com três prêmios cada. Sendo o último o vencedor de melhor filme. Este ano, As aventuras de Pi faturou quatro estatuetas (direção, fotografia, trilha sonora e efeitos especiais) e na segunda posição vieram Argo (filme, roteiro adaptado e montagem) e Os miseráveis (atriz coadjuvante, maquiagem e mixagem de som). Ainda teve Oscar para Django livre (ator coadjuvante e roteiro original), Lincoln (ator e direção de arte), Operação skyfall (canção original e edição de som), Anna Karenina (figurino), Amor (filme estrangeiro), O lado bom da vida (atriz), A hora mais escura (edição de som) e Valente (animação).

A Áustria contra-ataca
Não foi como o esplendor francês do ano anterior, mas foi uma vitória expressiva. Além do triunfo entre os filmes estrangeiros com Amor, o candidato submetido pelo país, a Áustria ainda viu Christoph Waltz triunfar pela segunda vez em quatro anos no Oscar.

Peace out!
Quentin Tarantino quase 20 anos depois de sua primeira vitória no Oscar, voltou a empunhar a estatueta. Dessa vez pelo roteiro de Django livre, que acabou tendo um dos melhores desempenhos da noite com dois prêmios em cinco possíveis. Tarantino se mostrou respeitoso com a Academia e com seus concorrentes na categoria no que chamou de “o ano dos escritores”. O Tarantino paz e amor foi uma das boas surpresas da noite – ainda todos os candidatos na categoria fossem melhores.

A estrela da noite
Não foi a oscarizada Jennifer Lawrence ou a bela e histórica Emmanuelle Riva, mas sim a barba. Nada polarizou mais as atenções no Dolby Theatre do que a barba. Ou as barbas. George Clooney, Paul Rudd, Ben Affleck, Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman foram alguns dos que adotaram o visual barbado. Em diferentes traçados, é claro. A barba esteve tão poderosa que as duas performances masculinas premiadas se deram por personagens barbudos no filme e os três produtores de Argo foram receber o prêmio devidamente barbados... 

"Três barbudos sexies" nas palavras bem humoradas de Grant Heslov (à esquerda), seguramente o mais sexy dos barbudos...

And the Oscar goes to…
Os temidos discursos de Anne Hathaway e Jennifer Lawrence que andaram exagerando no tom dos agradecimentos em algumas premiações prévias não comprometeram. Anne foi elegante e grata. Jennifer foi afetuosa e bem humorada – principalmente depois da queda que sofreu enquanto se caminhava para o palco. Contudo, mais uma vez, Daniel Day Lewis mostra que também é o craque definitivo em matéria de discursos. Começou louvando Meryl Streep – que lhe entregara o Oscar: “Meryl era a primeira opção de Steven para viver Lincoln” e na mesma frase ainda saiu-se com essa “ainda bem que não se tratava de um musical”. Uma referência de duplo sentido tanto a Nine – seu trabalho menos elogiado em anos quanto ao principal elemento das homenagens da noite. O sagaz Day Lewis, no entanto, não se furtou a emoção pela história que estava fazendo e agradeceu, comovido, o gesto da Academia para com ele.

Algumas frases:

“É legal que nós não estejamos só fazendo filmes para adolescentes. Até porque eu já não sou mais adolescente”, Quentin Tarantino no backstage do Oscar

“Talvez na terceira vez a gente consiga, mas eu estou muito feliz de vencer”, de Ang Lee no backstage após vencer o Oscar de direção por As aventuras de Pi

“Me desculpem, eu tomei umazinha antes de vir aqui”, Jennifer Lawrence aos jornalistas no backstage ante de falar sobre sua vitória no Oscar

“Argo conta uma história secreta sobre o resgate de um grupo de americanos no Irã pós-revolucionário. A história foi tão secreta que o diretor do filme permanece desconhecido pela Academia”, Seth MacFarlane em uma de suas piadas como anfitrião do Oscar

“Se você não encontra suas palavras em situações como essa, eu acho que seria um pouco triste”, Daniel Day Lewis ao responder questionamentos sobre se recebia assistência em seus sempre maravilhosos discursos

"Django livre. Esta é uma história de um homem lutando para recuperar sua mulher, que é mantida sob uma violência impensável - ou como Chris Brown e Rihanna chamam, ‘encontro no cinema...’”, Seth MacFarlane em uma de suas piadas como anfitrião do Oscar

“Ele é engraçado”, Tommy Lee Jones quando perguntado sobre Seth MacFarlane

“Eu não sei, talvez que faça um documentário na HBO como fez a Beyoncé”, Adele sobre seus planos pós- Oscar


Passando a régua...
Tommy Lee Jones riu, Jack Nicholson estava lá, Jessica Chastain foi a mais linda da noite, Steven Spielberg perdeu de novo, Ben Affleck riu por último (e também lacrimejou), Quvenzhané Wallis curtiu de montão, Samuel L. Jackson bancou o fotógrafo, Anne Hathaway se emocionou, Meryl Streep compareceu, Jean Dujardin melhorou no inglês e George Clooney esbanjou charme. Que venha o Oscar 2014!

9 comentários:

  1. O Globo de Ouro previu quase TODOS os vencedores do Oscar, só não acertou com Ben Affleck, já que isso não era possível. A antecipação do anúncio dos indicados só serviu pra bagunçar a categoria de melhor diretor.

    Não concordo quando você diz que a Academia "voltou atrás". "Argo" conseguiu 7 indicações, um número considerável e que na minha opinião demonstra prestígio com os votantes. Foi apenas o branch de diretores que esnobou Ben Affleck.

    Não estou falando que ele teria que necessariamente ganhar e que "Argo" seja o melhor filme do ano, mas essa premiação ficou muito esquisita. Se os membros do DGA escolheram Affleck como o melhor, porque os diretores membros da Academia (a maioria esmagadora faz parte do Sindicato) lhe negaram uma simples indicação?

    Fica a impressão de que Ang Lee só ganhou porque não puderam premiar Affleck. E de fato deve ter sido isso que aconteceu.

    Parabéns pela sua cobertura do Oscar.

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  2. Adorei a cobertura :D
    Também gostei muito do discurso do Day Lewis, mas imagino que, se fosse eu a estar lá, faria alguma coisa meio na linha super espontânea da J. Lawrence... E, claro, fiquei feliz por ela ter ganho, torcia pelo Bradley, mas como Day Lewis é a Merryl Streep de calças só restou me conformar, rsrs
    E Argo é um filme até que redondinho... Se melhor filme, acho que ficará a cargo da história avaliar.

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  3. Que venha o Oscar 2014. Excelente matéria, Reinaldo.

    Discordo que tenha sido um atestado de não autonomia, até porque tudo está muito misturado mesmo. A não indicação de Ben Affleck a melhor diretor é um mistério que ainda precisa ser desvendado, ou não, hehe. Acho que isso ter acontecido acabou gerando uma polêmica tão grande e colocando os holofotes no filme que acabou nisso. Não é o melhor filme do ano, mas é um belo filme, fiquei feliz que ele levou e não Lincoln ou pior, A Hora Mais Escura. Porque quando a primeira dama chegou, ficou claro que seria um filme político.

    bjs

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  4. Parabéns pela matéria, Reinaldo. Ficou um excelente resumo sobre o que foi a noite do Oscar 2013. Para mim, o mais importante e o que resume a premiação desse ano foi justamente a divisão de prêmios entre os filmes que formavam a boa seleção de indicados neste ano. Acho ruim quando um único filme polariza tudo. De todo jeito, acho que o Seth MacFarlane foi um bom apresentador e a noite transcorreu dentro do esperado. Vamos ver se, em 2014, a AMPAS consegue trilhar um caminho próprio sem se preocupar muito com a concorrência com outras premiações e entrega um Oscar com uma excelente seleção de filmes, que faça com que a corrida pela estatueta fique tão emocionante quanto a desse ano.

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  5. Grande Reinaldo, meus parabéns, pelo o que eu chamo de a melhor cobertura "independente" do Oscar!Meu muito obrigado!

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  6. Anônimo: Obrigado meu caro! O que eu quis dizer com o "voltar atrás" devidamente colocado entre aspas é na imposição de "Argo" como um figurante de luxo e depois promovê-lo, ainda que tropegamente, a principal destaque de sua festa. Por essa lógica de "foi apenas o brunch de diretores que esnobou Affleck" poderíamos listar todos os filmes que foram indicados a melhor filme e não amelhor diretor. Não funciona bem assim, infelizmente.
    Agora, quanto ao fato de Lee ter ganhado por que Affleck não poderia ter ganho é verdade. Em compensação se Affleck tivesse sido indicado talvez Argo não tivesse tanta força... enfim, pertence ao universo das especulações agora!
    Abs

    Aline: Obrigado Aline. Pois é, a história não será tão lisonjeira assim. Ainda que menos do que com Argo do que com a Academia.
    bjs

    Amanda: Obrigado Amanda. Pois é, a não indicação de Affleck é um mistério, mas não é mistério que contribuiu para a consagração do filme nos sindicatos e nos prêmios que se seguiram...
    Acho que a participação de Michelle Obama se deve mas ao status pop dela, muito criticado, por sinal, por setores da imprensa gringa, do que a um eventual recado político que eu francamente não vi em lugar nenhum.
    bjs

    Kamila: Obrigado Ka. E votos para que 2014 seja melhor, e mais coerente, do que 2013.
    bjs

    Cássio Bezerra: Fala meu querido! Obrigado pelo comentário e pelo agradecimento, um toque inusitado em geral, mas especial e esperado vindo de vc.
    Abs

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  7. Qual é, Glioche? Para mim não há nada de inesperado! Frequento este espaço assiduamente (durante o Oscar, então!), concordo que nem sempre "bato o ponto", mas isso já é outra história...
    Contudo, tu, mais do que ninguém, sabes que fazes a melhor cobertura do Oscar aqui no Brasil (eu, pelo menos, não conheço nenhum outro site mais completo, não neste formato que eu tanto prezo).
    Modéstias a parte, aceite o fato: Melhor Jornalista de Crítica de Cinema do Oscar 2013.
    Grande abraço.

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  8. Grande Cássio. Mais uma vez, muito obrigado pela ênfase e pelo elogio. Acho que não me expressei bem anteriormente. Eu quis dizer que o agradecimento é inusitado de maneira geral, embora não devesse ser, mas que vindo de vc era especial - pelo leitor criterioso, culto e atento que é - e esperado - por ser sempre tão atencioso e estimulador tanto de Claquete quanto de minha pessoa como jornalista e crítico de cinema.

    Vc foi o único que me agradeceu por essa extensa e trabalhosa cobertura da temporada de premiações (tenho ciência que não foi nem mesma a maior que fiz em Claquete) e o agradecimento me comoveu no sentido de perceber no seu getso um valor que eu nem mesmo tinha reparado para cinéfilos que como nós buscamos qualidade na cobertura de cinema. Enfim... fica novamente o meu agradecimento pelo seu agradecimento. rsrs
    Grande abraço!

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  9. Excelente trabalho, Reinaldo! Cobertura completa mesmo. Muitas das curiosidades só conferi aqui mesmo. E diferente de muitos veículos, aqui é confiável =)

    Abs!

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