sexta-feira, 20 de maio de 2011

Crítica - O noivo da minha melhor amiga

Crise de gênero!


Amigas, amigas, homens à parte: em O noivo da minha melhor amiga a amizade entre Ginnifer Goodwin e Kate Hudson é posta a prova


O noivo da minha melhor amiga (Something borrowed, EUA 2011) adota um ponto de partida relativamente original para, aos poucos, ir domesticando-o ao sabor da comédia romântica tradicional. Darcy (Kate Hudson) é aquele tipo de patricinha narcisista (e a redundância de patricinha narcisista se faz necessária), que mantém uma amizade desde a infância com Rachel (Ginnifer Goodwin), uma garota insegura que se forçou a acreditar que ser amiga de Darcy é uma benesse inquestionável. Quando o filme começa, Darcy está prestes a se casar com Dexter (Colin Egglesfied), que é a paixão de Rachel desde os tempos de faculdade. Esse desconforto emocional é potencializado após os dois irem para cama na noite do trigésimo aniversário de Rachel.
O roteiro assinado por Jenny Snyder, baseado no romance de Emily Giffin, suscita alguns percalços previsíveis ao emaranhado amoroso, mas que não deixam de ser críveis. Giffin acredita que os seres humanos são fiéis ao princípio de complicar as coisas simples e os personagens passam a hora e meia de filme se engajando nisso. Surge dessa frente o grande personagem de John Krasinski, Ethan, o outro amigo de infância de Darcy e Rachel. Ele funciona como o observador que se permite algumas conclusões, se assemelhando ao juízo moral que a platéia faz dos outros personagens. Contudo, o próprio Ethan tem suas dificuldades em lidar com a rejeição e assumir responsabilidades por suas inconsequências no campo do amor (vive sendo assediado por uma mulher que ele levou para a cama e não teve a força de dizer que não queria mais se relacionar com ela).
Dexter enrola Rachel, que se permite enrolar e que se ressente do que está fazendo com Darcy que não se ressente do que faz com ninguém. O jeitão de novela agrada e aborrece. O noivo da minha melhor amiga se apresenta como uma crise no gênero comédia romântica. Não só pelas crises que, de uma maneira ou de outra, todos os personagens são afrontados, mas sim porque a fita começa altiva e termina imersa no lugar comum. Mesmo com a disposição de vasculhar comédia na tragédia amorosa, O noivo da minha melhor amiga acaba entregando uma fábula romântica em que tudo se resolve com a diluição de vítimas e a formação de pares românticos. Uma solução apressada que diz muito sobre a necessidade de renovação do gênero, mas não deixa escapar a resistência que esta enfrenta.

2 comentários:

  1. Posso relembrar o motoca e repetir: "eu te disse, eu te disse"? hehe. Não sei se é uma crise total no gênero, apesar de concordar que tudo já foi feito e sempre vamos cair no clichê. Ainda assim, acho possível comédias românticas inteligentes ainda existirem. Um exemplo é Como arrasar um coração. Este filme, em específico foi que me irritou profundamente.

    bjs

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  2. Amanda: rsrs. Pode sim. Então, eu gostei do filme. Não me irritou como ocorreu com vc. Os personagens são irritantes, mas há a reprodução fiel do comportamento humano ali. O final, como argumento na minha crítica, peca e peca muito. Repare no parágrafo final da minha crítica.
    A crise no gênero há sim. Já bato nessa tecla há algum tempo.Ela só não foi verbalizada pela indústria, mas passa por aí até mesmo o sucesso das "comédias românticas para homens"...
    bjs

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