domingo, 15 de maio de 2011

Claquete repercute - Leões e cordeiros


Não é coincidência que um mês após destacar Quanto mais quente melhor nesse espaço, o escolhido para Claquete repercute seja Leões e cordeiros (Lions for lambs, EUA 2007). Dirigido por Robert Redford, o drama político marcou a retomada do selo artístico mais notório de Hollywood, a United Artists – que vivia dias de glória na época do lançamento de Quanto mais quente melhor. Em bancarrota e depois de vários processos de falência, a United Artists teve uma sobrevida com Tom Cruise à frente do estúdio. Cruise, notadamente um produtor arguto, vivia mal momento na carreira (o ator mantinha um dos últimos contratos de exclusividade com um estúdio, a Paramount, e acabara de ser demitido) e credores da United Artists foram seduzidos pela ideia de que tanto o estúdio quanto Cruise poderiam se reerguer juntos.
Leões e cordeiros, naturalmente, não é o tipo de filme que atrai multidões aos cinemas. De orientação política de esquerda, a fita faz duras críticas a atuação americana no Iraque, aos interesses políticos no conflito, à submissão da imprensa aos ritos do governo americano no processo e ao americano médio que não demonstra o interesse de outrora nas questões que fazem por merecer engajamento político.
É um filme tese por assim dizer. Um filme que, naturalmente, afugentaria o espectador médio; flagelando-se na crítica que busca viabilizar.
Não era, sob qualquer ângulo que se observe, o filme para marcar a retomada de um estúdio afundado em dívidas e descrédito.
Dramaticamente, embora previsível, Leões e cordeiros é eficiente. Reúne a fina estampa de Hollywood (os consagrados Tom Cruise, Robert Redford, Meryl Streep e as promessas à época Andrew Garfield, Michael Peña e Derek Luke) e se insurge como um bastião da correção política. Além de ter sido um dos primeiros exemplares de Hollywood a voltar-se para o Iraque ainda flamejante.
No filme, que se passa em duas horas corridas (embora haja a incidência de flashbacks), testemunhamos três núcleos. No primeiro e mais assertivo deles, Tom Cruise vive um senador republicano de retórica tão atraente quanto ruidosa que convoca a veterana jornalista vivida por Meryl Streep para expor uma nova estratégia de ação no Afeganistão. Paralelamente, acompanhamos o professor universitário vivido por Robert Redford tentando despertar o ativismo adormecido no estudante promissor vivido por Andrew Garfield. No último núcleo, e mais problemático de todos, acompanhamos dois soldados em ação no Afeganistão.
Tom Cruise e Meryl Streep dão voz aos diálogos mais encorpados do filme. É onde Leões e cordeiros se permite ser mais imaginativo e provocador. É no duelo velado entre o senador que mira no capital político e na jornalista com consciência pesada que Leões e cordeiros vislumbra a grandeza que objetiva ser como cinema.

O diretor Robert Redford orienta seu par de astros: Cruise e Streep respondem pelo que de mais interessante Leões e cordeiros tem a oferecer


Robert Redford e Andrew Garfield tabulam os velhos ideais de esquerda com graça, mas enraízam Leões e cordeiros no inferno das boas intenções. O arquétipo encenado pelos dois só se avoluma perante o fraco núcleo protagonizado por Peña e Luke. Os dois ex-alunos do professor vivido por Redford que resolvem se voluntariar para o combate no Afeganistão.
Leões e cordeiros é um filme de ideias. Movido por elas. Mas quando Redford, um diretor tão ligado ao ativismo social se excede no tratamento dispensado a elas, o filme se cristaliza em obviedades que pouco lhe acrescem como cinema. Se com Tom Cruise e Meryl Streep se presencia um debate que não nega interesse a nenhum estrato social, nos outros dois núcleos se percebe um filme com discurso ultrapassado e, em certo nível, maniqueísta.
Esses fatores, aliados a falta de perspicácia no timing do lançamento da fita, contribuíram para a iminente falência do estúdio. Tom Cruise é hoje um astro free lancer, assim como seus contemporâneos, posição consolidada após o fracasso do segundo lançamento estrelado e produzido por ele para o estúdio, Operação Valquiria.

6 comentários:

  1. Acredita que ainda não assisti a esse filme? rsrsrs.

    Beijos! ;)

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  2. Assim como a Mayara... acredita que ainda não vi esse filme? hehehe

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  3. Leões e cordeiros... Reinaldo, faço minhas as palavras dos dois acima, hehe, na verdade tinha até apagado ele da minha lembrança. Lembro agora que na época fiquei curiosa e pensei em ver, mas acabou sempre ficando para depois...

    bjs

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  4. Excelente repercussão Reinaldo! Este filme me chamou atenção pelo trio protagonista e fazia tempo que não via um filme de Robert Redford, mas lembro de ter visto mal esta fita.
    Preciso rever.

    Grande abs.
    Rodrigo

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  5. Eu acho esse filme muito sólido na parte de atuações, mas acredito que a obra perde muito tempo em discussões que não levam a nada. :) A storyline mais forte e interessante é a do Tom Cruise.

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  6. Mayara: Acredito. Como eu cito no texto, passou abaixo do radar... do cinéfilo tb.
    Bjs

    Alan:rsrs. I do belive in you! Abs

    Amanda: I know what you mean...

    Rodrigo: Valeu meu brother. Desconfio de que pouco mudará após a revisão...
    abs

    Kamila: I know what you mean (2)...
    bjs

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