terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Crítica - Inverno da alma

Descobrindo a América!


Quando o espectador é advertido de que está diante de um filme difícil, ele fica um tanto desarmado sobre o que esperar. Inverno da alma não investe em metáforas metafísicas, nem em uma estética radical, o que o Debra Granik, em seu segundo longa metragem, propõe é uma experiência de descoberta. Ela apresenta uma América embrutecida, involuída ou, posto de maneira simples, parada no tempo.
O que se vê em Inverno da alma são pessoas regidas por códigos de ética bem particulares, uma moral deformada por necessidades básicas e, no que de melhor o filme tem para mostrar, uma força de vontade hercúlea de sobreviver. Isso está presente em todos os personagens, mas é através de Ree Dolly (Jennifer Lawrence) que as tintas ficam mais fortes. Aos 17 anos, a garota que cuida da casa, da mãe doente e dos irmãos mais jovens precisa encontrar o pai desaparecido da justiça para evitar perder a propriedade. A obstinação de Ree cativa e para que isso ocorra é fundamental a entrega de Jennifer Lawrence a sua personagem. Não estivesse Jennifer senhora da apreensão, medo e gana de Ree, Inverno da alma não teria metade de sua força.
Se o filme é forte, incômodo (no sentido de mostrar que não evoluímos como sociedade tanto quanto cremos) e esperançoso, o é em virtude da impactante presença de Jennifer.
Em meio a mulheres embrutecidas, homens mais embrutecidos ainda, e uma paisagem das mais áridas, Jennifer resplandece vigor e graça na caracterização de uma mulher determinada a prover para sua família. “Estaria perdida sem o peso de vocês na minhas costas”, ela diz para o irmão pequeno quando este teme que ela esteja considerando deixá-los. No limiar, Inverno da alma ainda é um culto à essência do valor familiar.

Jennifer Lawrence e John Hawkes, indicados ao Oscar, em cena: sempre que estão juntos o filme ganha em dimensão emocional


A fita que concorre a quatro Oscars (filme, roteiro adaptado, atriz e ator coadjuvante) preza muito o silêncio. Quando os diálogos surgem, eles surgem da maneira mais inteligente possível. O que não é dito em Inverno da alma é tão importante quanto o que é dito e isso pode ser evidenciado sempre que John Hawkes (que faz o tio de Ree) e Jennifer Lawrence dividem a cena. A tela explode em carga dramática e em densidade emocional. São dois atores em estado de ebulição que conferem a Inverno da alma a urgência das grandes descobertas.

6 comentários:

  1. Esse ainda não chegou por aqui.... Só esperando, que nem Deixe-me entrar.

    bjs

    ResponderExcluir
  2. O filme me conquistou pela história dessa menina, isso graças a atuação da Jennifer Lawrence. Se não fosse por isso, seria um filme esquecível.

    Beijos! ;)

    ResponderExcluir
  3. Quero tanto assistir a este filme. Adoro longas independentes com personagens femininas fortes. :)

    ResponderExcluir
  4. Verdade seja dita, seu texto funciona muito mais que o próprio filme. Concordo que é interessante, mas no geral torna-se frágil e até mediano - bem verdade, caminhamos com a personagem de Lawrence que, de fato, tem uma atuação magistral. Mas, acho que o roteiro e até a direção não consegue trazer os personagens tão próximos de nós. Não é por conta da tal "alma" fria, é limitação mesmo da construção do estudo dos personagens ali...o filme, por vezes, parece não sair do mesmo lugar e somente o talento perfeito de Lawrence consegue provocar alguma atração com o que vemos.

    Acho que a direção de Granik é muito, muito, correta...poderia ter ousado mais, acentuado mais, sei lá...não vejo esse grande filme, nem mesmo acho o desfecho 'chocante' como muitos dizem. Na verdade, o final poderia ser mais delineado...e discordo da indicação ao Oscar de Hawkes e filme. Quem deveria ter sido indicado, no lugar dele, é Andrew Garfield por "A Rede Social". E "Blue Valentine" é um filme mais denso e instigante que este, ao meu ver. Este sim poderia ter recebido a indicação de Filme...

    Bom, fico feliz em ver como Lawrence tem tido o reconhecimento, afinal é uma bela atriz. Gosto dela no "Vidas que se cruzam", conhece?

    Abraço!

    ResponderExcluir
  5. Excelente texto, Reinaldo. Concordamos assiduamente sobre essa bela surpresa. E fazendo coro ao seu texto anterior, refaço as suas palavras as minhas em considerar este como o autêntico indie do ano.

    Não tinha me tocado na questão da fidelidade familiar do filme que vc menciona no texto, e concluo que essa devoção não se resume a Ree, mas até os outros personagens, como Mareb e aquele velho de bigodes rs. Ta aí mais uma vertente que torna o filme tão rico.

    Lawrence está absurda. Uma revelação!


    abs!

    ResponderExcluir
  6. Amanda: Putz, que chato... mas vai valer a espera. Bjs

    Mayara: Essa definição de filme esquecível é discutível Ma. Mas entendo sua impressão. concordo, porém, que Jennifer Lawrence (juntamente com John Hawkes) é quem alavanca a força do filme. Bjs

    Kamila: E que cinéfilo não gosta?rsrs. Vc vai gostar. Certeza! bjs

    Cristiano: Apreciei muito a elaboração do seu raciocínio Cris. Ele tem fundamento. Independentemente de prdileções, e vc tem as suas, é preciso reconhecer que Inverno da alma se pretende anticlimático. Arrastado. Não vejo o estudo de personagens como um objetivo. Creio que o interesse seja mais desvelar essa "América profunda" que parece coisa de ficção msm. É outro tempo... outro espaço... acho que o final tem tudo a ver com aquele universo. É bem fiel a história contada. Tb acho que Garfield merecia indicação, mas não sacaria Hawkes não. Acho que Garfield ia bem na vaga de Jeremy Renner.
    Conheço Vidas que se cruzam sim. É o do Arriaga. Um filme mediano, na minha avaliação, mas no qual Jennifer já mostrava todo o seu talento.
    Abs

    Elton:É tão bom quando completamos nosso raciocínio dessa maneira fluída né? De fato essa fidelidade familiar é algo generalizado entre os personagens de Inverno da alma.
    Valeu pelos elogios.
    Aquele abraço!

    ResponderExcluir