terça-feira, 18 de janeiro de 2011

OSCAR WATCH 2011 - Crítica dos vencedores do 68º Globo de Ouro (2011)


Matt Damon e Robert De Niro posam para foto: uma edição do Globo de ouro que não será esquecida tão cedo por variadas razões


De imediato é preciso pontuar que a 68ª cerimônia de entrega dos prêmios Globo de ouro foi muito melhor do que se podia imaginar. Principalmente após a divulgação dos concorrentes. Os resultados foram satisfatórios, em congruência com grande parte da crítica de cinema, as surpresas foram – em certo nível – calculadas e o ritmo do show foi o mesmo de sempre (não esperem por inovações aí senhoras e senhores).
O noticiário cultural passou a reverberar mais as piadas, sempre em um imponderável limite de agressividade, de Rick Gervais do que os vencedores da noite. É preciso salientar que Gervais, como host, é um provocador. Diferentemente de figuras como Steve Martin e Billy Cristal que fazem o tipo entertainer. Isso posto, sua performance foi consideravelmente superior a do ano passado. A razão para que Hollywood, e algumas personalidades presentes no Beverly Hilton Hotel, terem reagido tão mal as gags de Gervais são tantas e tão diversas que passam pela incompreensão do humor inglês e culminam no fato de que Gervais estava mais interessado em fazer rir o espectador em casa, do que os presentes naquele jantar de gala.
Contudo, o teor das piadas do comediante inglês desvelam o clima sombrio sob o qual foi realizado o globo de ouro deste ano. Com a Hollywood Foreign Press Association (HFPA) imersa em dois processos judiciais (um que move e outra em que é ré), e se vendo acuada frente uma forte campanha difamatória circulada pela crítica americana, as rédeas soltas de Gervais sublinham o grande circo que é Hollywood e a necessidade de se levar menos a sério. Reparem que Gervais ridicularizou – logo em seu monólogo de abertura – a própria HFPA. Mencionou o suborno (uma antiga queixa dos detratores do Globo de ouro), para depois emendar “Um show da Cher em Las Vegas não pode ser considerado suborno. Não estamos mais em 1975”. Ridicularizar as extravagâncias de ponta a ponta. Essa era a intenção.
Gervais, no tapete vermelho, parecia meio desmotivado. Indagado sobre o que havia preparado para a festa, disparou: “Vou fazer um trabalho tão ruim para não ser chamado de novo e tão bom que não precisarei voltar!”. Como pode se ver, o inglês não estava brincando. Ele cumpriu, precisamente, o que havia anunciado. Em todo o paroxismo proposto.


Elenco e equipe de Minhas mães e meu pai: uma das certezas da noite que foi devidamente confirmada



Por que A rede social venceu?

Tinha quem esperasse um Globo de ouro imprevisível. Havia esperanças para A origem, O discurso do rei era apontado como favorito (ainda que contabilize menos prêmios de melhor filme por conjuntos de críticos do que A origem e Cisne negro) e O vencedor desde o início de dezembro vem crescendo de tamanho. Mas quem quer que tenha visto A rede social, com o mínimo de atenção e desprendimento, percebe estar diante de um filme para a posteridade. Como deixar isso passar em branco? 2010 trouxe grandes filmes. O discurso do rei pode ser um feel good movie real e Cisne negro, o mergulho na paranóia mais sombrio que se tem notícia, mas o filme de David Fincher é muitas outras coisas. Nas palavras do crítico de cinema José Wilker (em entrevista a um jornalístico do canal pago Globo news), A rede social é um “magnífico filme policial sobre a solidão”. É uma leitura interessante. Wilker, no entanto, aponta preferência por O discurso do rei e Bravura indômita (que não foi indicado ao Globo de ouro).
A opção da HFPA por A rede social reitera, portanto, uma percepção generalizada. A rede social é, hoje, o filme mais premiado de uma Oscar race que se tem notícia. Nenhuma outra fita (O segredo de Brokeback Mountain e Quem quer ser um milionário? são os que chegam mais perto) ganhou tantos prêmios como melhor filme. Contribui para essa estatística o fato de que muitos prêmios, como o Critic´s choice awards e algumas associações de críticos como Vancouver e Detroit serem mais recentes.
Mas isso não importa. O Globo de ouro não poderia perder, em uma revisão histórica, a alcunha de prêmio relevante. Essa condição já é fervorosamente questionada por setores da crítica americana no presente. A posição como termômetro para o Oscar já parece, até mesmo intencionalmente, superada. O que também não quer dizer que não seja no Globo de ouro que os favoritos sejam claramente delineados. É seguro apontar Colin Firth (O discurso do rei), Natalie Portman (Cisne negro), Christian Bale (O vencedor) e Melissa Leo (O vencedor), vencedores na noite do último domingo, como favoritos na corrida pelo Oscar. É prudente salientar, também, que esse favoritismo – à parte Firth e Portman – é contestável. Existem outros parâmetros (que o leitor acompanha na cobertura especial que Claquete faz dessa temporada do Oscar) que contribuem para que favoritos percam, de uma hora para outra, esse status.


O globo de ouro, no melhor estilo Oscar, concedeu o prêmio de melhor ator para Colin Firth que já merecia desde o ano anterior


No geral, a HFPA saiu-se bem de uma enrascada. A audiência da cerimônia cresceu exponencialmente nos EUA (14%) e internacionalmente (na casa dos 20%). O prêmio subscreveu tudo que era necessário. Na figura de seu host, mostrou que não merece a cruz por ter indicado O turista como melhor comédia, com prêmios para o cinema independente (Paul Giamatti como melhor ator por Minha versão para o amor e o triunfo do mediano, mas ainda assim independente, Minhas mães e meu pai) e para a fina estirpe da produção de estúdio (A rede social) sinalizou que a consciência estava intacta. No final das contas, o que importa é não se levar a sério (saber rir é importante), desde que se faça a coisa certa.

4 comentários:

  1. 'a rede social' é um excelente filme, mas está longe de ser o melhor do ano... teve muitos outros filmes que são bem melhores que este

    http://filme-do-dia.blogspot.com/

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  2. Realmente não assisti ao Globo De Ouro na íntegra e vou dizer pra você caro Glioche que já estou farto de festas de gala americana. Mas enfim, é sempre interessante ler um artigo tão bem escrito por ti. Hoje prefiro assim, não assisto e leio depois. Rs!

    E sabemos qual será o filme vencedor no Oscar né? Rs!

    Abs.
    Rodrigo

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  3. "A Rede Social" venceu porque o Globo de Ouro precisa, urgentemente, ser uma premiação relevante em termos de previsão de Oscar novamente. Esse prêmio não tem a mínima identidade, tanto que o assunto mais falado no outro dia foi o apresentador: Ricky Gervais!

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  4. Kahlil: Dos que eu já vi, A rede social é o melhor. Faltam Cisne negro, O discurso do rei e Bravura indômita. Podem até ser dramaticamente superiores, mas duvido serem mais representativos.
    Forçando a comparação novamente com Cidadão Kane, a academia se deparará na mesma encruzilhada de quando optou por premiar "Como era verde o meu vale".
    Abs

    Rodrigo Mendes: Obrigado pela gentil deferência meu caro. Pois é, como dizem no futebol, está com um mão na taça... abs

    Kamila: Acho que 2010 acabou sendo um ano importante para o Globo de ouro resgatar essa identidade perdida... (conforme argumento no artigo)
    bjs

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