Existe algo de metafísico na escolha de David Fincher pelo livro de Chuck Palahniuk. Vindo de um filme que abordava o sentido (ou a falta de) de se apegar a materialidades (Vidas em jogo), Fincher viu em Clube da luta o material apropriado para se aprofundar no tema. Tido como um ataque ao capitalismo à época de seu lançamento, Clube da luta foi motivo de preocupação para a Fox que culminou na demissão do então presidente do estúdio.
Clube da luta é subversivo? Sim. É hermético? Não deixa de ser. É delirantemente anárquico? Não chega a tanto. O trunfo da obra de Fincher é se entrincheirar com conteúdo entre noções de mundo divergentes e de alguma maneira referendar, ou não, todas elas. É bem verdade que a tábua filosófica do filme já se encontrava no livro, mas foi Fincher com sua mise-en- scène apoteótica e com uma verve videoclipeira quem deu viço a ela.
O diretor dá espessura a uma discussão que mobiliza as bases da esquerda. Por que consumimos? Por que no fim do dia nos sentimos tão esgotados? Tão infelizes? Dizer que Fincher é tendencioso é não entender de cinema e, pior, não estar apto a participar de um debate. Clube da luta realça o cinema como vigoroso palco de ideias e como pólo de debates.
É esse, justamente, o maior interesse de Fincher aqui. Logo depois vem o hype de colocar Brad Pitt malhado para bater e apanhar em um ringue sujo logo depois de vender sabão.