domingo, 30 de março de 2014

Crítica - Tudo por justiça

Por quem dobram os sinos...

O segundo filme como diretor de Scott Cooper, Tudo por justiça (Out of the furnace, EUA 2013) é uma representação ensimesmada do universo masculino e seus códigos nem sempre civilizados, muito menos civilizantes. A tradução literal do nome original do filme seria algo como “fora da fornalha”; e quando Russell Baze (Christian Bale) está fora da usina, uma verdadeira fornalha em que produz aço, ele é o tipo de homem que dá murro em faca. Único da família empregado em um cenário em que a única coisa que parece prosperar é a crise econômica, Baze habita um mundo em que o pai está à morte por ter trabalhado toda a vida no lugar em que Baze trabalha, em que seu irmão, traumatizado por ter servido no Afeganistão, apresenta claros sinais destrutivos e que sua esposa quer ter um filho mesmo com todas as condições contrárias.
Baze não tem muita sorte e é esse rastro de mau olhado que acompanha o protagonista. Ele tenta fazer o certo e, de alguma maneira, as coisas dão errado.
Não se trata de fazer a própria sorte ou de assumir as rédeas da própria vida. Baze assume a responsabilidade por seus atos com imensa coragem, o que não quer dizer que abandone a introspecção característica de um tipo de homem que o cinema americano tangenciou muito bem ao longo dos anos em filmes estrelados por John Wayne ou Clint Eastwood.
Mas antes de seguir adiante é preciso voltar ao princípio. Tudo por justiça tem um início devastador e talvez não seja mera coincidência que ele se passe em um drive in, esse elo perdido do cinema, em que vemos um homem (Woody Harrelson em sua escala mais insana) ascender à violência mais primitiva por um motivo banal. Essa presença instável, desestabilizadora e eminentemente masculina paira sobre toda a projeção de Tudo por justiça estabelecendo uma dolorida, hermética e ruidosa consonância com a cena final, também desestabilizadora em sua justificação bidimensional.
Os códigos masculinos são valorizados, ainda, no paralelo entre a caça e a luta e na rixa entre o homem abandonado pela mulher e aquele pelo qual a mulher o abandonou.

Há muitas intermitências narrativas em Tudo por justiça que o tornam muito mais interessante do que os filmes ao qual remete. A mais incisiva de todas, no entanto, é de que não importa o quão ingrata seja nossa sorte, no limiar somos os reflexos de nossas escolhas. Nesse sentido, Baze, seu irmão (Casey Affleck) e Harlan DeGroat (Woody Harrelson) guardam mais semelhanças do que pode parecer. É essa bruta, viril e, na concepção do filme, imperdoável verdade que sela o destino dos personagens e torna Tudo por justiça um filme tão melancólico na radiografia que faz do macho.  

3 comentários:

  1. Na lista para conferir. Gostei da sinopse, do trailer e agora com a sua análise esplêndida, irei reservar o filme para uma oportunidade futura. Essa semana tem outros lançamentos como Noé que estão na frente. Mas esse filme demorou para estrear no Brasil. Um elenco curioso e grandioso.

    Abraço.

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  2. "Tudo por Justiça" não estreou por aqui, mas é o estilo de filme que eu gosto. E ainda tem um ótimo elenco. Espero ter a chance de conferir.

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  3. Rodrigo: Poxa, obrigado Rodrigo! Demorou muito mesmo, mas é um filme muito bom. Merece ser descoberto!
    abs

    Kamila: We only hope! Bjs

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