quarta-feira, 29 de setembro de 2010

ESPECIAL WALL STREET - O DINHEIRO NUNCA DORME: Contexto

O capitalismo devassado


Oliver Stone parece imbuído de mostrar que o capitalismo é uma chaga social. Seu cinema recente parece pautado em desconstruir o modelo econômico ocidentalizado que rege 97% das nações. Wall street – o dinheiro nunca dorme, embora engrosse o coro, não chega a ser tão xiita quanto se podia imaginar. Tão pouco Stone é tão vaticinante em sua crítica quanto outros cineastas como Costas-Gravas, Jean Luc Godard ou Claude Chabrol, morto recentemente.
No filme, reencontramos Gordon Gekko no momento em que planeja se reerguer, embora isso não esteja claro de pronto. Stone realiza aqui outro conto moral partindo do cenário proposto pela crise econômica desencadeada em wall street em setembro de 2008. Ele mostra que Gekko pode ter mudado pouco, mas que o mundo das finanças mudou e muito. E para pior, sacramenta o diretor esquerdista. A figura de Bretton James (Josh Brolin) e de Louis Zabel (Frank Langella) dão viço a esse comentário.
Desbravar o sistema capitalista parece ser o passatempo preferido de Oliver Stone. Há 23 anos ele lançou o icônico Wall street em que explicitava os pormenores do mercado financeiro. O cinema se presta, embora nem sempre dotado do cinismo presente nos trabalhos de Stone, a desenvolver análises sobre o tema. O documentário The corporation (2004) desnuda as relações escusas de grandes empresas como Nike e Coca-cola. Entre os entrevistados do filme está o polêmico (e também esquerdista ferrenho) Michael Moore. Moore, aliás, rodou sua própria perola anticapitalista. Capitalismo:uma história de amor (2009) tenta, com os habituais subterfúgios narrativos do diretor, relacionar o capitalismo a todo o mal inerente a vida em sociedade. Apesar de ter algumas verdades, Capitalismo: uma história de amor não é tão contundente quanto The corporation.
Esquivando-se um pouco dos documentários, a ficção também é prolífera em enquadrar o capitalismo e suas vicissitudes. Geralmente de forma muito mais assertiva e bem humorada, como na comédia de erros As loucuras de Dick e Jane (2005) em que Jim Carrey perde seu emprego quando a economia americana míngua e precisa roubar para se sustentar. Ou na deliciosa comédia O diabo veste Prada (2006) em que os sonhos e o idealismo de uma recém formada se confrontam com a dura realidade do mercado de trabalho. Em O corte, o grego Costas-Gravas cria uma bem humorada e inusitada situação. Seu protagonista resolve matar todos os seus concorrentes à uma vaga de emprego. Um conto capitalista de extrema acuidade, sem perder o bom humor.
A melhor parábola sobre os efeitos do capitalismo, no entanto, talvez seja O sucesso a qualquer preço. No filme de James Foley, com roteiro do dramaturgo David Mamet, um grupo de vendedores tem que alcançar uma meta no final do mês para preservar seus empregos.
O cinema faz parte da lógica capitalista. A maior prova disso é a pujança hollywoodiana. Isso não impede de se fazer auto- análise. E Wall street – o dinheiro nunca dorme é certeiro na radiografia que faz de nós mesmos.

Mery Streep e Anne Hathaway em uma deliciosa fábula capitalista


Se você gostou do tema abordado nesta coluna e deseja repercuti-lo sob esse e outros pontos de vista, Claquete recomenda:


O sucesso a qualquer preço (EUA 1992), de James Foley
The corporation (Can, EUA 2004), de Mark Achbar, Jennifer Abbott e Joel Bakan
Capitalismo: uma história de amor (EUA 2009), de Michael Moore
O corte (GRE/ALE 2005), de Costas-Gravas
O diabo veste Prada (EUA 2006), de David Frankel
As loucuras de Dick and Jane (EUA 2005), de Dean Parisot
Wall street – poder e cobiça (EUA 1987), de Oliver Stone

3 comentários:

  1. Excelente texto, Reinaldo! Parabéns pela análise! Assisto à continuação de "Wall Street" amanhã!

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  2. Gostei bastante do apanhado e análise. Parabéns.

    bjs

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  3. Obrigado meninas. Fico feliz que tenham gostado. Bjs

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