sábado, 15 de fevereiro de 2014

Oscar Watch 2014 - o tema do ano no Oscar



Todo ano é a mesma coisa. Críticos e analistas se põem a conjecturar sobre qual é o tema mais vívido na safra de filmes de Oscar. Há quem note um comentário sutil da Academia nesta elaboração e há quem perceba a preponderância do acaso no agrupamento de alguns títulos que se comunicam. No ano passado, por exemplo, existia um forte apelo político com candidatos como Lincoln, Argo e A hora mais escura e a escravidão, novamente em voga com 12 anos de escravidão, também se destacava no já citado Lincoln e em Django livre.
Neste ano, parece certo apontar que o tema preponderante é a sobrevivência. Neste ano fica difícil defender uma intervenção pensada da Academia na constituição dessa frente temática. Até porque, se o nível da competição é altíssimo, os filmes são radicalmente diferentes entre si. Produções como Capitão Phillips, Gravidade, Trapaça, 12 anos de escravidão e Clube de Compras Dallas apresentam personagens e conflitos dramáticos que podem ser resumidos como batalhas pela sobrevivência. Em Capitão Phillips, filmado com aquele indefectível esmero documental de Paul Greengrass, um capitão faz o possível para sobreviver a uma inusitada, ainda que até certo ponto esperada, ameaça pirata. Gravidade apresenta a batalha solitária de uma astronauta de primeira viagem à deriva no espaço enquanto que Trapaça mostra um grupo de personagens tentando sacar da cartola versões melhores de si mesmos.
Em 12 anos de escravidão há o epíteto; o protagonista – sequestrado e feito escravo pelo período de 12 anos – declara querer viver e não sobreviver, mas é de sua luta pela sobrevivência que o filme se ocupa. Clube de compras Dallas talvez apresente a mais tradicional luta pela sobrevivência encampada pelo cinema, a batalha contra uma doença em uma época em que incompreensão e intolerância tornavam a AIDS ainda mais fatal.

Para ver o amanhecer: Em Gravidade, Sandra Bullock faz o possível e o impossível para voltar à Terra; em Trapaça, dois vigaristas pegos em flagrante precisam administrar a ganância de um agente do FBI para não serem presos nem mortos pela máfia; em 12 anos de escravidão, um homem livre feito escravo supera anos de tortura e barbárie para contar sua história e em Clube de Compras Dallas, um tipo machista que se descobre aidético contrabandeia remédios do México para salvar sua vida e daqueles que inicialmente eram objeto de seu preconceito

Presente em variações providencialmente complementares em termos de perspectiva, a sobrevivência em seu grau mais absoluto, como em Gravidade ou 12 anos de escravidão, ou subjetivo, como em Trapaça, é o tema do ano.
O caráter acidental do principal tema a ventilar o Oscar 2014 redimensiona a potência promocional da academia aferindo profundidade a um debate geralmente ralo e superficial circunscritos a preferências pontuais e campanhas de marketing. O segundo grande tema do ano, esse aventado de forma menos acidental, é a forma particularmente americana de lidar com a crise financeira. Se em Blue Jasmine de Woody Allen, há uma comparação cínica entre classes sociais, em O lobo de Wall Street, há uma sátira escrachada de Wall Street enquanto monumento de pujança financeira.

2 comentários:

  1. Excelente sacada sobre o tema sobrevivência. Acho que, em um mundo cada vez mais caótico e superficial, a busca pela sobrevivência é como um oxigênio. No geral, essa busca é uma forma de enganar a nós mesmos.
    bjs
    Cris/Madame

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  2. Obrigado pelo feedback Cris.Eu sou um dos fanáticos por identificar sentidos ocultos nos indicados ao Oscar... rsrs
    Beijos

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