sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Crítica - O lado bom da vida


Vale a pena prestar atenção neste filme

Sim. O lado bom da vida (Silver linings playbook, EUA 2012) é um “feel good movie”. Daqueles que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood adora prestigiar de vez em quando. Mas o filme de David O. Russell se sustenta muito bem sem esse rótulo. Baseado no romance homônimo de Matthew Quick, a trama acompanha Pat Solitano Jr. (Bradley Cooper). Um homem que acaba de sair de uma clínica psiquiátrica, para onde foi depois de surtar ao ver sua mulher com o amante no chuveiro ao som da música do casamento deles. É de acompanhar a tentativa de readequação ao convívio social e familiar de Pat, que O lado bom da vida se articula. Pat e seu pai, Pat Sr. (Robert De Niro) apresentam algumas fissuras em sua relação. Assim, como o filho, Pat Sr. também apresenta um quadro de transtorno obsessivo compulsivo (TOC), o que amplia o escopo do filme. A figura de Tiffany (Jennifer Lawrence), outra personagem bipolar, acresce estofo a esse painel erigido por Russell. Tiffany e Pat, apresentados por amigos em comum, apresentam empatia instantânea, mas a relação esbarra na teimosia de Pat em reconquistar a mulher que mantém uma ordem judicial restritiva contra ele.
Ao enxergar humor em um tema tão delicado e complexo como transtornos bipolares, e de alinhavar sua trama de maneira tão espirituosa, Russell obtém saldo mais do que positivo ao realizar um filme que propõe um olhar positivo para angústias cotidianas. Não obstante, O lado bom da vida é muito inteligente no híbrido que faz de drama e comédia romântica, conseguindo se conectar e dialogar com públicos díspares. É um feito e tanto potencializado pelo roteiro bem estruturado, com ótimos diálogos e um olhar afiado para o imprevisível, pela montagem bem urdida que sabe sublinhar os méritos do filme e, por último, mas não menos importante, pelo elenco em estado de graça. Se O lado bom da vida chega a ser memorável é por causa de seu elenco inspirado. Bradley Cooper assume o protagonismo da fita com uma desenvoltura ímpar. O personagem bipolar conclama certos clichês que Cooper sabiamente deixa para trás em uma performance inventiva, emocional e fluída com a de Jennifer Lawrence, um dínamo que sabe se mostrar vulnerável e aposta em gestos e olhares para ensejar as explosões e mudanças de humor sempre convincentes de sua personagem. Cooper e Lawrence são os grandes responsáveis pelo encanto que o filme desperta no espectador. Mas atores como Robert De Niro, Chris Tucker (em um bem vindo retorno ao cinema), Jacki Weaver, John Ortiz e Anupam Kher agregam sentimento e graciosidade ao filme.

Cooper e Lawrence: atuações esplêndidas em um filme sem medo de ser feliz

Corajoso na abordagem, honesto no discurso e bem azeitado enquanto cinema, O lado bom da vida faz jus as suas oito indicações ao Oscar (filme, direção, ator, atriz, ator coadjuvante, atriz coadjuvante, roteiro adaptado e montagem). É um filme em que se destacam todas as premências que caracterizam o bom cinema e ainda tem o mérito de fazer o espectador se sentir bem e amparado pelo que vê na tela. Não à toa, a grande epifania do filme gira em torno de “prestar atenção nos sinais”. Vale a pena prestar atenção em O lado bom da vida.

4 comentários:

  1. Bela conclusão, Reinaldo. Realmente, é preciso prestar atenção nos sinais que a vida nos dá. Um filme leve e intenso ao mesmo tempo.

    bjs

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  2. Realmente um bom filme em todos os aspectos, exceto um: o realismo.
    O filme, como a grande maioria dos que abordam esta temática, fica longe da realidade da doença e se baseia majoritariamente em estereótipos. Mas é, de qualquer forma, um grande filme, já que o propósito da história nunca foi traçar um retrato fiel do paciente bipolar.

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  3. Karenin: Não acho que deixe o realismo tão de lado assim Karenin. A opção que o filme faz, que na verdade vem do romance no qual se baseia, é "tirar o peso dramático" dessa situação. Ainda que os dramas dos personagens sejam muito bem dimensionados na tela...
    abs

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