quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Filmografia comentada: Sam Mendes



O american way of life enquadrado
Beleza americana (1999)

Foi um súbito nocaute. Beleza americana é o expoente máximo de um ano dos mais produtivos em Hollywood. Foram três surpresas no campo da direção naquele ano. Os irmãos Wachowski com Matrix, Spike Jonze com Quero ser John Malkovich e Sam Mendes com este filme. O Oscar ficou com Mendes. Isso porque ele desconstruiu mais do que uma família, o conceito que define a família americana. Pelo menos aquela mais comum. Mais suburbana. Beleza americana apresenta personagens eloquentes em suas idiossincrasias que constituem um painel riquíssimo de culto à hipocrisia. O mais interessante desse painel é como Mendes lhe dá forma. Com préstimo do humor negro na concepção de uma mise-en-scène obtusa, imprevisível e profundamente dramática.
O sonho americano nunca foi tão frívolo no flerte com o imponderável. A narrativa poderosa não deixa espaço para dúvidas: nunca o cinema enquadrou tão bem a falência de uma instituição.



Paternidade mafiosa
Estrada para perdição (2002)

O segundo filme de Sam Mendes, naturalmente, provocou doses cavalares de ansiedade. Quando foi anunciado que Tom Hanks e Paul Newman o estrelariam como mafiosos, esse interesse disparou vorazmente.
Mas Estrada para perdição não é um filme de máfia convencional. Antes de ser uma parábola sobre o mundo do crime, é um drama sobre paternidade e autoconhecimento.
Mendes não descuida da atmosfera criminosa, mas faz de seu filme um poderoso drama sobre um homem em busca de intimidade com seu filho.
Com perfeição técnica e desenvoltura narrativa, Estrada para perdição pode não ser exatamente o material que esperavam do diretor de Beleza americana, mas é um filme com alma que captura um homem em conflito com sua natureza. Um dissídio que reverbera no público com profundo impacto.




Guerra mental
Soldado anônimo (2005)

O fantasma da segunda guerra do Iraque já assombrava mesmo com o conflito ainda em andamento. Sam Mendes revisitou a primeira invasão americana naquele país e enquadrou a “primeira guerra tecnológica” com uma perspectiva inusitada. A partir da visão dos jarheads - soldados comuns. Pior do que a guerra é a expectativa pela guerra. Um conceito que Stanley Kubrick já havia dado forma em Nascido para matar (1987) e sobre o qual Mendes aplica novas cores. Um drama pesado e ruidoso que não pretende investigar as rachaduras de uma guerra no ideário de um país, mas escancarar as feridas irreversíveis de um conflito opaco e mais intuído do que visto nos envolvidos.
Mendes prova aqui ser um diretor de inegável senso crítico e salutar interesse cinematográfico. Sua terceira incursão no cinema americano novamente lhe renderia afagos da crítica e participação em premiações.



Infelicidade em estado bruto
Foi apenas um sonho (2008)

Esta fita não deixa de ser uma revisitação aquele universo que tão bem encaminhou Mendes no cinema. Ambientado na América dos anos 50, Foi apenas um sonho demole as fachadas da classe média americana de uma maneira muito mais brutal do que ocorre em Beleza americana. A infelicidade dos personagens, a inadequação de seus sonhos e a falência de suas vocações não são suavizadas pela ironia da realização. Não há subterfúgios narrativos aqui. Tudo é mais chocante, mais premente na construção pessimista de Sam Mendes. A direção é firme e encantadora no sentido de aprumar desvios morais como tentativas desesperadas de alcançar algum significado para a existência. Um filme soberbo na análise que faz da condição humana.

Sam Mendes orienta Leonardo DiCaprio e Kate Winslet no set de Foi apenas um sonho: seu filme mais cruel e bem resolvido



Uma trip em nós mesmos
Por uma vida melhor (2009)

O humor volta a servir como ferramenta para Mendes encapsular a classe média americana e seus anseios. Por uma vida melhor traz dois comediantes que não se furtam à vulnerabilidade que Mendes exige deles na construção de outra história de sonhos e desejos em colisão. O clima é muito mais leve do que os de Beleza americana e Foi apenas um sonho. Até mesmo a ambientação é mais light, contudo, a solução enraizada no cinema de Mendes – ainda que tocada por algum otimismo – não é muito diferente daquela que o diretor apresentou em 1999. Manter-se saudável emocional e psicologicamente em um mundo como o que vivemos, exorta Mendes, é uma tarefa que exige certa dose de cinismo, humor e muito companheirismo.

7 comentários:

  1. Eis um competente profissional, apesar de achar "Foi Apenas um Sonho" somente bom e só, em razão da expectativa que me frustrou um pouco. Tenho muito carinho por "Estrada para Perdição" e pelo subestimado "Por uma Vida Melhor".

    Beijos! ;)

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  2. Boa escolha, Reinaldo. Sam Mendes é um diretor bastante estável, que apesar de ter feito sua grande obra na estreia não decepcionou, apresentando sempre bons trabalhos.

    bjs

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  3. Grande Sam Mendes, sempre ousado e virtuoso em seu trabalho.

    http://cinelupinha.blogspot.com/

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  4. Completa filmografia Reinaldo. De todos os filmes do Sam, acho Estrada Para Perdição o mais fraco.

    "Por uma vida melhor" eu apenas namorei a capinha dp DVD por um longo tempo.

    James Bond irá voltar com o diretor certo.

    Abraço.

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  5. Mayara: Gosto muito de Sam Mendes. Acho-o um diretor muito sensível. Bem, eu, particularmente, acho Foi apenas um sonho fantástico. Só não é superior a Beleza americana.
    Bjs

    Amanda:É verdade.
    Bjs

    Rafael: É verdade (2).
    Abs

    Rodrigo: Irá voltar com o diretor certo sim! rsrs
    Abs

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  6. Gosto muito de Mendes, seus filmes são sempre muito esperados por mim.

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