sábado, 18 de dezembro de 2010

OSCAR WATCH 2011 - Análise das indicações ao Globo de ouro 2011

Os atores Blair Underwood, Josh Duhamel e Katie Holmes apresentaram na última terça a lista dos indicados ao Globo de ouro: polêmicas e indefinições à vista para a HFPA


Existem duas ponderações que se fazem prementes a partir da lista dos indicados ao 68º Globo de ouro. A primeira delas diz respeito ao sentido que reclama para si a Hollywood Foreign Press Association (HFPA), organização que distribui o prêmio. Sentido esse que não é de todo novo. Por cerca de 30 anos o Globo de ouro foi enxergado como um confiável termômetro do que viria a seguir no Oscar. Mais do que a academia, essa condição parecia incomodar a HFPA que, aos poucos, foi redimensionando o status da premiação. Os globos sempre foram conhecidos como um evento de charme inigualável por reunir, sob os mesmos holofotes, o melhor do cinema e da TV. De posse dessa condição, que já flerta descaradamente com uma audiência mais encorpada do que o Oscar, e ciente das sucessivas quedas de audiência que o show de TV Oscar vem tendo, a HFPA apressou esse caráter de distanciamento que vinha imprimindo da academia de cinema. Chamou um inglês de humor afiado para apresentar a cerimônia, o comediante Rick Gervais (ideia que não deu muito certo, mas vale uma segunda tentativa) e assumiram, talvez de forma exagerada, o viés de entretenimento. O que pode ser facilmente abalizado com a injustificável (sob todos os critérios meramente cinematográficos) inclusão da atriz Angelina Jolie (a mais midiática das estrelas hollywoodianas e que por tabela traz consigo Brad Pitt) entre as atrizes indicadas por melhor comédia. Se acrescermos o detalhe que O turista - filme pelo qual Angelina foi indicada - não se trata de uma comédia, o destempero só fica mais evidente. O que nos leva a segunda ponderação: 2010 foi um ano fraquíssimo em matéria de cinema. Pode-se esbravejar com as trapalhadas do Globo de ouro de listar O turista entre as comédias, de ceder ao bilhão de dólares de Alice no país das maravilhas ou ao poder de atração de Johnny Depp que em seu pior ano como intérprete (em Alice ele surpreendentemente está ruim e fora do tom) recebe duas (atenção duas) indicações como melhor ator. Pode-se esbravejar, mas o fato é que não havia muitas comédias boas por aí. E já que essa era a situação, e como a orientação é brindar o entretenimento, quem não quer ver Cher e Cristina Aguilera juntas no tapete vermelho? Ou Johnny Depp com seu cabelo desgrenhado? (a aposta do blog é que ele não comparecerá a cerimônia por ressaca moral)
A crítica americana recebeu com desdém as indicações do Globo de ouro. Mas isso também não é novidade. Novidade foi o desacordo que parece existir dentro da própria HFPA. Depois de receber um pito do Oscar ano passado (enquanto o Globo de ouro premiou o fraquíssimo, mas comercial Avatar, o Oscar premiou o idolatrado pela crítica Guerra ao terror), a tolerância à margem de erro da premiação diminuiu. E a julgar pelas escolhas da correspondente brasileira Ana Maria Bahiana (que você pode ver aqui), não há consenso se os rumos escolhidos pela HFPA são os mais indicados.

Cena de O discurso do rei: com sete indicações, produção britânica veste a roupa de favorita



As disputas principais

Como já é sabido, O discurso do rei lidera a corrida pelos Globos com sete indicações. Contudo, apesar do filme ser o mais acadêmico de todos os concorrentes, seu favoritismo é ocasional. Os filmes A rede social e Cisne negro são muito mais alinhados ao pensamento da HFPA. No entanto, o filme de Tom Hooper não pode ser descartado. Entre as comédias, Minhas mães e meu pai teve seu caminho facilitado pelo caos apresentado na categoria. Apesar de ser um filme que se vale inteligentemente do humor, RED-aposentados e perigosos não poderia ser qualificado como comédia. Contudo, seria, em tese, o único filme com potencial de afanar o prêmio de melhor comédia da fita de Lisa Cholodenko, que, diga-se de passagem, não é nem de longe a melhor comédia do ano.
A disputa por melhor roteiro é uma formalidade. O texto de A rede social é dos mais primorosos que se viu nos últimos anos. O trabalho de adaptação de Aaron Sorkin a partir do livro de Ben Mezrich é fabuloso. Aqui, a vitória do filme de Fincher se não se confirmar será mais uma regressão da HFPA materializada.
A disputa por melhor diretor traz seus meandros. Hooper já foi agraciado com Globos de ouro por produções para a TV, David O. Russel recebe a nomeação como impulso a corrida pelo Oscar, mas sua candidatura não se segura perante os outros três nomes. Christopher Nolan já havia sido esnobado pela HFPA quando apresentou Batman - o cavaleiros das trevas (a HFPA teve que engolir a indicação que o sindicato dos diretores deu a Nolan na ocasião e a situação só não ficou pior porque a academia também negou a indicação ao diretor) e A origem foi um filme que caiu no gosto internacional. É difícil encontrar algum correspondente estrangeiro em Hollywood que não tenha apreciado o filme. Contudo, os melhores trabalhos de direção parecem ser mesmo os de David Fincher e Darren Aronosfky (e o blog ainda não pode cravar sobre o do diretor de Cisne negro). Fincher também concorreu em 2009 (quando Nolan e Aronofsky por O lutador foram negligenciados) por O curioso caso de Benjamin Button. Ou seja, os dois são credores da HFPA. Contudo, o clima parece mais favorável a Aronosfky, um diretor mais ameno, emocional e, ora bolas, simpático. Além do que, Cisne negro, na concepção dominante, faz um retrato muito mais profundo das personalidades investigadas e do universo que se predispõe abordar do que A rede social. E isso pode pesar como critério de desempate.
Na briga por ator dramático deve prevalecer Colin Firth que, além de já angariar alguns prêmios da crítica, traz consigo a estupenda atuação em Direito de amar na bagagem. Jesse Eisenberg deve ser seu principal oponente. Apesar da ótima impressão causada com sua atuação em 127 horas, James Franco parece estar um degrau abaixo nessa disputa. Entre os atores de comédia, Kevin Spacey por Casino Jack e Paul Giammatti por Minha versão para o amor são boas apostas. Entre as atrizes dramáticas é difícil pensar em outro nome que não Natalie Portman, uma favorita da HFPA que já ganhou como coadjuvante por Closer (2004) e que, segundo consta, tem em Cisne negro o melhor desempenho de sua carreira. Contudo, a HFPA pode decidir por dar novo empurrão na carreira de Nicole Kidman que recebeu a única indicação do elogiado Rabbit Hole.

Natalie Portman está na dianteira da disputa pelo prêmio de melhor atriz dramática por Cisne negro



A pergunta é: Será que o antipático Christian Bale será consagrado por jornalistas que dificilmente conseguem entrevistá-lo? Ou a deferência que fizeram a Michael Douglas ao nomeá-lo por reprisar o papel de Gordon Gekko (que já lhe valeu um Globo de ouro) irá se estender? A verdade é que essa categoria está mais aberta do que os prêmios da crítica sugerem e Jeremy Renner (que aos poucos vai virando um astro) pode surpreender aqui.
Entre as coadjuvantes, Helena Bonham Carter (O discurso do rei) podia ser a favorita, mas uma declaração antipática da atriz ao Hollywood Reporter, na última quinta, em virtude de sua indicação ao SAG pode ter aumentado as chances de Jacki Weaver (Animal Kigndon) e posto Mila Kunis (Cisne negro) definitivamente na briga. Carter disse à publicação que uma indicação ao SAG tinha muito mais valor do que uma nomeação ao Globo de ouro. Orgulhos podem ter sido feridos, apesar da atriz não ter dito nenhuma inverdade partindo do seu ponto de vista.
As suposições cairão por terra ou se configurarão em verdades cristalinas no dia 16 de janeiro, quando os prêmios serão entregues em Los Angeles.

4 comentários:

  1. Bela análise do panorama de premiações Reinaldo. Seria interessante não contar com a presença nem de Johnny Depp, nem de Angelina nas premiações no Globo de Ouro... mas não dá para desprezar um evento tão importante?
    Como ficarão marcados para o futuro? Difícil decisão... fato é que foi uma das indicações mais discutidas desses 68 anos de Globo de Ouro.

    Abraço,
    Fernando

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  2. Fernando:Pois é Fernando. A assessoria de imagem desse pessoal deve estar no meio de uma encruzilhada. Mas acredito que eles não devam comparecer mesmo. Depp, pelo peso da dupla indicação, pode até ir (embora eu ache que ele seja menos suscetível a influências de assessorias)... enfim, vamos aguardar o desenrolar dessa história... abs

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  3. Reinaldo, meus sinceros parabéns pelo seu texto de análise dos Golden Globes! Concordo com sua opinião sobre O Turista e os dois protagonistas do filme, acho as indicações realmente discutíveis (assim como grande parte das categorias de comédia), mas o que achei estranho foi a indicação de Michael Douglas como coadjuvante. Ora, seu personagem não seria o centro da trama de Wall Street? Gostei bastante da categoria de melhor atriz dramática, a HFPA parece ter conseguido um belo equilíbrio entre estrelato e merecimento nas atrizes escolhidas (eu gostei muito do pouco que vi nos trailer do filme de Halle Barry). Também achei Mila Kunis muito interessante no trailer de Cisne Negro. Parabéns pelo blog!!

    Um abraço,
    José.

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  4. José: Obrigado pelos elogios José. A indicação de Michael Douglas na categoria e coadjuvante se justifica pelo fato de que a campanha em favor da indicação do ator foi feita por uma vaga nessa categoria. A leitura dos estrategistas era de que ele teria mais chances de indicação nesta categoria. Ele acabou entrando como uma uma homenagem da HFPA a produtora Roni Chasen, assassinada no final de novembro em Beverly Hills, que estava pessoalmente engajada na camapanha.
    É normal acontecer incorreções como essa. Lembre de Kate Winslet por O leitor. Quando aconteceu o processo inverso...
    Grande abraço!

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