segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Crítica - Você vai conhecer o homem dos seus sonhos

De ilusão também se vive!

O novo filme de Woody Allen é certamente a produção mais sombria de sua obra recente. Não que Você vai conhecer o homem dos seus sonhos (You will meet a tall dark stranger, ING 2010) seja um drama carregado de tensões. Contudo, o pessimismo que caracteriza a obra de Allen com certo relevo está amplificado nesta comédia de vocação dramática.
O diretor articula uma ciranda amorosa que reflete expectativas profissionais e emocionais do conjunto de personagens da trama. A postura de Allen perante esses personagens é um tanto ressentida. O diretor recicla antigas fórmulas de seu cinema (e antigas convicções) e chega a um resultado um tanto diferente do aventado em produções anteriores. Aqui, parece nos exortar o cineasta, a ilusão pode ser um poderoso elemento para o tramite da vida.

Um Woody Allen incômodo: Você vai conhecer o homem dos seus sonhos versa sobre expectativas irresolutas e as ilusões a disposição para preenchê-las


Alfie (Anthony Hopkins) decide largar a esposa Helena (Gemma Jones), com quem foi casado por 40 anos, e ávido por uma juventude perdida se enamora por uma garota de programa desengonçada (papel que seria de Nicole Kidman e acabou com a convincente Lucy Punch). Paralelamente a isso temos a filha do casal, Sally (Naomi Watts) que vive o esfriamento de seu casamento com Roy (Josh Brolin) um médico formado que tenta emplacar uma carreira como escritor. Enquanto ela se interessa pelo patrão (Antonio Banderas), Roy se engraça com uma vizinha (Freida Pinto). Pela sinopse, já é possível depreender que Você vai conhecer o homem dos seus sonhos versa sobre expectativas e , invariavelmente, das frustrações inerentes a elas. Sim por que para Allen, elas são inescapáveis. “A vida é cheia de som e fúria e no final não significa nada”, nos lembra o narrador da história ao início e ao findar da fita. A mortalidade (o estranho alto e escuro do título) chega para todos e como lidar com essa frustração primordial? Justamente por isso é Helena quem se sai melhor no quadro pintado por Allen. Ao esmerar-se copiosamente nas previsões de uma vidente (sempre regadas a um gole de uísque), Helena encontra a paz que lhe fora furtada e que parece fugir ruidosamente dos outros personagens. Ao acreditar que viveu na França e que ainda viverá outras vidas radiadas de alegria e prazer, Helena encontrou conforto e supriu o enorme buraco em sua existência deixado pelo marido em crise. Allen, um pessimista crônico, não deixou sua natureza de lado. Aqui o diretor salienta que certas verdades são inescapáveis, mas que as ilusões estão a mercê. Certifique-se, porém, que escolha uma que lhe traga mais conforto e não agonia.

8 comentários:

  1. Verdade, Reinaldo, Helena acaba sendo a válvula de escape, não por acaso o título do filme é direcionado a ela. A frase que o cunhado incrédulo lhe diz quando ela conta que a vidente vê um novo amor em sua vida. Não deixa de ser uma ironia, mas é o indício de que devemos nos agarrar na esperança da personagem para não sair deprimido do cinema.

    bjs

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  2. Embora tenha gostado do filme, achei-o muito amargo. Acho que isso aconteceu porque consegui identificar várias pessoas do meu entorno nos personagens...

    Por outro lado tem sequências ótimas com o Josh Brolin, lá pelas tantas do filme, e aquela em que a personagem da Naomi Watts finalmente resolve dar um crédito para a vidente da mãe.

    Pra variar, adorei as frases com que você fecha o texto. Sábias palavras.

    beijos

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  3. Allen respira cinema em cada nuance. Usa muito bem os planos, a narrativa, diálogos tomadas internas, externas, enfim... Londres é como Nova York de certa forma.

    Achei a Gemma Jones fantástica. O filme é dela e do cineasta que sempre provocou até nas comédias mais leves. Allen é um grande sarrista. Um gênio mesmo. Fazer o que né?
    É igual carne de vaca, sempre é bom. Rs!

    Abs. ótima matéria!
    Rodrigo

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  4. Ainda não assisti o filme.. Preciso me atualizar - ainda mais se tratando de Allen!
    Abração!

    Sandro Azevedo
    blog24fps.blogspot.com

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  5. Sempre tenho boas expectativas em relação aos filmes do Woody Allen. Espero que esse cumpra-as.

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  6. Amanda: É isso que Allen quis passar mesmo. Bjs

    Aline:Mais uma vez tenho de agradecer não só os elogios, como o ótimo olhar Aline. De fato, o filme é meio amargo mesmo. Mas é isso que o faz bom. bjs

    Rodrigo: Não preciso acrescentar nada né?! Enobresceste o espaço!
    PS: Tb achei Gemma Jones genial. Abs

    Sandro Azevedo: Ainda mais se tratando de Allen né? rsrs.Abs

    Kamila: Achei-o inferior a Tudo pode dar certo, mas cumpre as expectativas sim.
    Bjs

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  7. Emprestando o slogan da multinacional conterrânea de Allen: Amo Muito Tudo Isso!

    Abs

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  8. Adorei a analogia. Tb amo muito tudo isso. Abs

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