quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Crítica - Como esquecer

Adaptado do livro homônimo de Myriam Campello, Como esquecer (Brasil 2010) é um filme que se enamora de sua veia literária. Não é algo essencialmente ruim, mas que o enfraquece enquanto cinema. A sensação que fica é que as imagens estão lá por mero detalhe, a diretora Malu de Martino parece não confiar nelas. Nesse sentido, a narração da personagem Júlia (Ana Paula Arósio), abandonada por um amor e sofrendo do que classifica como perplexidade, agrava ainda mais essa problemática. Pois o off dissipa qualquer chance da platéia pensar e interiorizar a dor da protagonista. Esse recurso empobrece as possibilidades narrativas oferecidas pelo cinema.
No filme, a professora de literatura inglesa Júlia é abandonada pela namorada Antônia (a qual nunca vemos) e mergulha em um estado de depressão profundo. O amigo Hugo (Murilo Rosa) se investe da responsabilidade de tirá-la desse estado de catatonia emocional. Algumas sutilezas são bem vindas, como o fato dos três personagens principais estarem as voltas com angústias amorosas de alguma ordem. Cada qual a sua maneira tentam desautorizar a memória forte de um amor que já não desperta bons sentimentos.
Mas detalhes como este não se sobrepõem às más escolhas da realização. O roteiro, escrito por 4 pessoas, também não ajuda. Cenas pouco inspiradas e, muitas vezes, gratuitas como quando se discute a influência da vida de Virgínia Woolf em sua obra tentam cristalizar e sofisticar um filme que nunca excede o clichê.
As performances também são irregulares. Ana Paula Arósio é bem sucedida em tornar uma personagem antipática e pouco carismática em algo digno de atenção. De interesse. A atriz não só se enfeia para o papel da mulher imersa em sua tristeza como o faz com graça. Um paradoxo tão surpreendente que demonstra o talento de Ana que, a julgar por esta atuação, deveria se dedicar mais ao cinema. Murilo Rosa, por sua vez, começa patinando na composição que faz do amigo, também homossexual, de Júlia. Contudo, o ator melhora a medida que o filme se aprofunda no drama da personagem. Os demais atores parecem pouco convincentes em cena, em mais uma demonstração da falta de coesão do trabalho da diretora.
De positivo, Como esquecer traz o tom adequado que falta, ainda, a muitas produções que se esmeram em personagens homossexuais. Não há estereótipos nem panfletarismo na obra. Os conflitos dos personagens são universais e Malu de Martino resiste a tentação de emoldurar um discurso em seu filme.

6 comentários:

  1. É, por algum motivo não tenho grandes expectativas em relação ao filme, porém estou bem curioso em relação a obra.
    abs..

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  2. Eu gostei do filme, principalmente pela sensibilidade de falar de dor, não ser panfletário e pela atuação de Arósio. A questão da literatura que você aponta é verdade, mas combina com a personagem, uma professora de literatura imersa nesse mundo de palavras. Não me incomodou.

    bjs

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  3. Quando me disseram que a personagem da Arósio era lésbica, fiquei interessado em ver. Será que ela ter sido cortada da próxima novela da Globo teve algo a ver com o filme?

    Cultura na web:
    http://culturaexmachina.blogspot.com

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  4. Eu quero muito assistir a este filme. Parece ser um exemplar diferente dentro do nosso cinema!

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  5. Alan: Não há razões para ficar curioso Alan. A trivialidade impera. Abs

    Amanda:Não vi tanta sensibilidade para falar da dor assim não. Vi um filme que não consegue mimetizar a angústia de sua personagem, mesmo com uma boa atuação da atriz. Um exemplo infeliz de má direção. Quanto a não ser panfletário, bem, isso só passa a ser digno de nota quando vc não tem mais virtudes a apontar né? Bjs

    Pseudo autor: Não teve nada a ver. Ela deu o cano na equipe de gravação. Deixou todos esperando em Florianópolis e não apareceu para gravar. Diretores e o próprio Gilberto Braga (autor da novela) ficaram fulos da vida. Daí a geladeira que a Globo promete para ela. Abs

    Kamila: Não achei diferente não. O cinema brasileiro até aborda com certa frequencia o universo homossexual. O diferente aqui é que a coisa não avança do clichê. Corrigindo, até isso é igual...rsrs
    Bjs

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  6. Amei o filme! Esperei um bom tempo pra poder baixar (já que aqui em RP não passou nos cinemas) e não me arrependi! Ana Paula e Murilo estão divinos no papel! Muito bom o filme! Cumpriu lindamente sua proposta. Para ver e rever!

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