domingo, 15 de novembro de 2009

ESPECIAL ABRAÇOS PARTIDOS - Insight

O homem que entende as mulheres


O cineasta Pedro Almodóvar, que inaugurou a seção perfil deste blog, é um homem de profundo talento. Dono de uma obra extraordinária, e vida de igual compasso, o diretor poderia muito bem receber um segundo perfil em Claquete. No entanto, a multifacetada persona de Almodóvar permite que façamos um recorte sobre sua obra e, assim, preservemos o ineditismo do retrato. Uma das características mais marcantes no cinema de Almodóvar são as mulheres. Tanto a atenção e carinho que ele nutre para com elas, em seus filmes, como com as atrizes com que trabalha. Almodóvar estabelece verdadeiras relações monogâmicas com suas musas. Vez ou outra volta a uma antiga colaboradora, como quem retorna aos braços de uma ex-namorada. Já foram musas de Almodóvar Victoria Abril, Carmen Maura, Julieta Serrano, Cecilia Roth e Penélope Cruz. Esta última é quem atualmente goza do fascínio do cineasta. Almodóvar se encanta com Penélope. Derrete-se em elogios a sua musa. “É bela, hipnótica e maravilhosa atriz. Além de tudo é humilde, não tem noção do talento que tem, tamanha a naturalidade com que atua”, disse no último festival de Cannes, onde Abraços partidos concorreu na competição oficial. O cineasta, que embora tenha tido educação católica, se diz ateu, estabeleceu desde o começo de seu trabalho uma forte conexão com as mulheres. Seus filmes que misturavam elementos de religiosidade e sexualidade sempre assumiam um ponto de vista feminino. Muitos atribuíam isso a homossexualidade do cineasta. Uma bobagem, já que por ser gay, você não deixa de ser homem e não há comprovação científica que isso o aproxime mais das mulheres do que homens que se interessem (sexualmente) por elas. Almodóvar tem é curiosidade aguçada, imaginação e ouvidos. Sem dúvida, essas qualidades foram preponderantes para que mulheres do mundo inteiro elegessem Almodóvar como o melhor cineasta do universo feminino. Apenas agora uma mulher aparece para rivalizar com o diretor. A americana Sophia Coppola, no entanto, ainda tem poucos filmes para fazer frente ao cineasta.
A diretora Nancy Meyers uma vez realizou uma grande brincadeira em Hollywood. Seu filme, Do que as mulheres gostam, trazia Mel Gibson com a habilidade de ouvir os pensamentos femininos, recurso esse, que ele logo descobriu valiosíssimo. Para os homens do lado de cá das telas, com dificuldade de entender os anseios e devaneios do universo feminino, o recomendável é uma intensa maratona Almodóvariana.



Veja também :
O perfil do cineasta

3 comentários:

  1. O Almodóvar realmente entende muito bem a alma feminina. Suas personagens são muito bem construídas e são todas mulheres fortes, interessantes, cheias de coisas para oferecer. Suas obras são sempre bem esperadas por mim.

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  2. Não vi todos os filmes dele. Mas amei todos os que vi. Principalmente "Volver". Tem algo bem junguiano nesse filme: o que não ficou resolvido, acaba voltando.

    Beijos,

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  3. Kamila: Tb adoro Almodóvar. Um cineasta cheio de camadas e que faz uso de toda a sua sensibilidade. Seu cinema é sempre riquíssimo. Tb fico super ansioso por seus novos trabalhos.
    Bjs Ka.

    Lella: Oi, Lella, tudo bem? Tb acho que Volver é bem junguiano. Aliás, é clara a intenção terapêutica desse filme, assim como foi seu anterior A má educação. Em ambos almodóvar volta ao seu passado. E fecho com sua brilhante síntese: O que não ficou resolvido, acaba voltando. Almodóvar tentou extirpar suas angústias e traumas no cinema. Será que conseguiu?

    Bjs

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