domingo, 22 de novembro de 2009

ESPECIAL LUA NOVA - Insight

Por que vampiros são tão apaixonantes? E como eles deixarão de sê-lo?

Não é de hoje que o cinema e platéias do mundo inteiro se rendem aos encantos e a fascinação exercida pelos vampiros. Vira e mexe, eles voltam com força total. Atualmente ocupam o topo da cadeia alimentar dos seres mitológicos na cultura pop. Em muito devido ao Edward Cullen da saga Crepúsculo. No entanto, os vampiros, antes da metáfora atual do amor imaterializado e da angústia eterna, já serviram a outras metáforas menos românticas. Voltaire usava a lenda (dos vampiros) para aprimorar seu discurso filosófico e Karl Marx, talvez na mais contorcionista visão que se pôde aferir dos vampiros, relaciona –os ao capitalismo. “O capital é o trabalho morto que, como um vampiro, vive somente de sugar o trabalho vivo e, quanto mais vive, mais trabalho suga.”
Marx e Voltaire são expoentes de uma cultura que se serve de elementos mitológicos e fictícios para explicar, ou tentar explicar, a realidade. E é justamente sobre isso, tentar emular a realidade a partir de seres e universos fantásticos, que versa a ficção científica, lar atual da produção vampiríca. Existem, obviamente, elementos de terror, mas os vampiros representados hoje são muito diferentes daqueles representados nos primórdios. Comparando Edward Cullen e Drácula de Bran Stoker, excetuando-se a tragédia romântica que marca suas trajetórias, não há sombra de similaridade entre eles. Cullen é menos bestial e mais afeito a trivialidades humanas, enquanto que Dracula é imperioso e impiedoso. Mas o que de fato essa diferença sinaliza?
Hoje os vampiros continuam a servir a metáforas como antigamente. Basta olhar para a bem engendrada trama de cunho social da série True Blood, mas essas metáforas perderam força. Diluíram-se em um caldeirão pop de referências e fórmulas. A própria saga Crepúsculo é uma colagem de referências agregada a um discurso casto da América cristã. Não é novo, não é diferente, e motivará mais uma profusão de cópias. O que deve colaborar para a banalização da representação dos vampiros. Reparem que nos cinemas e nos livros, há alguns anos, vampiros só podiam caminhar á noite, hoje, devido a necessidades narrativas, eles já caminham de dia. A “humanização” dos vampiros incide no risco supremo de desglamourizar essas criaturas e tirar-lhes o charme imortal. Afinal de contas, quanto mais se aproximarem de nós, menos interessantes serão. O erotismo, a angústia, o sangue, a depravação, a incorreção, a dor e a repulsa pela humanidade foram os elementos que tornaram os vampiros interessantes para nós. O processo de “humanização” que impomos a eles agora, diz mais sobre nós do que qualquer metáfora que possa ser filtrada de qualquer filme sobre vampiros.

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