terça-feira, 17 de novembro de 2009

Contexto - 500 dias com ela

O que fazer quando a pessoa é certa para mim, mas eu não sou para ela?

Essa dura e dolorida pergunta ecoa pela alma, coração e mente de Tom (Joseph Gordon Levitt) protagonista de 500 dias com ela. No filme, Tom vive um arquiteto frustrado que trabalha em uma firma que cria cartões comemorativos. É lá que ele conhece Summer (Zoey deschanel), bonita, tímida, aparentemente inteligente e com um gosto musical compatível com o dele. Tom cai de amores. De tanto se insinuar e tentar, mesmo que as vezes desarticuladamente, Tom consegue se aproximar amorosamente de Summer. Ela então o adverte. Não está procurando nada sério. Tom, obviamente, sensível e sentimental que é (em uma boa cena ele propaga sua fé no amor enquanto ela o renega), ele fica meio consternado, mas crê que será capaz de derrubar a barreira, que imagina existir em virtude de insegurança ou más experiências amorosas. O tempo passa, a barreira não é superada e Tom e Summer se afastam. Tom recusa-se a tentar esquecê-la, mesmo som seus amigos o encorajando a isso. O curioso, e em virtude disso ainda mais funcional como experiência cinematográfica, é que vemos o filme como quem folheia um diário revivendo lembranças. Os 500 dias do título são entrelaçados sem ordem definida na tela, como que se obedecessem a um sentido emocional, não temporal. Uma lógica bastante incomum para um roteiro de cinema, mas que nós nos lançamos toda vez que um relacionamento acaba de forma unilateral e que somos abandonados a nossa sorte, cheio de angústias, dúvidas e carências. E ao adentrarmos a triste ressaca amorosa de Tom podemos entender melhor as nossas. É, no final das contas, esse o grande intuito do filme. Mostrar que relacionamentos amorosos são inerentes à vida em sociedade e que o destino, apesar de não gostarmos tanto da idéia do aleatório, pode ser tão preciso quanto a mega sena. Como explicar que alguém seja certo para você e que você não seja certo para esse alguém? Isso é algo extremamente particular. 500 dias com ela brinca com clichês. Afirma, renega e parodia esse conceito vigente de que devemos estar sempre em busca da pessoa certa.
Outros filmes já abordaram a mesma questão sobre outros ângulos. No recente Terapia do amor, Uma Thurman fazia uma mulher com um histórico de problemas amorosos que se apaixona por um cara bem mais jovem que ela. O romance não dura muito, mas devolve a ela a auto estima. Eles eram muito diferentes, queriam coisas diferentes da vida naquele momento, mas o relacionamento fez bem para ambos na esfera intima. Separados pelo casamento é outro filme que questiona esse “felizes para sempre”. O que anos de desgaste fazem com um casal apaixonado? A solução de Separados pelo casamento é sincera e generosa. Como o é, o final de 500 dias com ela. A resposta da pergunta que dá título a esse texto deve ser respondida por cada um para si próprio. Em 500 dias com ela Tom teve a cortesia de abrir a reposta dele para o público.



Se você gostou do tema abordado em 500 dias com ela e nesse artigo e deseja explorá- lo sob outras perspectivas, Claquete recomenda:

Terapia do amor, de Ben Younger (Prime, EUA 2005)
Separados pelo casamento, de Peyton Reed ( The break up, EUA 2006)
Vick Cristina Barcelona, de Woody Allen ( ESP 2008)
Igual a tudo na vida, de Woody Allen (anything else, EUA 2003) )
As pontes de Madison, de Clint Eastwood ( The Madison Bridge County, EUA 1996)
A razão do meu afeto, de Nicholas Hytner (the object of my affection, EUA 1998 )

4 comentários:

  1. Parabéns Monsieur G! Como sempre, um cinéfilo sensível e sensato, já é meu MUSO!

    Ainda que eu não tenha assistido este filme, penso que se encaixará perfeitamente na perspectiva que fui tendo com a maturidade sobre algumas facetas de relacionamentos amorosos que todo o ser humano deveria desenvolver , inclusive não o romantizando tanto, não jogando uma responsabilidade de ser idealizado sobre o(a) parceiro(a) e questionando também este "felizes para sempre", principalmente dentro dos moldes que fomos condicionados a alimentá-los na sociedade. Pode parecer cético pensar assim, mas ser realista e questionador com uma boa dose de humor, fincados com os pés no chão nos fazem pessoas melhores e com menos chance de mutilar nossos pobres corações.

    A verdade é que nós nos cobramos muito quando nos apaixonamos perdidamente e projetamos nossa vida na outra pessoa como se ela fosse ser responsável por ela e por todo um ideal de felicidade. Acabamos desgastando a relação e/ou perdendo a oportunidade de suavizá-la e aprendermos com ela. Pior ainda quando não somos correpondidos por alguém e, ainda assim, achamos que ela será perfeita para nós. Como alguém pode ser perfeito se ela não se vê ao seu lado? Nos pegamos gostando do inacessível como em uma relação sado-maso. "Eu o(a) amo mas ele(a) não está nem aí para mim."


    Não há problema em apaixonar-se perdidamente. Intensidade no amor é bem vindo e pode ser genuinamente saudável, mas concordo com o que disse sobre o filme Terapia de amor. Envolver-se amorosamente pode trazer outros benefícios do que somente insistir em uma espécie de fairy tale moderno. Muitas vezes em idealizarmos o amor, perdemos oportunidades reais. Uma vez me envolvi com uma pessoa totalmente fora do "padrão" de ex-relacionamentos e uma relação que não tinha futuro porque não tinhamos nada a ver em várias questões , mas não nego: foram alguns dos momentos mais divertidos e insanamente irresistíveis que vivi de uma forma leve e carinhosa mas também indo nos extremos da intensidade da paixão e isso fez toda a diferença como encaro hoje os relacionamentos mais profundos e relevantes para mim.

    Acho que também trabalhar um roteiro mais emocional e, de forma inteligente em linha com o como não "temporalizamos" nossas próprias lembranças e ficamos insistindo em não esquecer um amor, mergulhados em aleatórios marasmos sentimentais que vem à memória irá ajudar o público a se enxergar na situação. Parodiar o próprio sentimentalismo, focar uma ressaca emocional, etc é altamente revelador.

    Beijos da Madame!

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  2. Poxa madame, obrigado pela reflexão, a qual eu concordo inteiramente. Seu depoimento aqui, motivado pelo artigo da seção contexto, me deixa muito feliz.
    Bjs

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  3. tô pra ver esse filme a dias..mas depois da tua critica, desse sábado não passa...valeu!!

    abraços!!!

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