domingo, 24 de março de 2013

Insight - Quando os bastidores decidem



Desde que foi anunciada a produção de Jane got a gun, Claquete dedicou atenção especial ao projeto em sua página oficial no Facebook. Isso porque o filme, um western em que uma mulher precisa lavar a honra do marido depois que ele é traído por seu bando, seria estrelado por Natalie Portman e Michael Fassbender, que já trabalham juntos em outro projeto do cineasta Terrence Malick, e dirigido por Lynne Ramsay - a diretora do excepcional Precisamos falar sobre o Kevin.
A ideia de ter um western, gênero tão prolixo em símbolos, dirigido pela diretora do filme mais prolixo em símbolos dos últimos anos é sedutora, assim como o é a perspectiva de um western protagonizado por uma mulher e dirigido por outra. A última referência no gênero com características remotamente semelhantes é de 1995: Rápida e mortal, estrelado por Sharon Stone e dirigido por Sam Raimi.
As boas expectativas aumentaram quando nomes como Rodrigo Santoro e Joel Edgerton foram integrados ao elenco.

Lynne Ramsay e seu substituto, Gavin O´Connor, em Jane got a gun: diretores competentes, mas cultivadores de linguagens e abordagens distintas no cinema

Spielberg e Mendes com o Oscar
conquistado por Beleza americana:
o
primeiro para o estúdio fundando
por Spielberg
Na última semana, porém, às vésperas do início das filmagens, os bastidores eclipsaram a boa expectativa acerca da produção. Primeiro foi Michael Fassbender quem teve que desistir do projeto em virtude de conflitos de agenda. O problema é que ele já estava contratualmente vinculado à sequência de X-men: primeira classe e a concomitância das filmagens inibia sua participação em ambas as produções. Depois, na última terça-feira, primeiro dia de filmagens, a diretora Lynne Ramsay simplesmente não compareceu ao trabalho. Não houve uma justificativa oficial para sua desistência, pelo menos não houve transmissão à impressa de uma. O mal estar tomou conta da produção e ainda que o produtor Scott Steindorff tenha agido rápido e anunciado o competente Gavin O´ Connor como substituto de Ramsay, o interesse pela produção se transmutou. Jude Law, que havia entrando para o elenco em substituição a Fassbender, desistiu do projeto sob alegação de que estava interessado em trabalhar com Ramsey. Ainda que nomes como Tobey Maguire e Jake Gyllenhaal disputem o papel abandonado pelo inglês, é fato que Jane got a gun perdeu muito de seu apelo. Primeiro pelo já intenso troca-troca nos bastidores. Segundo porque antes, o filme seria estrelado por um dos atores mais quentes do momento (Fassbender) e dirigido pela que é hoje a diretora mais interessante em atividade no cinema. Esse status mudou. O que não quer dizer que tenha se tornado um projeto desinteressante, mas certamente não detém o apelo de outrora. Desconhece-se as razões que motivaram a desistência de Ramsay. Poderia ser a impossibilidade de trabalhar com Fassbender? Talvez. Certo é que nunca veremos o filme que Jane got a gun poderia ter sido se fosse adiante com sua força criativa original. 
Isso é mais comum no cinema do que se imagina. Beleza americana, por exemplo, era um filme que seria originalmente dirigido por Steven Spielberg. Colateral, thriller de Michael Mann em que Tom Cruise faz um assassino profissional, foi pensado como uma comédia e oferecido a Fernando Meirelles. Will Smith era a escolha da Warner para ser o Neo de Matrix e já é célebre a informação de que Tom Selleck era o Indiana Jones dos sonhos de Spielberg e Lucas.
Mais recentemente, Darren Aronofsky abandonou a pré-produção do novo filme de Wolverine por discordâncias com o estúdio.
Às vezes, a qualidade de um filme é decidida antes do primeiro grito de ação em um set de filmagens.  Não se conjectura que Jane got a gun está fadado a ser um filme ruim ou que agora se tornou mais comercial. Apenas se ilumina que Hollywood, mais do que se imagina, é um cemitério de muitos “se”. E isso pode ser tão bom quanto é ruim.

3 comentários:

  1. É, uma pena as mudanças, lembro das expectativas suas desde os primeiros anúncios. Mas, como você também falou, tudo pode acontecer. Para o bem ou para o mal. Vamos torcer.

    bjs

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  2. Acompanhei, nesta semana, as notícias por trás da dança de cadeiras dos diretores e de membros do elenco de "Jane Got a Gun". Acho que, quando um projeto começa problemático, dificilmente se recuperará. Os problemas, ao que tudo indica, começaram ainda na pré-produção... Infelizmente, para os nomes envolvidos, que são bons, deve ser um filme que vai dar em nada...

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  3. Amanda: Nos resta torcer e observar...
    bjs

    Kamila: Não sei. Pode até sair coisa boa, mas a sombra do que poderia ter sido será poderosa...
    Bjs

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