terça-feira, 19 de março de 2013

Espaço Claquete - Blow out: um tiro na noite


Brian De Palma é um cineasta que dispensa apresentações. Mesmo assim é sempre válido apontá-lo como um dos mais fiéis e talentosos seguidores de Alfred Hitchcock. Seguidor porque diferentemente daqueles que são influenciados pela obra de Hitch, De Palma o emula minuciosamente em filmes imaginativos e que em nada ficam a dever ao grande mestre. Blow out – um tiro na noite (Blow out, EUA 1981) é um desses picos de criatividade do cineasta que fariam Hitchcock orgulhoso.
Jack Terry (John Travolta) é um sonoplasta que enquanto grava sons para utilizar como efeito sonoro nos filmes nos quais trabalha acaba gravando um acidente de carro. Nessa gravação, no entanto, ele captura um som que o faz crer que o acidente, na verdade, fora provocado por um tiro. O fato de a vítima ser um governador cotado para concorrer à presidência eleva suas suspeitas.
Um tiro na noite começa com um dilema: Terry e Sam, o diretor de um filme de terror passado em uma universidade, não conseguem achar o grito ideal para uma cena de assassinato à facadas em um chuveiro. A metalinguagem com o cinema de Hitchcock é sempre conduzida com extrema sofisticação por De Palma, mas em Um tiro na noite, atinge o ápice de criatividade e reverência.
Terry salva do afogamento certo uma garota que fazia companhia ao governador. É ainda no hospital que ele percebe que aquele caso não cheira bem. Primeiro, a polícia não parece interessada demais no acidente que pode não ter sido um acidente, depois, a equipe do governador quer tirar a garota “da cena” para evitar embaraços para a família dele. Terry decide fazer uma investigação paralela e é aí que o gênio de De Palma brilha intensamente.
Desalinhando a trama com contundência e parcimônia, De Palma vai revelando uma intrincada conspiração que se alimenta do clima de paranoia da época da guerra fria. A ameaça comunista é um fantasma citado vez ou outra, mas é a face assustadora de John Lithgow, como o capanga responsável por aparar as arestas do plano conspiratório, que imprime o ar hitchcockiano definitivo a Um tiro na noite.
Não há nada fora do lugar no filme. Desde a mise-em-scène robusta, passando pelos conflitos dos personagens e culminando no final desorientador em sua grandeza cinematográfica. De Palma realiza um filme cheio de energia, com pulso de noir, verve de fita policial setentista e jeitão de ode ao cinema. Obrigatório!

3 comentários:

  1. Brian de Palma é, sem dúvida, um dos grandes diretores de cinema de todos os tempos. Não assisti ainda a esse filme, mas, pelo seu texto, dá para perceber que se trata de uma obra excelente e indispensável para qualquer cinéfilo. Anotei a dica.

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  2. É isso aí Reinaldo! Mais um ótimo texto. Concordo com você que o De Palma foi o seguidor mais fiel de Hitchcock, principalmente nas imaginações e rubricas poéticas em alguns filmes que homenageiam Hitch. O meu predileto é "Vestida Para Matar" que é Psicose na veia. Amo 'Carrie', 'Dublê de Corpo' e achei 'Femme Fatale' subestimado, citando alguns. Precisaria rever "Blow Out" que tb deixa claro sua fixação pelo mestre do suspense. Outros cineastas tb o fazem, como Shyamalan, por exemplo, mas o De Palma foi o mais "gritante" neste sentido. Pena que hoje anda sem a mesma vibe. Ainda não vi o recente dele, "Passion".

    *Adoro a Nancy Allen neste momento da carreira. Infelizmente, depois só lembro dela em "Robocop"!

    Abs.

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  3. Kamila: I hope you like it!
    Bjs

    Rodrigo Mendes: "Dublê de corpo" é mesmo genial. Adoro De Palma e revi esse filme recentemente no Telecine Cult. Não me recordava que era tão bom...

    Abs

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