quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Crítica - Os nomes do amor

Política, romance e toda a sacanagem envolvida!

Vem da França a comédia romântica política definitiva. Esse subgênero é tão ímpar que o leitor deve estar procurando alguma referência. Não há. Os nomes do amor (Le nom des gens, FRA 2010) é o primeiro filme que consegue comportar os dois conceitos “romance” e “política” sem aferir prejuízo a nenhum deles. A ótima fita americana Três vezes amor (2008) conseguiu conciliar política e romance, mas ali a política surgia mais como pano de fundo em construções sutis.
A ideia do diretor Michel Leclerc é mesmo fazer um filme político, mas ele subverte expectativas ao politizar um romance. Ou seria romantizar uma obra política? Não importa. Os nomes do amor agrada tanto quem busca um filme que discuta com relativa profundidade as políticas francesas para imigração quanto para quem busca uma comédia romântica com roupagem original.
Bahia (Sara Forestier) é filha de um imigrante ilegal argelino e de uma francesa de forte identificação com a esquerda, enquanto que Arthur Martin (Jacques Gamblin) é filho de um casal de conservadores entusiastas de novas tecnologias e ele mesmo um conservador moderado.

Esses dois tipos tão distintos se cruzam em virtude de uma característica muito peculiar de Bahia. Ela acredita ser capaz de converter conservadores em liberais ao levá-los para cama. A promiscuidade política da personagem (ela mesma se define como “prostituta política”) é um achado. Além de ser um comentário cínico sobre a direita se deitando com a esquerda na França de Sarkozy.
O romance liberal que se estabelece entre os dois é um dos atrativos dessa comédia inteligentemente picante. Há ainda outras boas sacadas como os alter-egos dos protagonistas, na figura dos próprios mais jovens provendo conselhos a seus pares mais velhos; os tabus familiares; as idiossincrasias dos pais de ambos e toda a evolução política francesa que serve de pano de fundo para o desenvolvimento da história de amor do casal.
Há nudez. Há sexo. Há política e há ótimas piadas misturando tudo isso.
Leclerc confia na boa química de seus atores e na altivez do texto que escreveu junto com Baya Kasmi. Seu maior acerto, no entanto, foi a opção por transformar um tema geralmente espinhoso em um entretenimento leve. Não há uma sátira política, há um romance em que posições políticas contam mais do que quaisquer outras posições. A dificuldade em classificar ou mesmo em encontrar referências só comprova a bem sucedida fórmula de Leclerc. Ele fez o filme que Arnaldo Jabor sempre sonhou em fazer e não conseguiu. Um tremendo de um achado em termos de filme romântico ou de crônica política. Não importando o escopo de análise do leitor.

5 comentários:

  1. Esse filme está na minha lista, mas ainda não tive tempo para assistir.

    Pelo seu texto o filme parece muito interessante, mal posso esperar para ver :)

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  2. Comédias românticas não parecem ser uma regra do cinema francês. Que bom que este filme é uma ótima exceção! Anotei a dica aqui, pra conferir assim que tiver a oportunidade.

    Beijos!

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  3. É, esse ainda não conferi também, mas parece mesmo interessante.

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  4. Esse filme é muito bom! Tanto que quase me fez perder o medo de cinema francês, rsrsrs
    A cena em que o Arthur conhece os pais da Bahia num casamento é impagável!
    E adorei o seu toque maldoso, Rei: "Ele fez o filme que Arnaldo Jabor sempre sonhou em fazer e não conseguiu" :P

    Bjs

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  5. Película Criativa: Saudades de vc comentando por aqui!O filme é muito bom sim. Suspeito que vc vá gostar.
    Bjs

    Kamila:Mas filmes politizados são regra no cinema francês. E esse aqui não é exceção.rsrs. É uma outra forma de olhar... O filme é bom de qualquer jeito.
    bjs

    Amanda: E é.
    Bjs

    Aline Viana: Sempre atenta às sutilezas Aline. rsrs.Pois é, Jabor construiu uma filmografia para falar de hipocrisias, direita e esquerda, mas nunca se permitiu ser tão leve e assertivo...
    Obrigado.
    Bjs
    bjs

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