terça-feira, 29 de março de 2011

Crítica - Não me abandone jamais

Sobre humanidade...


Não me abandone jamais (Never let me go, EUA/ING 2010) é um filme de profunda humanidade. É possível afirmar que esse componente vem do livro homônimo de Kazuo Ishiguro, no qual a fita se baseia, mas o roteiro de Alex Garland e a sensível direção de Mark Romanek a acentuam.
Tommy (Andrew Garfield), Kathy (Carey Mulligan) e Ruth (Keira Knightley) são três amigos que cresceram juntos em um internato inglês. Em um momento da adolescência, os três descobrem que são clones e que foram “desenvolvidos” para doar seus órgãos até quando puderem resistir.
Não me abandone jamais é construído em sutilezas. Não existe a preocupação de discutir a ética, tão pouco em alinhavar um drama de cores fortes. O interesse em discutir a humanidade se estabelece na medida em que se atém ao sentimento que aqueles jovens sentem um pelo outro e como a inocência vai perdendo espaço para a desesperança.

O sentimento em primeiro plano: Romanek se fixa em seu trio de protagonistas e acerta em cheio



Romanek é hábil ao focar a ebulição do medo, ansiedade e desorientação flagrante em jovens cientes de sua finitude. Tudo o mais que o espectador sentir ao perceber isso é um ganho implícito da força de um roteiro que não se preocupa em ser matizado pelo politicamente correto e de atuações cheias de verdade e carinho.
Andrew Garfield mostra com seu Tommy porque 2010 será irremediavelmente lembrado como o seu ano. Uma interpretação tão comedida e, ao mesmo tempo, tão evasiva que faz salivar pelos próximos trabalhos do ator; e temer que o papel como Homem aranha o limite.
Keira Knightley é outra que, mesmo com pouco tempo em tela, brilha em uma atuação sem vaidades e em plena sintonia com sua personagem.
O que mais instiga em Não me abandone jamais é o poder das sutilezas. Das sugestões escondidas. É um filme que deseja repousar com o espectador. Mesmo que o incomode profundamente. É humano ao nos apontar para nós mesmos e cinematográfico ao nos privar de nós mesmos. É dessa bifurcação poética que a força do filme se erige.

7 comentários:

  1. Estou doido para conferir, mas acho que terá que ser em DVD. Até agora nem sinal dele nos cinemas de minha cidade! Enfim, na espera!

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  2. Estou curiosa com esse filme, aqui em Salvador só estreou em um cinema um pouco longe do meu caminho diário, vou tentar chegar até lá antes que saia de cartaz.

    bjs

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  3. Sua opinião é a mais positiva que eu li sobre esse filme, dentre os amigos blogueiros cinéfilos.

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  4. Alan:Que pena.Mas o filme é bom. Vc vai gostar! abs

    Amanda:Espero que vc consiga ver. Bjs

    Kamila:Espero que ajude na sua percepção do filme. Bjs

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  5. Olá Reinaldo!
    Tive uma reação bem diferente de você quanto a esse "Não me Abandone Jamais". Acho o plot interessantíssimo, mas acho que o filme se sabota pela própria ingenuidade. E eu tentei (como sempre faço) me embarcar na história, mas não achei sinal para me sensibilizar ou me emocionar com esses personagens, que, acima de tudo, irritam pela passividade.

    Carey Mulligan arrebenta, como em quase tudo o que a garota se mete ultimamente, ela é uma das melhores revelações no cinema que tivemos aí nos últimos anos. Mas não digo o mesmo de Andrew Garfield, nem Keira Knightley, cujos personagens também não contribuíram nessa equação.

    A ambientalização do filme, por outro lado, é belíssima, principalmente a trilha sonora de Rachel Portman, uma compositora que sempre achei repetitiva, mas que aqui, entrega seu melhor trabalho.

    Repito, tentei ser levado pelo filme, mas ele não me conquistou. Pelo contrário, acho excessivamente bocó e um material desperdiçado nas mãos de um diretor que não conseguiu amarrar as pontas. Infelizmente.


    abração!

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  6. Elton: Acredite, entendo sua decepção. A passividade dos personagens pode incomodar. Mas creio que isso não desmereça o filme. É dos personagens que vc se ressente. Romanek trata da humanidade, como eu aponto, com muita sutileza. A ideia não era vicejar um drama de cores fortes. Que emulasse indignação. Pode-se ponderar a respeito da necessidade de conceber um filme que não avance na questão ética, mas não afirmar que por não fazê-lo ele se torne obrigatoriamente insatisfatório.
    Enfim, é uma questão vinculada a sua expectativa e sei que dificilmente sua percepção mudará, mas rogo-lhe que considere essa alternativa.
    Aquele abraço!

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  7. Pois é, Reinaldo. Também achei simbólico sobre a humanidade e todas as suas questões. Dá um nó na garganta.

    bjs

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