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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Especial Gravidade - Os dez melhores filmes que se passam no Espaço

James Cameron falou que Gravidade é o melhor filme já feito sobre e no espaço. Mas como o filme ainda está por viver seu apogeu nos cinemas de todo mundo (e no Oscar?), Claquete apresenta uma lista com os melhores filmes que já integram essa galeria que parece destinada a ter no novo filme de Alfonso Cuarón, o seu expoente máximo.



10 – Tropas estelares (Starship troopers, EUA 1997), de Paul Verhoeven
Deliciosamente trash, essa ficção científica com pegada do cineasta estrangeiro mais cascudo a ter trabalhado no esquema de Hollywood, mostra a humanidade enfrentando uma raça alienígena com pinta de insetos gigantes. O filme não se passa todo no espaço, mas tem cenas muito bem urdidas por Verhoeven. Cenas estas que ganham muito mais destaque pelo orçamento irrisório que o diretor teve a sua disposição. 

9 – Planeta 51 (Planet 51, ESP/ING 2009), de Jorge Blanco e Marcos Martinez
Outro que não se passa inteiramente no espaço, mas propõe um trocadilho interessante: e se nós fôssemos o alienígena? Essa divertida animação mostra justamente isso quando o capitão Charles T. Baker (voz de Dwayne “The Rock” Johnson) acredita ser o primeiro ser vivo a chegar em um planeta, mas descobre que é o invasor e que seres esverdeados são os habitantes do planeta muito similar ao nosso. 

8 – Apollo 13 – do desastre ao triunfo (Apollo 13, EUA 1995), de Ron Howard
Três astronautas americanos a caminho de uma missão na Lua sobrevivem a uma explosão, mas precisam retornar rapidamente à Terra para poderem sobreviver, pois correm o risco de ficarem sem oxigênio. Ron Howard realiza um filme brilhante e emocionante, finalista no Oscar em diversas categorias, e tido por muitos como o mais lisonjeiro comercial da Nasa.

7 - Heróis fora de órbita (Galaxy quest, EUA 1999), de Dean Parisot
Uma sátira para lá de bem bolada com Star trek. Astros de uma série de tv cancelada são confundidos com verdadeiros heróis intergalácticos por um grupo de aliens que os convocam para intervir em uma guerra espacial e precisam convencer no “papel de suas vidas”.

6 - Além da escuridão – Star Trek (Star Trek: into darkness, EUA 2013), de J.J Abrams
Esse tem até cena na Terra, mas a grande maioria se passa no espaço. Trata-se do filme de maior teor político dessa lista. O espaço jamais foi tão mimético da condição humana desde que Kubrick nos levou até lá. De quebra, o filme apresenta um dos vilões mais impactantes dos últimos anos.

5 - Lunar (EUA, 2009), de Duncan Jones
Com ecos de 2001, a estreia do filho de David Bowie no cinema é um filme de imenso impacto e potência narrativa. Sam Rockwell faz um astronauta que cumpre missão na lua e, às vésperas de terminá-la, faz descobertas desestabilizadoras.

4 - Solaris (Rus, 1972), de Andrei Tarkovski
Concebido como o “anti 2001, em mais uma demonstração da influência da obra-prima de Kubrick, o filme russo – que depois teria uma refilmagem americana puxando a sardinha para 2001, mostra um psiquiatra enviado a estação especial que orbita o planeta que dá nome ao filme para investigar fenômenos estranhos que andam acontecendo por lá.

3 - Sunshine – alerta solar (Sunshine, EUA/ING 2007), de Danny Boyle
Mais um filme sob forte influência de 2001. Aqui Danny Boyle constrói uma parábola sobre loucura e destino ao focar na tripulação da Icarus II, enviada ao espaço para tentar evitar o desaparecimento do sol. Uma ficção científica clássica em suas proposições e acadêmica na forma e no seu desenvolvimento.

2 - 2001 – uma odisseia no espaço (2001: a space odissy, EUA 1968), de Stanley Kubrick
Como assim não é o primeiro colocado da lista? Os muitos predicados de 2001 já se mostraram pulverizados na confecção dessa lista. O que é um primeiro lugar nesses termos? Nada demais. O filme de Kubrick não só inventou a viagem espacial no cinema, foi lançado antes mesmo do homem pisar na lua, como teve o mérito de impregnar na ficção científica a textura de gênero máximo das metáforas e análises profundas sobre o homem e o meio.

1- Alien – o oitavo passageiro (Alien, EUA 1979), de Ridley Scott
No espaço, ninguém ouvirá você gritar. O slogan matador já entrega o que nos espera. Nenhum outro filme mimetizou tão bem nosso medo do desconhecido como esse clássico mor de Ridley Scott. Sob todos os prismas, esse filme é o cúmulo da perfeição. Ação, suspense, terror e a concepção da ficção científica casca grossa no cinema.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Especial Elysium - O dia depois de amanhã

Futuros distópicos voltam à ordem o dia com a estreia de Elysium nos cinemas brasileiros, mas eles estão sempre em pauta quando o assunto é ficção científica casca grossa no cinema. Claquete selecionou dez filmes que focam na distopia que os criativos e pessimistas escribas de Hollywood (ou da ficção científica literária que Hollywood se serve) alinharam para o futuro da humanidade.

Matrix (1999)
A humanidade é totalmente controlada pelas máquinas, mas rebeldes desejam reaver o livre arbítrio em um filme que embala o futuro apocalíptico com filosofia, kung fu e gadgets hi-tech.

Blade runner – o caçador de androides (1982)

Colonização espacial, replicantes, alterações genéticas... tudo faz parte do escopo do mais influente filme de ficção científica da história do cinema. O clássico de Ridley Scott coloca Harrison Ford no centro de um motim de replicantes que facilitarão descobertas inimagináveis.  

Fuga no século XXIII (1976)

A vida é perfeita no século 23, mas só se pode viver até os 29 anos. Logan (Michael York) é um caçador de fugitivos que, mesmo ciente dos riscos, resolve também ele fugir quando chega a hora de ser executado.

O livro de Eli (2010)

Em um futuro devastado por uma terceira grande guerra, Denzel Washington é o Eli do título que guarda o que acredita ser a esperança da humanidade. Com canibais à espreita e escassez de água, ele precisa completar sua jornada.

Brazil – o filme (1985)

A luta de classes dá o tom nessa comédia distópica de Terry Gilliam que virou objeto de culto.

A estrada (2010)

Premissa parecida com a do filme de Denzel Washington, mas nessa adaptação da obra de Cormac McCarthy tudo é mais intimo e grave no acompanhamento que se faz da luta pela sobrevivência de um pai e seu filho em uma América devastada e sem rumo.

Os 12 macacos (1995)

Mais um de Terry Gilliam na lista. Bruce Willis, em 2035, é um homem que aceita voltar ao passado para desvendar o mistério em torno de um vírus mortal que dizimou grande parte da humanidade. No passado, no entanto, é tomado como louco e levado para um hospício.


Gattaca  - a experiência genética (1997)

Em um futuro em que os humanos são criados geneticamente em laboratórios, aqueles concebidos naturalmente são considerados inválidos.

Repo men – o resgate de órgãos (2010)

Em um futuro próximo, a sociedade utiliza os serviços da empresa The union, que fornece sofisticados e caros órgãos mecânicos para seres humanos. Se a pessoa não for capaz de pagar pelo que recebeu, entram em cena os coletores.

Minority report - a nova lei (2002)

Tom Cruise e Steven Spielberg juntam forças para mostrar que a corrupção chegou a um futuro onde o culpado por um crime é preso antes mesmo de cometê-lo. Baseado em conto de Philip K. Dick, Minority Report apresenta questionamentos morais que se bifurcam e se confrontam.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Especial Elysium - A ficção científica como espelho do real


Elysium é um filme sobre os ricos ficando mais ricos, os pobres ficando mais pobres e a distância entre eles ficando mais extrema”. Assim define seu segundo e elogiado longa-metragem, o cineasta sul-africano Neill Blomkamp em entrevista à revista Total Film. Não é, porém, exclusividade de Elysium essa obstinação de usar a ficção científica como espelho de um mundo em frequente e preocupante transformação social. Nos anos 80, Ridley Scott e Terry Gilliam já faziam isso e Blomkamp, um garotão de 33 anos, sabe disso. “O legal é você pegar as suas ideias é colocar lá. Não reciclar o que já está aí”, disse à Entertainmet Weekly o diretor que em 2009 impressionou o mundo com seu debute no cinema: Distrito 9.
A ficção científica costuma ser palco para críticas sociais de intensidade e densidade diversas. Do influente Blade runner - o caçador de androides (1982) ao diversionista O livro de Eli (2010), o gênero costuma fornecer alguns dos mais valorosos e ultrajantes insights sobre nossa contemporaneidade.
J.J Abrams lançou em 2013 o segundo filme Star Trek sobre sua autoria com uma invejável construção política que rendeu comparações com atuação dos EUA no Oriente Médio e no desenrolar da guerra fria no final dos anos 80 e como isso repercutiu no cenário geopolítico atual. As comparações procedem especificamente no tangente às motivações do ótimo vilão interpretado por Benedict Cumberbatch.

 Cumberbatch capturado em cena de Star trek: além da escuridão: a ficção como espelho do real

Blomkamp levando aquele lero com Matt Damon no set de Elysium: "sempre quis fazer ficção científica", disse à Total Film

X-men –primeira classe (2011) é outro exemplo recente de produção calcada na ficção científica que favorece um espelho do real em suas intermitências políticas e sociais. A ruptura de Xavier e Magneto, tão bem engendrada no filme, é signo das diferenças de pensamento que caracterizam, por exemplo, o imbróglio na Síria e toda a guerra ao terror - para extravasarmos a metáfora com o racismo .
Há, ainda, filmes menos ambiciosos no encapsulamento do real. Alguns exemplos que podem ser citados são Repo men – o resgate de órgãos, sobre o mercado negro de órgãos oficializado no futuro, e Contágio, sobre a fragilidade humana em face de pandemias biológicas ou químicas.
Os exemplos da potência da ficção científica em traduzir e refletir a realidade são vastos, ricos e por vezes tão complexos quanto seu objeto de inspiração.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Crítica - Depois da terra

Em mil anos, quem sabe?

Dizem as más línguas que Depois da terra foi feito a pretexto de uma extravagante terapia familiar entre o paizão Will Smith e o filho pródigo (?) Jaden, a quem Will prepara para ser uma espécie de sucessor no mainstream americano. Dando uma olhada na trama de Depois da terra (After Earth, EUA 2013) dá para averiguar certa procedência na boataria. No filme, papai Will - como o general Cypher - também prepara seu filhote – aqui denominado Kitai – para o futuro.
A ideia de Depois da terra, o argumento foi escrito pelo próprio Will, é boa. Mil anos no futuro, a humanidade colonizou outros planetas depois da Terra ter se tornado inabitável. Durante uma viagem espacial, a nave em que Cypher e Kitai estão cai na Terra e o pai, com uma grave lesão nas pernas, tem que guiar o filho em um planeta inóspito para recuperar um dispositivo capaz de sinalizar onde eles estão para que possam ser resgatados.
O problema é que o desenvolvimento é tão pobre que se custa a acreditar que Depois da terra seja, também, um filme de M. Night Shyamalan, sob qualquer perspectiva o cineasta mais maldito da Hollywood atual. Apesar de uma produção cara, cerca de U$ 150 milhões de orçamento, não há preocupação em dimensionar esse universo e como Depois da terra chega depois de Avatar (2009), tudo parece rascunho descartado do filme de James Cameron. Até mesmo os efeitos especiais pouco entusiasmantes.
Não bastasse tudo no planeta Terra (tudo entende-se por fauna) ter evoluído para matar humanos, Kitai e Cypher ainda têm de lidar com uma Ursa, espécie alienígena que persegue humanos e é capaz de identifica-los pelo cheio do medo.

Haja oxigênio: Depois da terra tem seus momentos, mas não cativa...

Não há qualquer razão de ser do filme que não promover Jaden Smith, cujo nome surge nos créditos antes mesmo do de Will, e consagrar essa custosa terapia entre pai e filho. Não há porque ter medo da sombra do papai, parece dizer Will. Mas vai na conta de quem o fiasco que é esse filme? Do pai que idealizou ou do filho que parece ter perdido carisma desde Karate kid (2010)? Ou Shyamalan assume mais essa?
Depois da terra é pobre e capenga enquanto ficção científica; raso e entediante enquanto filme de ação e ultrapassado enquanto conceito de cinema videogame (quem diria que a franquia Resident evil poderia ensinar algo?). O único mérito de Depois da terra é o de se inscrever, com certa dose de favoritismo, na disputa dos piores filmes de 2013.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Crítica: Além da escuridão - Star Trek

O mal em nós

Além da escuridão-Star Trek (Star Trek into darkness, EUA 2013) é, sob muitas perspectivas, o melhor e mais sombrio filme da franquia cinematográfica baseada na criação de Gene Roddenberry. A ideia de discutir a relatividade de uma intervenção calcada em boas intenções surge já na primeira cena do filme, em que James Kirk (Chris Pine) e sua tripulação impedem o colapso de um planeta cuja evolução ainda não se verificou. Mais adiante, Kirk é repreendido por Pike (Bruce Greenwood), seu superior e grande entusiasta. ‘Não estamos aqui (na Federação) para brincarmos de Deus”, diz ele.
Kirk é removido de seu posto sob a pecha de ainda estar despreparado para liderar. A ameaça que se apresenta na figura do terrorista John Harrison (Benedict Cumberbatch), no entanto, o reconduzirá ao comando da Enterprise.
Além da escuridão – Star trek se estabelece, portanto, sob o signo da vingança e Kirk, a princípio, se deixa consumir por ela. É o sempre lógico Spock (Zachary Quinto) quem demoverá seu capitão da política do olho por olho. No encalço a John Harrison, que iniciou um levante contra a Federação, Kirk irá se deparar com questões que acinzentam os princípios pelos quais ele se move.

Por trás do vidro: Cumberbatch é uma força poderosa em Além da escuridão que dá viço às pretensões da realização 

Mais do que discutir as faces do terrorismo e da agenda bélica, Além da escuridão enseja um olhar mais enfático ao fato de como nossas boas intenções podem ser deturpadas ao ponto de se tornarem “mal” puro e simples. Essa moral perdulária está presente em todos os personagens principais instados a posicionarem-se de maneira contrária a sua convicções. Ou até mesmo revê-las. John Harrison, nesse sentido, é mais do que um detonador dessa investigação informal perpetrada por J.J Abrams. É um gatilho na comparação robusta que se assenta entre o filme e o 11 de setembro. Do patrocínio americano aos insurgentes afegãos contra a União Soviética nos anos 80 até o ataque de Osama Bin Laden às torres gêmeas em 2001. Todas as referências servem à Além da escuridão com um propósito magno de relativizar justamente as tais das boas intenções. Mas o filme de Abrams não quer fornecer respostas e denota isso nas últimas escolhas do racional e regrado Spock que cede à cartilha de Kirk e fragiliza de vez a percepção de que regras devem sempre, incondicionalmente, serem seguidas.

Além da escuridão, seja na força magnética da interpretação de Cumberbatch ou no comentário sombrio que propõe sobre o panorama geopolítico mundial, é um assombro de eloquência. Mas é, também, um filme divertidíssimo no mais puro e simples conceito de cinema pipoca. Fatores que, somados, fazem deste o melhor filme da temporada de blockbusters até o momento.

sábado, 15 de junho de 2013

Espaço Claquete - Star Trek

J.J Abrams conseguiu o que poucos criam ser possível. A benção dos trekkers, legião dos fãs de Star Trek reconhecidos por serem extremamente passionais e tradicionalistas. Se Star Trek (EUA 2009), a reimaginação do universo trekker perpetrada por Abrams em parceria com seus colaboradores dos tempos de "Lost" Alex Kurtzman e Roberto Orci (responsáveis pelo roteiro), foi aprovada pelos fãs, quem é a crítica para fazer oposição. É mais ou menos sob esse signo que o filme de Abrams foi lançado. O segredo para a aceitação maciça passa tanto pela reverência ao material original, como pela coragem de afrontá-lo. Lógico que tudo dentro de uma confortável margem de segurança. Abrams promove sua releitura em uma realidade alternativa (ou paralela), o que torna tudo mais “trekker” e justamente fascinante. A pujança do universo mais notório do sci-fi não aliena o espectador ocasional e é aí que o esmero narrativo e a habilidade de Abrams como diretor se insinuam.
O diretor consegue bancar um filme de origem para o espectador que ignora a franquia, uma revisão nostálgica para trekkers de longa data e uma fita de ficção científica respeitável dentro do anacronismo característico vigente no gênero.
Na trama, vemos o início truncado da relação entre James Kirk - aqui defendido com gosto por Chris Pine – e Spock – o fascinante vulcano interpretado com a devida mesura por Zachary Quinto.
O início da jornada da Enterprise é posto à prova quando uma horda de romulanos pretende destruir planetas como vingança pela destruição de seu planeta. A jornada é, também, uma vendeta pessoal de Nero (Eric Bana) contra Spock. Passado e futuro se mesclam de maneira engenhosa nessa proposição dramática de Abrams, Orci e Kurtzman.
Star Trek, que fique claro, ainda não é o filme que essa franquia definidora dentro do universo da ficção científica merece. Mas é uma indicação de um caminho mais promissor do que o seguido até hoje no cinema. Já é muita coisa.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Crítica - Oblivion


Ficção científica cascuda

Não é de hoje que Tom Cruise gosta de patrocinar cineastas jovens e promissores, mas corre o risco de a História imputar ao astro a descoberta de Joseph Kosinski. Para todos os efeitos, o diretor de Tron – o legado (2010) estreia, de fato, com essa ficção científica que concilia referências que vão de 2001: uma odisseia no espaço a Blade Runner – o caçador de androides, dois ícones do gênero, passando por substanciais franquias como Mad Max, Matrix, entre outros.
Oblivion (EUA 2012) é, por força de definição, uma ficção científica cascuda. Daquelas que não deve agradar espectadores ocasionais. É preciso ter “formação” no gênero para apreciar a contento o filme que alia visual arrebatador a uma trama francamente engenhosa na fusão de referências com que trabalha. Kosinski, diferentemente do que se esperaria de um diretor que sobeja tanto na linguagem visual, arquiteta a narrativa de Oblivion com o ritmo necessário que um filme tão ambicioso e reverente pede. É um acerto que o torna, a despeito da presença de Tom Cruise, um filme de gueto.
Cruise, aliás, demonstra desenvoltura na ficção científica nessa sua primeira incursão sem a tutela do amigo Steven Spielberg, com quem rodou Minority Report – a nova lei (2002) e Guerra dos mundos (2005).

Clean até certo ponto: Oblivion fala de um mundo distópico em que tecnologia e passado se contrapõem e a história de amor que surge no filme desempenha papel fundamental nesse confronto...

O desenvolvimento do roteiro recebe a mesma atenção que recebe o visual arrojado da Terra deserta do pós-guerra em que uma espécie alienígena, ainda que derrotada, obrigou os humanos a viverem fora da órbita terrestre. É essa a explicação inicial que o personagem de Cruise, Jack, responsável pela manutenção de drones que patrulham o planeta, oferta em suas divagações existenciais de quem se ressente de abandonar o planeta. Essa missão, que divide ao lado de sua namorada (Andrea Riseborough), está para acabar e eles irão, finalmente, se juntar aos outros humanos.
Mas as coisas não são exatamente o que parecem ser. E o que aparentemente é um acidente envolvendo uma cápsula espacial se torna o grande ponto de partida para uma tomada de consciência pelo personagem de Cruise.
Se Oblivion não tem a força narrativa ou a pujança reflexiva de alguns dos filmes no qual busca abrigo, é bem sucedido em propor um novo conceito, passível de muitas reverberações, no cinema. Adaptado de uma graphic novel de autoria do próprio Kosinski, Oblivion se subscreve como mais uma prova do campo prolífero que é a ficção científica para a investigação da essência humana. É, também, o testemunho de que Tom Cruise, além de se manter em dia como astro de apelo, continua matador como produtor. Kosinski tem um futuro danado pela frente.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Crítica - Contra o tempo

Bem feito!

A ficção científica sempre foi um porto seguro para ótimas ideias e Contra o tempo (Source code, EUA 2011) é mais um bom exemplo disso. O segundo filme de Duncan Jones vem confirmar o talento do realizador de Lunar – uma ficção tão inventiva quanto pensativa. Esse seu segundo filme, embora seja mais comercial, preserva a verve narrativa do primeiro filme ao apresentar um protagonista solitário em um processo de inflexão inusitado e relativamente imprevisível.
Colter Stevens (Jake Gyllenhaal) acorda em um trem e, além de não se reconhecer, não reconhece a pessoa que lhe acompanha (Michelle Monaghan). Logo descobrimos que Colter é um soldado americano que faz parte de um procedimento experimental em que se é possível voltar nos oito minutos finais da vida de alguém; o procedimento se chama código fonte e é baseado em princípios de física quântica. A missão de Colter é descobrir o terrorista responsável por explodir o trem. E ele reviverá aqueles oito minutos de um determinado passageiro quantas vezes forem necessárias para realizar sua missão. Contra o tempo vai se descortinando com o tempo (sem trocadilhos) e funciona tanto como thriller como fita de ação.
O roteiro de Ben Ripley apara bem as arestas e se mostra menos bifurcado do que o de outra ficção recente que propõe paralelismos (A origem) e apresenta menos metáforas também. Jones se vale de uma lógica intrincada para oferecer um filme até certo ponto comum, ainda que mais eficiente do que a média da produção hollywoodiana atual.

Beleza e inteligência: Jones alia alguma engenhosidade visual com muito esmero criativo para entregar um filme acima da média


A inteligência do argumento encontra respaldo na concepção visual de Jones. Jake Gyllenhaal colabora para o sucesso da fita. É o ator quem confere veracidade à trama quando esta atravessa seu momento mais frágil (e isso tem a ver com uma descoberta sobre a real condição de Colter Stevens).  
Duncan Jones mostra-se um realizador interessante, com uma percepção visual interessantíssima e uma compreensão mimética das possibilidades narrativas da ficção científica. Contra o tempo é um filme que flui de forma natural por diferentes gêneros e agrada em todos eles. É uma das surpresas do ano.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Crítica - Super 8

Brincando nos campos do senhor Spielberg!


Existem aqueles filmes cuja razão de ser consiste em reafirmar nossa paixão por gêneros cinematográficos e existem aqueles que objetivam algo mais específico: reafirmar nossa paixão por outros filmes. Super 8 (EUA 2011), de uma maneira muito especial, se alinha a essas duas vertentes.
A nova incursão no cinema de J.J. Abrams pretende, antes de qualquer coisa, ser uma homenagem ao cineasta Steven Spielberg – que produz a fita. Nesse sentido, Super 8 atinge em cheio seu objetivo. A segunda força motriz do filme é buscar abrigo em um tipo de aventura infanto-juvenil perdida nesse alvorecer do século XXI. Filmes de monstro e de camaradagem adolescente parecem um tanto descolados do contexto cinematográfico atual.
E foi na filmografia de Spielberg que Abrams, que já admitiu ter crescido vendo esses filmes, foi buscar abrigo. De Contatos imediatos de terceiro grau até Guerra dos mundos, passando por E.T, Jurassic Park e Tubarão, Spielberg é uma referência constante. Mas outros autores que marcaram época no final dos anos 70 e começo dos anos 80 têm suas sombras perceptíveis em Super 8. George Romero e John Hughes são dois deles.
Em Super 8, um grupo de amigos se reúne para rodar um filme de zumbis. Eles acabam testemunhando um acidente de trem extraordinário. O interesse do exército no evento pouco interessa a esse grupo de amigos que, em meio a picardias da pré-adolescência, só quer saber de terminar o filme. Paralelamente, Super 8 se ergue como um filme de mistério e de monstro.

Em grande forma: o maior destaque da fita é o entrosamento do elenco juvenil


Obviamente, com tantas referências, Abrams não consegue manter a harmonia narrativa desejável. O que acaba sendo um delito menor mediante tal louvável proposta.
Um acerto de Abrams é sempre focar nos personagens. Uma lição que ele deve ter aprendido com seu produtor. Super 8 tinha potencial para ser uma minissérie. Talvez resultasse melhor – do ponto de vista narrativo - mas perderia em charme indubitavelmente.
O elenco juvenil está ótimo. Abrams conseguiu destacar bons momentos de todos os seus jovens intérpretes, que ajudam seu diretor a nos invadir com o gosto da nostalgia.
Super 8 não se ressente de esgueirar-se nas sombras dos diretores já citados na crítica. Por vezes os emulando descaradamente – impossível não rememorar Jurassic park quando o ônibus tomba por ação do alienígena. Abrams realiza antes do que um filme, um exercício de cinefilia. Super 8 certamente não ocupará um lugar tão proeminente na história quanto suas referências, mas na memória do público esse encantamento, inevitavelmente, se estabelecerá.

domingo, 21 de agosto de 2011

Insight

O Planeta dos macacos vive



A franquia O planeta dos macacos talvez seja a maior dentro do nicho ficção científica. É bem verdade que Star wars e Matrix renderam mais dinheiro e dividendos na cultura pop, mas não gozam do mesmo respaldo da crítica e ressonância filosófica da saga iniciada em 1968 com o filme de Flanklin J. Schaffner. O filme que surpreendeu o mundo com seu final impactante se mantém atual, mesmo com a saraivada de refilmagens e as continuações ingratas a que deu origem. Não que as quatro sequências, rodadas quase que a toque de caixa, de O planeta dos macacos não sejam satisfatórias. São ótimas fitas de ação que expandem aquele universo tão rico que teve origem na literatura de Pierre Boulle.
À época, O planeta dos macacos foi saudado como um libelo anti-guerra fria. A intensificação das hostilidades entre EUA e União Soviética preocupava o mundo e a visão para o declínio da humanidade vislumbrada no filme protagonizado por Charlton Heston era uma poderosa metáfora para o estado das coisas. Mas não só. O planeta dos macacos incitava a um sem número de reflexões, que em certo nível escaparam às continuações.

O final que demoliu cinemas: o fascínio com o final de O planeta dos macacos é puramente cinematográfico, já que na literatura o desfecho é diferente...


O Planeta dos macacos estimulava um debate sobre o avanço da ciência – algo que O planeta dos macacos: a origem (2011) recupera. O novo filme, dirigido por Rupert Wyatt, reúne as críticas mais elogiosas da temporada do verão americano de 2011. “Além dos efeitos especiais de última geração, um dos meus interesses no filme foi esse debate sobre os avanços da ciência e os custos que eles nos impõem enquanto sociedade”, explicou James Franco em rodada de entrevistas promocionais.
A fita de 2011 busca preencher o que podemos chamar de lacunas da obra original. “É sobre o desenvolvimento da inteligência nos símios e o que deflagrou a revolução”, argumenta o diretor.
Com o retumbante sucesso de bilheteria, o filme liderou o box office americano por três semanas e já se pagou antes mesmo de debutar na maioria dos mercados internacionais, as continuações já são projetadas. “A ideia sempre foi de uma trilogia”, assegurou o roteirista Rick Jaffa ao Access Hollywood.
A fita que reúne as melhores crítica da temporada, de acordo com o site especializado RottenTomatoes, quando teve sua produção anunciada foi vista como mais um caça níqueis hollywoodiano. A opção pelo desconhecido Rupert Wyatt –até então com apenas um filme no currículo – reforçou as suspeitas de que o novo planeta dos macacos seria um engodo tão grande ou maior do que as últimas visitas aos símios inteligentes.


O que Tim Burton tem a ver com isso?
Mas os macacos continuam a fascinar e nas mãos das mentes criativas certas, a fornecer vasto material reflexivo em suas indissociáveis relações com os seres humanos e sua evolução.
Foi com isso em mente que a Fox bancou uma alardeada, e mais aguardada do que atual produção, nova versão para o filme de 1968. O estúdio chamou ninguém menos do que o cultuado Tim Burton para viabilizar o projeto. Burton, em uma combinação de esquisitice e pujança visual, parecia mais do que indicado para assumir a tarefa. O diretor de Edward mãos de tesoura e A lenda do cavaleiro sem cabeça se manteve mais fiel ao livro de Boulle, mas essa fidelidade acabou por podar o viés imaginativo que muitos ansiavam na versão de Burton.
Mark Wahlberg fez o papel do herói. Tim Roth, embaixo de pesada maquiagem fez um notável vilão e Charlton Heston surgiu, em papel homenagem, como o pai desse vilão. Ao assumir-se símio, Heston conferiu longevidade a esse filme de Burton que, no limiar, é uma bem sacada fita de ação.
Dez anos depois da refilmagem que não surtiu o efeito esperado pelo estúdio e pela crítica, chega essa prequel (eventos que se passam antes do original) para respaldar ainda mais a excelência da fita original.
O verão de 2011, contra todos os prognósticos, foi tomado pelos símios.

sábado, 28 de maio de 2011

Crítica - Os agentes do destino

Romeu e Julieta Scifi!
Baseado em um conto de Phillip K. Dick, Os agentes do destino (The adjustment bureau, EUA 2011) lança um debate interessante – ainda que não o escalde – sobre uma constante aflição humana: a confrontação entre destino e livre arbítrio. O genial ponto de partida de Dick serve bem a premissa da fita que marca a estréia na direção de George Nolfi. Um jovem político com ambições ao Senado pelo estado de Nova Iorque (Matt Damon) se apaixona por Elise (Emily Blunt) tão logo pousa os olhos nela. Acontece que o romance não está no destino de ambos. Os efeitos desse romance poderá ser prejudicial à carreira política projetada pelo David Norris de Damon e para os sonhos de ser uma grande bailarina da personagem de Emily Blunt.
As intersecções de suas escolhas no presente afetam em grande escala o seu futuro. Essa ideia é escrutinada do ponto de vista da ficção científica em uma trama simples e com fôlego. Os tais dos agentes do destino, uma classificação imperiosa por definição, são seres que se assemelham aos humanos, mas “vivem mais e não sentem da mesma forma”, explica um personagem para o incrédulo David Norris. Cabe a essas figuras, assegurar que o plano traçado para cada individuo se concretize. Como falta mão de obra, alguns contratempos acontecem e precisam ser corrigidos. Um deles é a aproximação de David e Elise.

Faíscas no primeiro encontro: Os agentes do destino apresenta uma história de amor embalada em ficção científica 


Nolfi mostra apuro visual e tenacidade narrativa. Seu filme tem clichês de gênero sim e, vez ou outra, se excede em determinado arco. Mas é um entretenimento digno que se apresenta como abstração diferenciada para o expectador indiferente aos blockbusters da temporada de verão.
O que depõe contra Os agentes do destino é sua falta de humor. Já que Nolfi não se convence a envernizar o debate acerca da incidência do destino no livre arbítrio e vice- versa, a fita precisaria saber rir de si mesma. Não pesar tanto na sisudez. O final feliz não deixa de ser uma concessão hollywoodiana que faz pouco sentido dentro do contexto aventado pela produção. Mas não deve desagradar aos adeptos do destino ou do livre arbítrio.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Critica - O livro de Eli

Quando boas idéias não vingam

Existem boas idéias executadas com perfeição tão suntuosa que causam admiração eterna, outras que não são executadas a contento e acabam sendo diminuídas com o tempo. Há ainda, essencialmente no campo do cinema, aqueles filmes com idéias tão boas que eles se sustentam exclusivamente delas. Sem oferecer um desenvolvimento mais apurado dessas idéias. É o que ocorre com O livro de Eli (The book of Eli, EUA 2010). Um filme que reúne pelo menos duas boas idéias. A primeira delas, inegavelmente, é colocar Denzel Washington como um lobo solitário (e extremamente talentoso no manejo de armas) em um futuro pós-apocalíptico. A segunda, é fazer com que esse homem de passado ignorado seja o guardião de um dos símbolos mais importantes da história da humanidade. É aí que O livro de Eli falha em explorar plenamente seu potencial. Existe, é bem verdade, um comentário ralo sobre o poder da religião, na oposição das figuras de Eli e Carnegie (Gary Oldman). Sobre como homens mal intencionados se apropriam da representatividade divina para promover seus anseios. Paralelamente, existe a mensagem cristã (essa mais bem desenvolvida) de que o homem, além de instrumento divino, pode, sim, se comunicar com Deus.

Gary Oldman e Denzel Washington em cena de O livro de Eli: Os atores estão em um ótimo nível, mas o filme não os acompanha

O filme dos irmãos Hughes, porém, não consegue exceder as boas idéias que traz em seu cerne e materializá-las em um filme equilibrado e bem desenvolvido. Do jeito que ficou, O livro de Eli não decepciona. É ágil, tem uma concepção visual instigante, ação na medida certa e um Denzel Washigton, para variar, inspirado. Mas é um filme de ação e ficção científica comum. Com todo o peso que a palavra comum atribui a um filme do gênero de ação e ficção científica.

domingo, 25 de outubro de 2009

Critica - Distrito 9

O inferno são os outros!

Peter Jackson sabe o que faz. Se ele bancou a realização de Distrito 9 (District 9, EUA/AFR do SUL 2009) era porque a idéia valia a pena. O filme do diretor estreante Neill Blomkamp é um primor sobre muitos aspectos. Contudo, é, antes de mais nada, entretenimento da melhor qualidade.
Blomkamp se utiliza de um expediente conhecido, mas que sob sua tutela apresenta-se como algo genuinamente novo. Ele registra seu filme como se fosse um falso documentário (recurso popularizado pelo seriado The office) para contar a saga de aliens que são hostilizados no planeta terra. A ação se passa na África, mais precisamente na capital sul africana, Johannesburgo. É lá que uma nave alienígena se estabelece, revelando milhares de seres subnutridos e confusos. Os humanos sem saber o que fazer, providenciam um acampamento, que logo vira uma favela. Humanos e aliens se chocam frequentemente. Surge a necessidade de remover os aliens para um acampamento mais afastado e é aí que entra em cena Wilkus van de Merwe ( o estupendo Sharlto Copley). Um burocrata nomeado para conduzir o remanejamento alien.
Daí em diante Distrito 9 segue uma cartilha de clichês, mas a originalidade da história e a força da analogia politica (com o apartheid sul africano, para ficar na mais óbvia) revestem o filme de urgência, viço e atemporalidade. Trata-se de um filme com um discurso poderoso. Ficções cientificas se prestam a elaborar um comentário (geralmente pessimista) sobre o estado das coisas, mas Distrito 9 com seus aliens favelados e com seus humanos gananciosos e violentos é de uma eloquência atroz. Suas referências são muitas, desde Aliens até Cidade de Deus, contudo, a despeito da iminente franquia cinematográfica que se anuncia, Distrito 9 caminha para ser, ele mesmo, uma forte e inescapável referência.
Apesar de priorizar a ação, e a tensão da história é continua e ineterrupta, a mensagem de Bloomkamp é clara. Intolerância gera intolerância. Colocar-se no lugar do outro, ainda é a forma mais humana, e digna, de se legitimar qualquer busca pela paz.