segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Oscar Watch - Crítica dos vencedores do Globo de ouro 2010

Perda de credibilidade


O elenco e o diretor de Se beber não case: "Não acredito que ganhamos!"


A 67ª cerimônia de entrega dos prêmios Globo de ouro, realizada ontem, foi uma decepção. Comparada a também equivocada cerimônia do ano passado, que consagrou o discutível Quem quer ser um milionário?, a desse ano conseguiu ser ainda pior e mais contestável. No ano passado pelo menos podia-se argumentar que houve personalidade por parte da associação, ao consagrar um legítimo filme independe, e até então azarão, de premiar atores pouco afeitos ao circuito de premiações (Mickey Rourke) e históricos esnobados (Kate Winslet), além de pavimentar o caminho das homenagens a Heath Ledger. Nesse ano, mais do que qualquer coisa, o resultado do globo de ouro depôs contra a força e a representatividade do prêmio enquanto termômetro da qualidade da produção cinematográfica. Não faz sentido proclamar como melhor filme do ano um filme que só tem uma indicação, todos os outros concorrentes na categoria de melhor comédia ou musical tinham mais de uma; tão pouco eleger uma ficção científica que se esmera em aparatos técnicos e cuja história rejeita qualquer traço de originalidade como o melhor drama do ano. Se fosse para premiar uma ficção inventiva, que indicassem Distrito 9. Em comum Se beber não case e Avatar têm a benção do público. E o Globo de Ouro na sua ânsia por rivalizar em termos de representatividade e status com o Oscar, preferiu consagrar esses dois filmes e pulverizar os efeitos do day after entre os freqüentadores de cinema em geral. Expandindo o alcance da premiação do habitual nicho de cinéfilos que se liga em premiações de cinema.
George Clooney e sua namorada italiana: Para alguns ele era o favorito ao globo de melhor ator dramático; de certo foi que ele aproveitou o jantar para promover o teleton que organizará para angariar fundos para as vítimas do Haiti


Para fazer isso, renuncia-se a coerência e ao desprendimento desejáveis e lança-se ao puro extrativismo de mercado. Serve-se mais ao interesse de estúdios do que ao da arte. O globo de ouro sempre celebrou Hollywood, isso não é segredo e nem aqui se pretende que não se faça isso. O cinemão mainstream é ótimo e merece ser celebrado em toda a sua plenitude. Esse próprio blog existe para dar vazão a isso. Mas há de se manter a coerência e idoneidade que o mundo espera de uma premiação desse porte. Os prêmios de ontem não foram coerentes. Pelo menos não se comparados ao método de aferição da mesma HFPA nas duas últimas décadas (e os membros são em sua maioria os mesmos).
Isso dito, nas categorias de atuação prevaleceram as diretrizes da crítica americana. Jeff Bridges por Coração louco se posiciona na frente para o Oscar, Meryl Streep por Julie & Julia e Sandra Bullock por O lado cego fecham a disputa pelo troféu de atriz entre elas com suas vitórias como atrizes em comédia e drama, respectivamente e Christoph Waltz e Mo´nique já fizeram o “esquenta” para o Oscar. Antes mesmo do resultado do Globo de ouro eles já eram certezas. E tem Robert Downey Jr, que surpreendeu ao faturar como melhor ator em comédia por seu desempenho em Sherlock Holmes. O ator, hoje o astro mais badalado de Hollywood, venceu na base do “o meu é maior que o seu”. Não. Não se trata de maior salário, nem de maior prestígio. Trata-se de maior carisma. Ninguém em Hollywood hoje tem mais carisma do que Downey Jr e ele deixou isso bem claro em seu discurso de agradecimento. Essa premiação faz sentido dentro da lógica de prestigiar o comercial sem prescindir da justiça; como foi, em algum nível, a premiação de James Cameron como melhor diretor (embora ele não fosse o melhor).
Fergie estava em uma date night com seu marido Josh Duhamel como disse em uma entrevista no tapete vermelho. Seu filme, Nine, não teve uma noite tão feliz
O saldo desse globo de ouro é muito pequeno. Artisticamente é quase nulo. O que se viu ontem, com um host quase tão deslocado como Chris Rock na cerimônia do Oscar de alguns anos atrás, foi uma premiação tentando atestar sua relevância ante uma platéia que já a aceita como ela é. E, mais uma vez, enfiando os pés pelas mãos na ambígua disputa que trava com o Oscar. Ora quer ser mais parecida, ora quer ser mais distinta, ora quer ser pioneira, ora quer servir de parâmetro. Em 2010, inadvertidamente, não conseguiu ser nada disso.

8 comentários:

  1. Concordo com você, acho que praticamente em tudo, até comentei em meu blog (de foma bem rigorosa, por sinal). Para mim, foi uma noite "terrível".

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  2. Pô Raphael vou lá te visitar e prestigiar. Obrigado pela visita e espero que vc volte sempre aqui em Claquete. Abs!

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  3. Oi Reinaldo, ótimo post. Sua frase "o resultado do globo de ouro depôs contra a força e a representatividade do prêmio enquanto termômetro da qualidade da produção cinematográfica" já diz tudo.

    A grande incoerência de uma premiação com este desfecho é torná-la ainda mais um zero à esquerda para mensurar qualidade artística. O lance é puro mainstream, salvo raras exceções. Gostei de você ter lembrado como um filme com 2 indicações ganha como filme do ano. Incoerências trágicas da HFPA.

    Beijo!

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  4. Pois é madame.Se vc se lembra bem do meu comentário lá no seu blog, eu disse que torcia por Se beber não case, mas reconheço que o filme não era o melhor. E mais, como disse no caso de Avatar, que embora tivesse curtido o filme, tenho que na qualidade de critico, procurar o máximo de isenção e racionalidade possíveis.
    E não é possível um filme com apenas 1 indicação prevalecer sobre candidatos com 2 (500 dias com ela e Julie & Julia), 3 (Simplesmente complicado) e 5 (Nine). No todo a premiação foi muito contraditória, ainda que com a melhor das intenções.
    Bjs

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  5. É vero. Enquanto escrevia minha nota lá no meu blog, eu não havia me atentado a este detalhe de somente 1 ou 2 indicações em categorias e ainda ganharem como melhores filmes, mas acho super sensata a sua louvável observação. De fato, uma grande contradição. Se Avatar e Se beber não case são tão poderosos, por que não foram indicados em tantas outras categorias que contribuem para a qualidade do filme?

    A propósito, Nine não conseguiu nada, hein!? Que choque! Vamos esperar o Oscar...que é o vale tudo! bjs!

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  6. acho que faltou coerência e consistência o que é pior.
    No caso de Avatar, o filme até tinha consistência nas indicações (filme, direção, trilha sonora e canção). O problema era que era notadamente o mais fraco dos 5 indicados(aliás na minha opinião não deveria nem mesmo ter sido indicado). A questão não era ser um filme comercial. Bastardos inglórios é a maior bilheteria da carreira de Tarantino e é estrelado por Brad Pitt(comercial certo?) e é um filmaço.
    No caso de Se beber não case, então a incoerÊncia foi gritante, conforme apontei na minha critica e vc sublinhou aqui.
    Bjs

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  7. EXCELENTE CRÍTICA! Fascinado! Só quem viu "Guerra ao Terror" sabe exatamente o tão quão este merece, apesar de que "Bastardos Inglórios" é interessantíssimo! Um Globo de Ouro fadado à polícia, a busca de audiência revitalizando "Avatar" e ainda se rendendo às bilheterias de atuações um pouco fracas - Bullock e Robert Downey Jr. Saudades do Globo de Ouro que fez Marion Cotillard ser estrela maior que Édith Piaf, consolidou o fenômeno "Slumdog Millionare" a frente de "Benjamin Button" e não teve dó de dar dois prêmios à Kate Winslet. Uma pena.

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  8. Primeiramente, muito obrigado pela visita e pelos elogios Cláudio. Concordo com vc. Comparado a premiação do inicio da década passada essa edição foi vexamosa. Ano passado, como vc bem lembrou, a premiação foi histórica. quebrou protocolos e estabeleceu novas diretrizes(que parece já foram esquecidas). Apesar de que eu não achava Quem quer ser um milionário? digno do Globo de melhor drama tb. Mas pelo menos houve coerência, consistência e ousadia. Esse ano não houve sombra desses conceitos.

    Aproveito para te convidar a sempre passar por aqui. Em Claquete o melhor do cinema sempre tem vez. E vc vai ser muito bem recebido. Isso eu garanto. ABS

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