quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Critica - Vício frenético

De canalhice em canalhice

Independentemente da campanha que existe contra esse novo trabalho de Werner Herzog, Vício frenético (Bad lieutenant: port of call New Orleans EUA 2009) é interessante. Nem que seja para que possa se comparar, com propriedade, o trabalho de Herzog como o de Abel Ferrara, que dirigiu o filme original no não tão distante ano de 1992.
Ambos os filmes versam sobre a podridão humana e os mecanismos a disposição para corromper essa nossa humanidade. No entanto, o filme de Ferrara, principalmente depois da comparação com o trabalho de Herzog, parece definitivo. Mais pleno.
Herzog foi muito questionado sobre seu remake no último festival de Veneza. Respondia a quem quisesse ouvir que não se tratava de um remake. Era um filme diferente. Era sua visão ali. Não uma atualização da visão de Ferrara, cujo filme ele afirmava desconhecer.
Pois bem, realmente Herzog mudou muita coisa. E não foram só o período e a cidade (o novo filme passa-se em nova Orleans depois do furacão Katrina, enquanto que no outro filme a ação passava-se em Nova Iorque). A mise-en-scène, embora preservada em sua estrutura, ganha novos elementos. O cinismo que marca o policial Terence McDonagh (aqui, Nicolas Cage, no filme de Ferrara, Harvey Keitel) não é só mais dele. É de uma sociedade que procura sempre usurpar, tomar, se apropriar. Outra diferença gritante é que McDonagh é agora mais tridimensional e isso não chega a ser uma coisa boa, não no contexto do filme.
Em linhas gerais esse remake é bastante inferior. Não que seja um filme ruim. A questão é que Ferrara já havia apresentado tudo o que tinha de se apresentar com essa história. Não há nada novo. Nada que justificasse esse remake. O filme de Herzog ganha, portanto, a pior das pechas; a de filme desnecessário.
A favor desse novo Vício frenético, talvez esteja a performance de Nicolas Cage. O ator, que há algum tempo oscilava entre o ruim e o dispensável, pode ainda não ter acertado no projeto, mas sua composição é algo incômoda. Desde a postura turva de seu personagem (em virtude de um problema nas costas) até os tiques nervosos, o ator compõe uma figura tão taciturna e caótica que abrilhanta um filme cansativo e desnecessário. Pensando bem, a performance favorece mais a carreira de Cage do que o filme. Vício frenético de Herzog só não será alçado ao esquecimento, ironicamente, por causa de Abel Ferrara. Tivesse o diretor do original reagido mais parcimoniosamente a esse filme, ele tomaria o rumo do esquecimento.

3 comentários:

  1. Oi Reinaldo, minha resenha deste filme está para sair. Achei um filme dispensável também, mas como você muito bem disse, foi bom para Nicolas Cage representar este ser mascarado e corrupto. Estava cansada de presságios e vidências na vida deste ator pelo qual nutro imenso carinho. bjs!

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  2. Tb gosto muito de Nic Cage. É um filme que causa estranhamento no espectador. Certamente não é ruim, mas tb não é bom. Agora, se vc viu o filme original. O filme torna-se totalmente desnecessário. Vou conferir sua resenha. Bjs

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  3. Quando ver o de Abel Ferrara, venho aqui pra te dar minhas impressões. bjs

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