sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Oscar Watch 2013 - As primeiras impressões dos indicados ao Oscar





Em um primeiro momento, a lista dos concorrentes à 85ª edição do Oscar é revigorante. Não exatamente pela inexistência de injustiças e esnobadas, em um prêmio da estatura do Oscar e em que o gosto de um colegiado amplo e diversificado precisa ser equalizado elas sempre acontecerão. No entanto, é uma lista com invejável personalidade e que devolve ao Oscar o título de barão dos prêmios de cinema – posição que estava se perdendo em temporadas cada vez mais previsíveis. Não que a Oscar season 2013 não tenha um favorito absoluto. Lincoln desde a fase pré-Oscar já era tido como o filme a ser batido, impressão confirmada pela liderança na corrida de todos os prêmios. Mas pelo fato de que o Oscar, com a antecipação de suas indicações forçando a antecipação de todo o calendário de premiações, favoreceu um ambiente de frescor e emoção que há muito não se via. Os sindicatos e premiações preliminares viram seu peso diminuir e muitos “gurus” protestaram quanto ao que acham uma lista injusta e surpreendente. Sobre esse tópico em particular, Claquete fará considerações mais adiante na semana.
Sobre a lista em si, é possível dizer que estão aí os indicados ao Oscar. Aqueles filmes que deixaram boa impressão junto aos acadêmicos e não os filmes que estavam monopolizando as atenções na temporada de premiações, ainda que justificadamente alguns deles estejam em destaque no Oscar.
Conforme Claquete já antecipava, a polêmica envolta em A hora mais escura custou ao filme de Bigelow a pujança que críticos se apressaram em atribuir à fita. Na celeuma entre conservadores e liberais, dentre os favoritos declarados, A hora mais escura foi o que obteve menos consistência nas indicações.
A esnobada em Ben Affleck na categoria de direção desarma os detratores do Oscar que se apressaram em dizer que as surpresas ocorreram pela antecipação do calendário simplesmente. Diferentemente de Quentin Tarantino (Django livre), Tom Hooper (Os miseráveis) e Kathryn Bigelow (A hora mais escura), Argo foi lançado em outubro. Amor, indicado a filme e direção, foi lançado nos EUA em dezembro, em poucas salas, e ainda é falado em francês. É preciso mais reflexão para entender a exclusão de Affleck da disputa. Quanto a Hooper e Bigelow, suas recentes vitórias e o fato de seus filmes não acolherem a unanimidade, podem ter sido fatores decisivos. A Tarantino, a razão de sempre: a academia não lhe engole como diretor. Mesmo assim ele já ostenta duas indicações na categoria.
Em um ano aparentemente tão atípico, uma comédia romântica com pegada dramática salta aos olhos na lista. Trata-se de O lado bom da vida. O filme de David O. Russell angariou oito indicações ao Oscar e, inclusive, nas quatro categorias de atuação. Feito inédito em 31 anos. Desde Reds que isso não acontecia. O entusiasmo com Russell não deixa de ser um contraponto a Tarantino. Ambos são diretores roteiristas com um passado de declarações improperas que atingiram maturidade autoral nos últimos anos. Mas Russell talvez seja mais palatável, certamente é menos cortante.

O lado bom da vida contraria o histórico das comédias no Oscar e conquista invejáveis oito indicações ao prêmio máximo do cinema

Outro mérito a ser observado é que pela primeira vez desde 2010, quando o número de indicados a melhor filme dilatou, houve equivalência entre as indicações a melhor filme e melhor roteiro. A ode à coerência é reforçada pelo fato de, entre os selecionados a melhor filme, não ter uma produção sequer com menos de quatro indicações – caso de Indomável sonhadora.
Algumas com cinco (Django livre, Amor, A hora mais escura), outra com sete (Argo), duas com oito (Os miseráveis e O lado bom da vida), uma com onze (As aventuras de Pi) e o campeão do ano Lincon com 12 nomeações.
É uma prova viva de que os membros da academia estão aprendendo a votar com o novo sistema de preferência que admite entre cinco a dez indicados a melhor filme.
No campo das atuações, foi o menor índice de concomitância entre os selecionados pelo SAG e pelo Oscar desde que o sindicato começou a distribuir seu prêmio. Ótima notícia também. Isso quer dizer que os membros da academia estão vendo filmes e não apenas “copiando e colando” o que o sindicato, um brunch infinitamente maior, avaliza.
Alguns filmes parecem se destacar no campo das atuações. Além de O lado bom da vida, Lincoln, O mestre e Os miseráveis, todos com mais de uma indicação, parecem ter agradado o departamento de atores. À parte O mestre, todos concorrem ao prêmio de elenco do sindicato.
Nesse momento, a briga parece se concentrar entre Lincoln e As aventuras de Pi, que estão em confronto também no Globo de Ouro, no Producers Guild Awards, no Bafta e no Directors Guild Awards, mas não se pode menosprezar a força de O lado bom da vida, de longe a presença mais sólida no Oscar. Além de estar presente em todas as categorias ditas nobres, o filme é distribuído pelo mesmo Harvey Weinstein que já tirou leite de pedra. Pode não parecer, mas a corrida ainda está começando...

2 comentários:

  1. Ótimo panorama, Reinaldo. Eu realmente não tenho nada a acrescentar na sua esperta avaliação dos indicados. Justa ou não, é revigorante porque fugiu do óbvio.

    O que é mesmo lamentável de acompanhar são os inconformados com a vida. Se antes diziam que o Oscar é chato porque não tem surpresas, tá aí, CARA NA POEIRA, quer mais surpresa do que não indicar Affleck, Bigelow, Intocáveis e tantos outros que eram considerados locks em suas respectivas categorias? O mais foda de ver é que esses mesmos que reclamavam da previsibilidade da premiação, agora ficam chorando "Affleck foi roubado" e mimimi. Sério, pessoal, hipocrisia tem limite, vamos lá.

    Resta eu assistir aos filmes. Mas, devo confessar que me dói não ver Bigelow entre os diretores. Admiro demais essa mulher! =D

    Claquete é um dos melhores lugares na net pra acompanhar os comentários ao Oscar. Eu estava meio sumido, porém, aos poucos, vou recuperando o tempo perdido... hehe

    Grande abraço!

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  2. Elton: obrigado pelos elogios meu caro. Eu gostei muito da lista dos indicados, como já concordamos. Esse ano foi bom, também, para desmascarar esses "do contra" que vestem a camisa em toda temporada do Oscar. Falou tudo!
    Abs

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