quarta-feira, 28 de março de 2012

Filme em destaque - Um método perigoso

Freud e Jung devassados
O aguardado novo trabalho de David Cronenberg estreia nessa sexta-feira (30) no Brasil e aborda os diferentes picos da relação entre os dois principais idealizadores da psicanálise. Claquete apresenta os percalços da produção e como o filme, aparentemente desconectado da filmografia do diretor, é essencialmente cronenbergiano



Está cansado de Michael Fassbender? Pois ele é o novo elemento da terceira colaboração entre o cineasta canadense David Cronenberg e o ator americano Viggo Mortensen. Até que Um método perigoso chegasse ao cinema, muita coisa mudou – com exceção da participação de Michael Fassbender na fita. Originalmente intitulado The talking cure, o filme oporia os astros de Bastardos inglórios – Chistoph Waltz foi substituído por Moterssen quando preferiu fazer o mais comercial Água para elefantes. O roteiro de Christopher Hampton, adaptado da peça do próprio, que por sua vez era baseada no livro “A most dangerous method” de John Kerr, enfoca o relacionamento de Freud e Jung – os dois principais pilares do pensamento psicanalítico. Cronenberg, posteriormente mudou o nome do filme e se viu na contingência de mudar seu Freud. Com a desistência do austríaco vencedor do Oscar, o diretor canadense recorreu a seu escudeiro que surpreendeu tão positivamente que concorreu ao globo de ouro de melhor ator coadjuvante pelo filme e foi responsável pela lembrança mais midiática a Um método perigoso na temporada de premiações passada.
Cronenberg, em entrevista ao The Guardian, em dezembro de 2011, já previra que seu filme não decolaria nos prêmios. “É muito obscuro”. O filme recebeu críticas elogiosas por onde passou desde a estreia no último festival de Veneza, como Toronto, Rio de Janeiro e Nova Iorque.


O sexo como catalisador
Se em Shame, atualmente em cartaz no país, Fassbender faz um homem perseguido por sua volúpia sexual, aqui ele compõe um Jung igualmente atormentado – ainda que esse tormento obedeça a diretrizes diferentes. A formulação do pensamento psicanalítico por Freud e Jung, e as cada vez mais frequentes divergências entre ambos, são os pontos principais do filme que recorre a um episódio historicamente pouco convencionado quando em pauta estão quaisquer uns dos dois. A influência da russa Sabina Spielrein, no filme vivida pela atriz Keira Knightley, na construção da teoria psicanalítica jungiana.
Knightley não era a primeira opção do roteirista Christopher Hampton, que também atua como produtor associado. Ele tinha em mente a atriz Julia Roberts, mas um convite nem sequer chegou a ser feito. Roberts talvez fosse velha demais para o papel, alguém na produção deve ter ponderado. A primeira atriz a ter o papel ofertado foi Keira, que há muito ansiava por uma oportunidade de trabalhar com Cronenberg. Ela admitiu, em entrevista à Folha de São Paulo, ter ficado receosa em fazer as cenas de sexo, mas que foi tranquilizada pelo diretor que afirmou que as cenas seriam “clínicas e não sensuais”. A opinião de parcela da crítica em Veneza é de que foram “pudicas”.  
De qualquer maneira o sexo está lá: a perfilar os personagens de Cronenberg em seu filme mais acadêmico.

 Jung e Sabina em análise: base da teoria jungiana é empírica e Um método perigoso se arrisca a refleti-la 


As obsessões de Cronenberg
Eis aí palavras que podem soar dissonantes. Acadêmico e Cronenberg. O cineasta do grotesco à frente de uma produção sofisticada, de alta voltagem intelectual, com atores classudos e um tema, bem, um tema que não poderia ser mais “cronenbergiano”.
Transformações e obsessões são elementos que sempre pautaram o cinema do diretor canadense. Mais recentemente esses temas se bifurcaram em histórias mais lineares e bem delimitadas (Marcas da violência e Senhores do crime). Um método perigoso busca cercar a questão por um prisma pouco experimentado por Cronenberg, mas para o cineasta de Crash –estranhos prazeres (1996), A mosca (1986), Scanners – sua mente pode destruir (1981) e Spider- desafie sua mente (2002) faz todo sentido abordar Jung e Freud no momento em que amadurecem seus pensamentos que servem de base para a psicologia moderna. 

3 comentários:

  1. Realmente o tema não poderia ser mais “cronenbergiano”. Porém, o resultado é diferente, mas verborrágico. Mas, ainda assim, é um bom filme de fato.


    bjs

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  2. Reinaldo, não acho tão dissonante assim a ligação entre as palavras Acadêmio e Cronenberg, especialmente se formos levar em consideração as suas produções mais recentes, que, dentro de sua filmografia, possuem uma linguagem muito mais convencional, mais tradicional, essa é a verdade. E, pra ser bem sincera, eu prefiro esse Cronenberg do que o outro, que lembra muito mais o estilo do David Lynch, que é um diretor que eu não gosto.

    Tenho duas irmãs psicólogas e ambas estão interessadíssimas neste filme! E eu gosto dessas temáticas mais densas, então devo assistir, com certeza.

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  3. Amanda: Valeu pelo comentário Amanda.
    bjs

    Kamila:Não sou eu que acho dissonante Ka. É uma percepção da crítica. Eu, particularmente, tb gosto mais dessa nova fase dele ao lado de Viggo, mas sempre gostei de Cronenberg e, francamente, o cho bem superior a Lynch. Aliás, a comparação - na minha avaliação - chega a ser injusta.
    Bjs

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