domingo, 19 de setembro de 2010

Claquete documenta - Ao sul da fronteira



Ao sul da fronteira (South of the border, EUA 2009), dirigido por Oliver Stone, parece um trabalho de graduação. Essa constatação pode ser tomada como um elogio ou como uma crítica. Até mesmo como um improvável híbrido das duas. A fita de Oliver Stone tem em sua essência uma vontade genuína de aclarar certos paradigmas midiáticos, como a vacilante e tendenciosa cobertura jornalística que determinados veículos americanos fazem do noticiário internacional. Reproduzindo, na maioria das vezes, ecos do que se balbucia na Casa Branca. Esteja ela sob comando republicano ou democrata. Contudo, esse aspecto nunca é prioridade para Stone. Ele o utiliza como ponto de partida para propagandear Hugo Chávez e sua revolución tão incompreendida no lado mais alto da América. Stone cede a sua ideologia e pinta um retrato da América do sul que só ele e, talvez, Chávez enxergam. Uma América do Sul sob liderança política do comandante em chefe da Venezuela em que o Brasil (e o cara, Lula) só exerce um papel de coadjuvante.
Um documentário que foge a verdade e se rebaixa a peça publicitária de um modelo de governo que não faz sentido em um mundo que avança ao ritmo de empresas como Apple, Google e Microsoft. Não se trata de incompreensão como brada Stone com seu filme, embora - obviamente – haja tal componente. Mas nesse sentido o filme não favorece em nada sua agenda. Ao sul da fronteira alude a um trabalho de graduação porque vem carregado de ideologia, meias verdades, má apuração e muita convicção em um projeto de mundo que parece deixar de fazer sentido depois que se deixa a faculdade para trás. Stone, no limiar, é tão manipulador, desinformado e taciturno em Ao sul da fronteira, quanto afirma ser a mídia americana em relação aos bolivarianos. Nesse sentido, seu filme não deixa de ser além de pedagógico, uma fina ironia. Ainda que involuntária.

4 comentários:

  1. É por causa de muitas coisas que você aponta em seu texto que eu não tenho o mínimo interesse de conferir este documentário!

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  2. Pra mim o Stone se queimou com Chávez.

    Enfim suas openiões políticas as vezes são um problema para a maioria. Até mesmo quando abordou verdades ou sei lá se eram verdades, nas cinebiografias dos presidentes americanos. Fiquei esperando por um filme de Eisenhower ou George Washington e ele faz sobre (justamente NIXON).

    Não vi este doc., na época do estranho 'W' que assisti com um espírito zombeteiro ao meu lado. Um filme estranho sobre Bush que ele resolveu fazer. Enfim... 'Wall Street' vai ser um alívio. A ficção imitando a realidade é mais divertido.

    Abraços
    Rodrigo

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  3. Sabe, Reinaldo, desconfiei que seria este o resultado desta empreitada.

    Pressenti que Stone estava fadado ao fracasso porque não aguardou a "cristalização" (no sentido de Sthendal) do seu sentimento em relação a Hugo Cháves.

    Tivesse ele dado mais atenção a "Do Amor e das Diversas Fases dessa Doença" e, talvez, não cometesse esta gafe imatura (ou adolescente, ou ainda, "de graduando" como muito bem escrevestes).

    Boa semana,
    Abração!
    ;)

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  4. Kamila: Pois é Ka, assisti movido por interesses antropológicos... rsrs. bjs

    Rodrigo: W foi um filme menos corajoso do que se esperava. Daí parte do descontentamento da crítica com Stone. O filme deixa claro que Stone já não consegue reunir sob seu cinema aquela chama que instiga. Virou, como a presença do seu amigo, um zombateiro. Bush, para Stone, é apenas um boboca bem intencionado. Chavez, que pode ser um boboca, é muito bem intencionado. Enfim, do the math... abs

    Cássio: Mais uma análise precisa. Desconfio que esse sentimento nunca se cristalize. Pelo menos não enquanto Chavez estiver no poder. Abs

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