segunda-feira, 27 de setembro de 2010

ESPECIAL WALL STREET - O DINHEIRO NUNCA DORME: Repercutindo o filme *


A justificativa que Oliver Stone tem dado a jornalistas em entrevistas promocionais de Wall street – o dinheiro nunca dorme é que voltou a este universo impelido pela forte crise financeira deflagrada em 2008. “Foi como um ataque cardíaco”, revelou o cineasta. “Era preciso voltar aquele universo”. É compreensível a razão que motivara Stone a retornar a um de seus mais bem sucedidos momentos como cineasta. A crise de 2008 foi tão virulenta que até hoje muitos gurus de wall street ainda hesitam em precisar como e por que ela ocorreu. Oliver Stone com sua firme postura contra o neoliberalismo vem com o novo filme dar o seu pitaco.
Em um primeiro momento o filme foca na bonança do crédito. Foi uma década de grandes saltos financeiros em que bancos e fundos de investimento lucraram estupidamente na base do capital especulativo. É Louis Zabel (Frank Langella) quem guarda o descontentamento de não mais acompanhar o ritmo frenético de dissimulações, especulações e sangue frio inerente àquela selva de arranha-ceús. Na primeira cena em que conversa com seu protegido, o corretor Jacob Moore (Shia Labeouf), essa condição fica clara. O próprio Jacob representa uma variação dessa condição. Ele é idealista, mas não perde o dinheiro de vista: “O único verde que conta é o dos dólares”, diz Jacob em uma de suas primeiras falas para a namorada Winnie (Carey Mulligan). Ele aposta na energia verde porque ainda é um nicho pouco vislumbrado por wall street. Essa é a única razão. É sobre o jogo, já dizia Gordon Gekko desde o primeiro filme. Embora não se perceba disso, Jacob já age dentro dessa especificidade. Em uma cena, ele discute com um amigo corretor sobre o impulso que as ações da empresa que ele representa terão. Ele se gaba de sua visão macroeconômica mais do que de ter recebido um cheque de U$ 1,5 milhão.

O que era afirmação no primeiro filme impulsiona novos questionamentos agora: Será?


Gekko entra na jogada
Zabel foi passado para trás. Jogado na cova e consumido pelos leões que guardavam a selva com ele, suicidou-se e deixou seu protegido com um sentimento de vingança em ebulição. É aí que Gekko entra em cena. Procurado por Jacob após uma palestra em que discorria sobre seu livro Is greed good?, o ex-tubarão de wall street percebe em Jacob gana e vontade de triunfar. Ele logo estabelece uma relação de trade com seu futuro genro.
Gekko parece regenerado. Sua palestra versa sobre as mazelas do "risco moral", a pirâmide financeira que queiramos admitir ou não, todos compactuamos ao hipotecar nossos imóveis. Ao refinanciá-los inadvertidamente e por aí vai. Gekko continua com seu charme e sofisticação, mas também não esconde suas feridas. Ele as lambe sabiamente.
Como consultor de Jacob, Gekko o assessora no plano para derrubar Bretton James (Josh Brolin), o grande rock star atual de wall street. É nesse escopo que Stone melhor defende sua tese: “perto desses tubarões de hoje, eu sou um amador”, dispara Gekko ao explicar para Jacob uma das manobras financeiras de James.
É isso que quer mostrar Stone. “Hoje não é preciso mais fazer uso de informações privilegiadas para fazer dinheiro”, exclama James em outro momento do filme.
As coisas avançaram tanto, e em um nível tão vertiginoso, que as pessoas tomaram o irreal como real. Se auto-enganaram, define o diretor. Daí a importância da personagem vivida por Susan Sarandon, que faz a mãe de Jacob. Na primeira vez que a encontramos, vemos uma mulher ansiosa, compulsiva, com tiradas secas e um cigarro na boca. Ela pede um socorro ao filho (U$ 200 mil), já que o mercado imobiliário está esfriando e ela não consegue vender as casas que administra. A personagem, que era enfermeira, abandonara o emprego para surfar na onda da economia aquecida. Antes de sua última cena no filme, em que ela está de volta a seu emprego no hospital, vemos a personagem em mais uma conversa franca com seu filho. É essa conversa franca com o filho que Wall street – o dinheiro nunca dorme quer ser para o público.
É um Oliver Stone provocador, insidioso e cínico. Mas também paterno. Tanto com seus personagens, como atesta a cena final, tanto para com o público, nos brindando com essa revisita a wall street por causa de um ataque cardíaco.


Jacob Moore "representa" quem viu o primeiro Wall street no novo filme, ou seja, um wall street guy sem a alma de um wall street guy


* Contém Spoilers

7 comentários:

  1. Bela análise Reinaldo.

    O filme não é fácil de criticar e vc o fez de forma objetiva com informações que complementam ou ampliam a compreensão.

    Abraço

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  2. Belo texto, não por acaso você nos brindou com um especial Wall Street por esses dias.

    bjs

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  3. Ah, ainda não conferi este filme! Mas, parece que ele, contrariando as minhas expectativas, é bem bom!

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  4. Reinaldo,

    Adorei sua análise. Concordo em gênero, número e grau.

    Beijos

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  5. Fernando: Salve, salve! Vc por aqui... rsrs. Sério msm, obrigado pelo reconheceimento e pelo elogio. abs

    Amanda: Obrigado mesmo Amanda. Beijão!

    Kamila: É bem bom mesmo Ka. Vc vai gostar! bjs

    Aline: Obrigado. Fico muito feliz que tenha gostado. Beijos

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  6. gostei muito do blog... e Wall Street faz parte da historia e ponto. Infelizmente vemos a cena se repetir,porem hoje nao se precisa de informação previligida. A Europa esta sofrendo agora...esta sangrando mais como bom animal feroz pode se recuperar e voiltar a atacar com força- o mercado. Teremos assim um Wall Street III- Euro em crise????

    boa tarde.

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  7. Obrigado anônimo. Pois é, a Europa atualmente está em maus lençóis. Vem aí um filme, chamado Margin Call, que revisita o surgimento da crise financeira de 2008. Os paralelos com atualidade, certamente, irão emergir.
    Abs

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