domingo, 31 de janeiro de 2010

ESPECIAL NINE - critica

Cinema, crises e expectativas

É preciso, logo de partida, esclarecer que Nine (EUA 2009) tem duas particularidades que, por definição, afugentam o espectador comum. É um musical e, antes disso, é um filme sobre o processo criativo de um cineasta de grandeza e peculiaridade, ou seja, um musical sobre o cinema. É, portanto, um filme de público restrito e de impacto calculado.
O novo filme de Rob Marshall, adaptado do musical da Broadway que por sua vez baseia-se no filme 8 e ½ de Fellini, é um filme de muitos valores e sutilezas. Embora Marshall não seja um diretor tão habilidoso em perfilar sutilezas, a força do roteiro e a letra das músicas (algumas criadas especificamente para o filme) se encarregam de fazê-lo. Em Nine, acompanhamos a crise criativa do mais importante e admirado cineasta italiano, Guido Contini (Daniel Day Lewis). Ele precisa começar a rodar seu próximo filme, Itália, e não tem idéia de como começar a escrever o roteiro. Guido é um homem de muita vaidade, de sexualidade latente e de maturidade em suspensão. Tudo isso como fluxo e contra fluxo de sua arte. A medida que vemos Guido mergulhar no inferno de sua consciência, descobrimos o litígio interno que o homem trava com o artista. Que o menino Guido trava com o homem Guido. Os números musicais, embora alguns pareçam descolados e desnecessários à narrativa, são artifícios poderosos nessa conjuntura.

O cineasta Guido dirige com as mulheres de sua vida ao fundo: Em Nine, o incosciente fala. E canta!

Nine captura um homem que tenta responder a pressões, expectativas e a própria vaidade enquanto lida com as de outras pessoas também. Esse processo não poderia ser aludido de forma mais poderosa do que através de números musicais. Contudo, o filme nunca empolga. Talvez porque seja tão hermético quanto a personalidade que ilumina. Talvez porque seja parte do charme minimalista do cinema feito para cinéfilos. Mas a probabilidade mais forte é de que o musical transbordante de estilo, arrojo, estrelas e pretensões seja isso mesmo. Um filme destinado a ser julgado mais por sua forma do que por seu conteúdo. Não que no caso de Nine isso seja ruim, mas não é de todo justo.

9 comentários:

  1. Eu AMO Musicais! E estou doida para ver.

    E ai, insônia? Estava editando um texto sobre 'O Solista', quando vi que passou por lá :)

    Beijos, Rei!

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  2. Eu sinto essa opinião de muitas pessoas, que esperavam mais do filme. Eu - apreciador de musicais - conhecia o espetáculo desde a broadway, e vê-lo adaptado para o cinema foi ótimo. Talvez o filme não agrade a todos, é verdade, mas conseguiu de uma forma especial me convomer e entusiasmar bastante - rs.

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  3. Acho que não empolga porcausa de Daniel Day-Lewis, Guido é o personagem central e precisaria dar mais emoção ao papel. Contudo como você disse é um bom filme pela sua forma e não por seu conteúdo... quem entender dessa forma, vê Nine com bons olhos.

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  4. Oi Reinaldo, tudo bem? Ainda não assisti Nine, mas agora com sua crítica, não nego que fiquei um tanto indignada de o filme ser menos conteúdo. Que pena! Volto aqui quando assistí-lo. bjs!

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  5. Reginaldo, vi uma crítica que destruiu o filme, ver Isabela Boscov, nunca tinha visto ela, da maneira que ela comentou, especificamente, Nine.

    Agora assim, quando você escreve, "Contudo, o filme nunca empolga. Talvez porque seja tão hermético quanto a personalidade que ilumina. Talvez porque seja parte do charme minimalista do cinema feito para cinéfilos.", não concordo contigo. Por quê? Porque um dos cineastas mais herméticos de todos os tempos, Bergman tem como característica a inacessibilidade e densidade dos seus roteiros, mas nem por isso, se torna morno ou incompreensível, muito pelo contrário. Será que o problema não é de direção, ou seja, do próprio Marshall?

    Abraço!

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  6. Como fã de musicais, tenho altas expectativas em relação a este filme. Como ainda não conferi a obra, não li tua crítica, mas espero que seja um bom filme e que me entretenha!

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  7. Lella:Obrigado pela visita e pelo carinho. Tb adoro musicais. Bjs Lella!

    Luis Galvão:Primeiramente, obrigado pela visita Luis. Espero que possa contar com sua visita mais vezes. tb gostei bastante do filme. Embora reconheça suas limitações, o filme me cativou. ABS

    Fernando e madame:Obrigado pelas visita e pelos sempre gentis e atentos comentários. Em relação a minha última frase, sublinhada pelos dois, receio que não me fiz entender claramente. Acho que Nine tem sim conteúdo. Um conteúdo, que a bem da verdade não é bem trabalhado como apontei no momento em que ressalto a irregularidade de algums números musicais, mas que a força deste conteúdo é diluída pela forma. Principalmente no que compete a maneira como nós (enquanto público) percebemos elas. Na verdade avalio que Nine é vitima de seus trunfos. Eles desviam o foco e acabam por diminuir a força da história contada. Algo que para mim está relacionado diretamente a tentativa de recriar uma atmosfera Felliniana.
    Bjs e ABs

    Santiago: oi Santiago, tudo bem? gostei da sua provocação. Da sua observação bem fundamentada. Contudo, como justifiquei acima, não considero Nine morno ou incompreensível. Acho que é um musical (algo por convenções práticas já inacessível, convenhamos) e um filme feito para amantes de cinema. Para quem gosta e conhece cinema além dos limites do tradicional. Isso posto, reconheço que o filme padece de algumas chagas. O elenco está irregular. Judi Dench é mediana, Nicole Kidman e Sophia Loren têm péssimas presenças. Day Lewis demora para engrenar um pouco, mas convence. Alguns números musicais estão descolados de sentido dentro da narrativa, enquanto outros apenas a engrandecem. Como os dois estrelados por Marion Cottilard, o de Penelope (especialmente cativante), o de Judi dench (sobre o oficio do cinema e do entretenimento), o de fergie (sobre a sexualidade) e o de Kate Hudson (uma homenagem do filme Nine ao cinema italiano). Acho que o filme tem um contaúdo muito valoroso, mas as partes sobressaem. É isso que quis dizer com meu comentário final. A dir~ção de Marshall, como era de se esperar priviligia essas partes em detrimento de uma unidade narrativa mais encorpada. Os méritos de Nine, ao meu ver, se devem mais aos atores e aobom roteiro do que ao diretor.
    Quanto a critica da Isabela Boscov, uma critica e jornalista de quem eu pessoalmente gosto muito, vc não devia dar grande relevância. Ela, assim como o notório Rubens Ewald Filho, costumam execrar filmes de que não gostam e supervalorizar aqueles que apreciam por uma razão ou outra. Ou vc acha que Wolverine foi o melhor blockbuster do ano passado? (Como a Isabela, fã confessa de Hugh Jackman, escreveu na revista e declarou em video)

    Nine não é nem de longe um dos melhores filmes do ano. Em compensação é melhor do que Avatar, por exemplo. ABS

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  8. Kamila: Obrigado pela visita. Não entendi, pq não leu a critica? Não lê criticas antes de ver os filmes? Ou tem medo de Spoilers? Minhas criticas não contém spoilers. Elas se debruçam sobre a estrutura do filme. Os spoilers podem aparecer em outras seções como Contexto e Insight.
    De qualquer maneira, espero que goste do filme.Bjs

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  9. Acabei de ver o filme na tv e vim conferir a sua crítica :) Fiquei com a impressão de que há ótimas interpretações e cenas, mas que no final, a costura ficou meio a desejar.
    Enfim, gostei muito do filme, talvez, e isso vc sabe melhor do que ninguém, por estar passando por uma crise criativa monstruosa, rsrsrs
    Ainda não vi o 8 1/2, vou tentar corrigir essa lacuna em breve ;)

    Bjs

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