Por que Lula?
Pode ter sido uma surpresa para alguns. Não foi para quem tem o mínimo de conhecimento das bases que orientam a escolha do candidato brasileiro a candidato estrangeiro no Oscar. Os critérios utilizados em um colégio eleitoral tão plural (o que é bom) não poderiam ser mais simplórios. A ideia é antecipar o que está palatável ao gosto dos membros da academia naquele momento histórico. O passado recente demonstra que a estratégia é falha e frouxa, mas mesmo com um júri diferente a cada ano, ela se reproduz quase que de forma mimética.
Antes da escolha de Lula – o filho do Brasil para ser o representante brasileiro na disputa pelo Oscar, muito se falava na cinebiografia Chico Xavier. E por que se optou pelo presidente popular ao invés do líder espírita? Simplesmente pelo eleitorado de Lula. Por eleitorado aqui se esquadra o percentual internacional do presidente. É sabido que o carisma de Lula já transpôs nossas fronteiras. Eleito homem do ano e líder influente por revistas de prestígio internacional, Lula é uma figura revestida de curiosidade e misticismo para olhos estrangeiros. Nesse sentido, o peso do personagem Lula é superior ao peso do personagem Chico Xavier. Ainda que ambos os filmes se assemelhem em termos de estrutura e narrativa. Não obstante, os dois filmes relacionados aqui se equiparam a cinebiografia da dupla Zezé de Camargo e Luciano, cujo filme (Os dois filhos de Francisco) fora o selecionado brasileiro há três anos. Essa equivalência mostra que a ideia não é nova, tão pouco a tentativa de dar viço a ela. A diferença aqui é que pondera-se que a “força” de Lula possa ser preponderante. Que pese a favor do candidato brasileiro.
Ignora-se o fato de que o filme é ruim. Há sérios problemas narrativos e um herói que provoca pouca empatia, embora a história seja bonita e comovente. Fábio Barreto (outro trunfo em que confiam os eleitores do filme, porque Barreto já fora indicado ao Oscar) não conseguiu sintetizar em película o significado sociológico da figura Lula, tão pouco humanizou o personagem. De qualquer jeito falhou em seu propósito. Tanto o é, que o filme, cotado para ser um sucesso de bilheteria no país, fracassou redondamente. Inclusive a distribuição em alguns países da América Latina teve de ser revista. À crítica americana, o filme também não agradou. O New York Times e a Vanity Fair (dois veículos sempre atenciosos com produções estrangeiras) escreveram críticas venenosas sobre a produção.
O fato da escolha por Lula – o filho do Brasil ter sido unânime, como anunciado, só reforça o despautério com que a escolha de nosso representante tem sido feita. Salve geral, Última parada 174 (de Bruno Barreto) e Os dois filhos de Francisco foram as últimas escolhas nacionais para disputar o prêmio. Percebe-se que não saímos do lugar. Enquanto isso, uma produção oxigenada com filmes como A festa da menina morta, As melhores coisas do mundo, Se nada mais der certo e Cabeça a prêmio segue escondida. Está na hora de perguntar, principalmente em tempos de eleição, se não é o momento de revermos nossos critérios.