segunda-feira, 23 de maio de 2011

Repercutindo Cannes 2011


O presidente do júri Robert De Niro entremeado por Kirsten Dunst e Jean Dujardin, os atores vencedores
da 64ª edição do festival de Cannes


O reinado americano na França continuou. Em dez anos, nenhuma cinematografia prevaleceu tanto na croisette. Com a vitória do épico existencialista de Terrence Malick, A árvore da vida, são quatro vitórias em uma década. É um feito e tanto. Descolada dessa significante insurgência, a edição 2011 do festival agradou muito mais do que a de 2010. Um fato que já era antecipável no momento do anúncio dos filmes selecionados para integrar a competição. Isso não garantiu que a escolha do vencedor da Palma de ouro fosse indubitável. Houve vaias no momento do anúncio e moderadas contestações da crítica internacional (o prêmio da crítica em Cannes foi para o finlandês Le Havre). O próprio De Niro deixou escapar que o filme não era unanimidade entre o júri. “A maior parte de nós achou que o filme era extraordinário e para o qual mais fazia sentido a Palma de ouro”, disse na coletiva pós-premiação.
De Niro, aliás, foi elogiado por seus colegas de júri como um presidente bastante democrático e debatedor. Esses adjetivos foram aventados para rebater percepções da imprensa de que os resultados da 64ª edição de Cannes muito se assemelhavam ao gosto do ator americano. O drama de violência urbana Drive rendeu ao diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn, a Palma de melhor diretor. O prêmio do júri, um dos mais contestados pela crítica, foi para o francês Polisse. O filme, sobre investigações policiais contra pedofilia, se caracteriza por uma estética documental que críticos americanos rotularam como “sub Lei & ordem”, em referência à famosa série de TV daquele país. Mas o cinema francês, como é tradição, não poderia sair sem um prêmio sequer no festival. Além da premiação de Polisse, o francês Jean Dujardin foi escolhido o melhor ator por The artist. Dujardin derrotou os favoritos Sean Penn (This must be the place) e Michel Piccoli (Habemus papam). Presente em quase toda a metragem de The artist, um filme em preto e branco e mudo, o ator se emocionou com surpreendente vitória. A crítica internacional preferia outros desempenhos, mas não contestou a vitória do francês. Maior revolta gerou o triunfo da americana Kirsten Dunst por Melancholia. Embora seu nome fosse ventilado nos corredores de Cannes, ninguém parecia prever que Tilda Swinton (que arrebatou em We need to talk about Kevin) sairia sem esse prêmio. Assim como o próprio filme que agradou bastante. Outras fitas muito badaladas no festival que saíram sem prêmio foram o drama austríaco Michael, outro sobre pedofilia (ainda que com um enfoque diferente de Polisse), o australiano Sleeping beauty e o já citado finlandês Le Havre.
Mesmo com algumas contestações, as escolhas do júri presidido por Robert De Niro agradaram mais do que as que o colegiado comandado por Tim Burton ano passado realizou. As sanções e críticas aos vencedores da edição de 2010 foram agudas, mas a favor de De Niro pesou o melhor nível dos candidatos desse ano. Prova disso, é o empate para o Grande prêmio do júri. O belga The kid with the bike, dos irmãos Dardenne e o turco Era uma vez na Anatólia, de Nuri Bilge Ceylan, ambos já premiados em Cannes, dividiram a honraria.

Kirsten Dunst era só sorrisos: ela agradeceu a Von Trier pela liberdade que lhe conferiu e ao júri por não ter desistido do filme após as declarações polêmicas do diretor no meio da semana

Os vencedores:


Palma de Ouro
A Árvore da Vida, de Terrence Malick (EUA)
Grande Prêmio do Júri
The kid with the bike, de Luc e Jean-Pierre Dardenne (Bélgica/França)
Era uma vez na Anatólia, de Nuri Bilge Ceylan (Turquia)
Melhor Diretor
Nicolas Winding Refn, por Drive (EUA)
Melhor Atriz
Kirsten Dunst, por Melancolia (Dinamarca)
Melhor Ator
Jean Dujardin, por The Artist (França)
Melhor Roteiro
Footnote (Israel)
Prêmio do Júri
Polisse, de Maiwenn Le Besco (França)

2 comentários:

  1. Von Trier já me cansou depois dessa, rs!
    Feliz pela Dunst, sempre simpatizei com esta atriz. Verei o filme numa ocasião tempestiva, como sempre assisti aos filmes de Von Trier.
    Abs.
    Rodrigo

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  2. Rodrigo: Sempre achei o Von Trier um tanto vazio. Até o acho arrojado estéticamente, mas não creio que alguma inquietude estética lhe sustente em termos de longevidade. E as polêmicas que ele abastece tão gratuitamente reforçam isso.
    Abs

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