sábado, 21 de maio de 2011

Cenas de cinema

Por Ivo Pitanguy

Pedro Almodóvar, na coletiva de imprensa em Cannes de seu novo lançamento, A pele que eu habito, declarou que as referências ao Brasil em seu filme excedem a música (é o quinto filme do espanhol com música brasileira na trilha) e a nacionalidade de um personagem. “A cirurgia plástica é uma indústria muito forte no Brasil”, argumentou o cineasta que não soube precisar se o mais famoso dos cirurgiões plásticos brasileiros, Ivo Pitanguy, está vivo. Sí Almodóvar. Está!


O amor da vida de Banderas
O ex-latin lover de Hollywood, Antonio Banderas foi a premiere de A pele que eu habito, filme que o reúne ao cineasta que o revelou, acompanhado de sua esposa – a atriz americana Melanie Griffith. Banderas, no entanto, não perdia a oportunidade de pular no colo de Almodóvar. “Ele é a minha vida”, dizia todo alegre e entusiasmado.

Almodóvar e Banderas posam para os fotógrafos: o muso de um é o muso do outro


A recepção de sempre

Almodóvar recebeu palmas fervorosas ao fim da exibição de A pele que eu habito. Mas a recepção ao seu filme foi morna. A crítica se dividiu. E em Cannes, com Almodóvar, sempre foi assim. Salvo a exceção de sua estréia na croisette, em 1999, quando arrebatou público e crítica com Tudo sobre minha mãe. O diretor espanhol, como está sempre se experimentando tematicamente, embora preserve o viço estético, nunca mais arrebatou instantaneamente na riviera francesa.


Lars Von Trier – polêmica 2022

O polemista dinamarquês fez uma piada infame e conseguiu seu intento: polarizar as atenções no festival. Mesmo com seu filme Melancholia não surtindo o mesmo impacto de seu antecessor (Anticristo), Von Trier conseguiu se vincular como a lembrança mais vívida dessa edição de Cannes. A piada em que se diz nazista e admite simpatia e compreensão pela figura de Hitler chateou o presidente do festival, o judeu Giles Jacob. Embora amigos, Jacob optou por uma punição extraordinária e baniu o cineasta do evento. Von Trier tornou-se persona non grata no festival.
Em 2009, o júri ecumênico já havia lhe outorgado um prêmio irônico que o próprio Jacob fez questão de desautorizar por considerar censura. Von Trier, no entanto, segue com seu tino provocador e, parece, ter perdido as costas quentes. Pelo menos em Cannes.

O dinamarquês passou os últimos dois dias concedendo entrevistas para jornalistas de todo mundo, mais do que qualquer outro concorrente à Palma de ouro: À Folha de São Paulo, ele disse que pedir desculpas é algo "americano demais"

De mentirinha
No entanto, as coisas não são tão definitivas quanto parecem. O filme, Melancholia, continua elegível para a Palma de ouro. Segundo bochichos na croisette, as maiores chances são para a atriz Kirsten Dunst. E o próprio Von Trier, que não poderá comparecer a cerimônia de premiação, poderá voltar a Cannes em outros anos. “A punição é válida só para esse ano”, afirmou em nota oficial a direção do evento.


Os favoritos de momento I
E a festa está terminando. Um dia antes do anúncio dos vencedores pelo presidente do júri Robert De Niro, Claquete aponta as prováveis escolhas. A briga pela palma reúne três filmes destacados por setores influentes da crítica. São eles The kid with the bike, dos irmãos Dardenne; A árvore da vida, de Terrence Malick e Michael, do austríaco Markus Schleinzer. Contudo, não seria surpresa se em uma disputa com a presença de quatro diretoras, uma mulher vencesse. Nesse sentido, a escocesa Lynne Ramsey com We need to talk about Kevin e a japonesa Naomi Kawase com Hanezu no Tsuki são opções viáveis.


Os favoritos de momento II
Mas se nenhum filme tornou-se unanimidade, embora o nível das fitas tenha agradado, por que não premiar Almodóvar? Essa pode ser a pergunta que algum membro do júri levantará e a resposta poderá vir em forma de Palma de ouro.


Os favoritos de momento III
Na disputa por melhor ator a briga parece concentrada entre o americano Sean Penn por This must be the place e o italiano Michael Piccolli por Habemus Papam. Na disputa pela Palma de melhor atriz, há mais nomes aventados. Tilda Swinton (We need to talk about Kevin), Kirsten Dunst (Melancholia), Emily Browning (Sleeping beauty) e Elena Anaya (A pele que eu habito).

4 comentários:

  1. Mais uma vez, Lars Von Trier conseguiu ser a sensação de Cannes, mesmo que seja uma "fama ruim" para si. Tenho pra mim que não passa de marketing, mas nunca se sabe não é mesmo?

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  2. Eu achei exagerada a decisão de Cannes banir von Trier dos dias restantes da cerimônia. Da mesma forma, achei estúpidas e desrespeitosas as declarações que o dinamarquês fez na coletiva de imprensa. O festival ficaria mal falado se não tomasse uma providência tão severa quanto a isso? Creio que não, pois von Trier degrine apenas a própria imagem e essa brincadeira de mau gosto cozinhada pela mídia para saldar leitores nem será mais lembrada quando o filme vier à tona e talz. O próprio já fez coisa muito "pior" e suas polêmicas não sobreviveram ao tempo.

    No aguardo por "Melancolia". O trailer é encantador.


    abs!

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  3. Alan: É marketing. Isso é fato, mas com Von Trier, um artista confessadamente tão perturbado, as brincadeiras nunca podem ser tomadas nessa única perspectiva... (calafrios) rsrs
    abs

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  4. Elton: Não acho que Cannes errou. Concordo que acabou ajudando no caráter prompocional das asneiras proferidas pelo dinamarquês, mas era preciso pontuar que o Festival não é plataforma para esse tipo de brincadeira. o caráter simbólico foi bem definido pelo Thierry Freaumux, diretor do festival, "foi um cartão vermelho dessa edição". Vai esfriar a cabeça no vestiário Von Trier.
    Acho que foi uma punição pedagógica. Ao contrário do que Von Trier pensa, ele não é Deus.
    E seguimos aguardando Melancholia.
    Abs

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