quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Projeto "Latitudes" renova linguagem e lógica narrativas

O diretor Felipe Braga (no primeiro plano), Alice Braga e Daniel de Oliveira: ousadia, comprometimento e novos horizontes estéticos em um filme que é, antes de qualquer coisa, um projeto

Filme? Série? Projeto? Latitudes é de tudo um pouco e, também, algo novo, cheio de oxigênio e liberdade que avoca o direito de nomear-se como projeto pela amplitude que o termo admite. É um “projeto transmídia”, nas palavras do diretor e principal idealizador Felipe Braga. Funciona assim: é, modo vulgar, um filme que mostra os encontros e desencontros do fotógrafo José (Daniel de Oliveira) e da editora de moda Olivia (Alice Braga) em diversas cidades do mundo. “É uma história de amor não romântica”, oficializa o diretor. Mas Latitudes não foi concebido para ser visto no cinema, da maneira convencional. Toda quarta-feira estreia no YouTube um novo episódio, serão 13 ao todo, mostrando o encontro desses personagens em uma cidade. Paris (França), Londres (Inglaterra), Veneza (Itália), José Inácio (Uruguai) e São Paulo (Brasil) foram as cidades dos cinco primeiros episódios. Os episódios duram cerca de 13 minutos.  Na segunda-feira seguinte, o mesmo episódio é exibido na TNT, canal do grupo Turner disponível nos pacotes mais básicos de qualquer programadora de TV por assinatura, com um valioso adendo: o episódio exibe cenas de bastidores em que o diretor orienta seus atores e em que Alice e Daniel fazem leituras dos textos, compartilham impressões gerais e discutem sobre os rumos dos personagens.
Além do voyeurístico e cinéfilo olhar sobre o processo de produção de um filme calcado na intimidade e investigação de dois personagens, esse expediente se revela intrínseco à narrativa multiplataforma que o diretor objetiva. Decerto, há uma ideia de liberdade nesses bastidores diferenciada daquela que se assume para uma produção de filme, mas o convite a essa espiada por detrás da cortina é legítimo. Braga brinca com sua narrativa de maneira salutar. Ora sobrepõe os diálogos ensaiados aos da ficção oficial, ora sublinha a perspicácia e desenvoltura dos atores na promoção de adaptações dos diálogos e interpretações dos desejos e impulsos dos personagens. É um fôlego novo na investigação, no estudo de personagens, em que ele apresenta os atores como parceiros do público.
Daniel e Alice: ensaio que também faz parte da narrativa...
Toda a dinâmica do casal é muito sensual. O primeiro episódio, passado no confinamento de uma suíte de hotel em Paris, é de uma sensualidade atroz. Daniel e Alice disparam diálogos com efervescência, mas Braga quebra essa rotina com inserções dos ensaios. Em um momento de tensão de uma cena em que os personagens disputam o controle sobre o outro, uma característica da dinâmica deles nos três primeiros episódios, Braga quebra a tensão demonstrando o erro de Daniel de Oliveira na cena. Esse recurso é usado em outras cenas de tensão; como no quarto episódio, em que os personagens buscam controle, mas agora sobre seus próprios sentimentos.
Latitudes, no contexto da distribuição, é vanguardista. Steven Soderbergh lançou Bubble simultaneamente no cinema, na internet e na TV em 2005, mas a inovação competia apenas à distribuição. Aqui a distribuição não só se renova em termos de gradação, o filme ganha estrutura episódica e serializada, como influencia na narrativa. Quem acompanha o projeto pela internet tem uma experiência, quem acompanha pela tv tem outra e quem acompanha pela internet e depois pela tv tem outra ainda mais distinta.
Se na distribuição, que afeta a narrativa, Latitudes se coloca na vanguarda, na narrativa é um projeto ainda mais inventivo e inquieto. Os episódios sempre terminam em picos de tensão, com os chamados ganchos, mas também com uma trama mais coesa, mais completa, mais redonda – algo que não necessariamente se verifica nas séries a granel. Ademais, a intercalação das cenas de ensaio, com cenas do filme, com o off vazado do diretor lendo o roteiro ou comentando os efeitos de particular cena mais a frente no episódio, proporcionam uma interação jamais experimentada em termos de narrativa no cinema. Não que seja o melhor modelo a se seguir, o cinema paralisaria se seguisse um único e dito melhor modelo, mas é um modelo muito eficiente para os propósitos dramatúrgicos perseguidos por Latitudes. Essa compreensão de tempo, espaço, ritmo e esse azeitamento, que surge na versão televisiva de Latitudes, fazem do projeto algo ímpar – conceitual e ontologicamente - no cenário do audiovisual brasileiro ou mesmo internacional.

Alice e Daniel em cena do primeiro episódio "Destino Paris": é possível acompanhar os novos episódios no canal do projeto no YouTube

Confira o primeiro episódio de Latitudes

4 comentários:

  1. Oi? Onde eu estava enfurnado sendo que este projeto não chegou ao meu conhecimento?
    Thanks pela dica, cara! Que coisa interessante! Me lembrou um pouco o "360", do Meirelles, mas espero que seja melhor rs.
    Está em qual episódio?
    Eu sou daqueles que espera acabar para depois ver tudo, numa tacada, (Breaking Bad tá aí e fala por mim).
    Vou já favoritar aqui para poder assistir depois.
    Muito interessante a ideia, adoro os atores e me impressiona a revolução estrutural do "filme". Bem bacana mesmo.
    Mais uma vez, obrigado por me apresentar essa sessão, Rei.

    Abrasss!

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  2. Imagina meu velho! Está indo para o sexto episódio! Espero que aprecie.Who am I kidding, I know you gonna enjoy it...
    abs

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  3. Ainda não vi na tv, mas peguei os episódios na internet e estou adorando. Quem diria que o Daniel era tão sexy... Eu não imaginava, pelo menos, rsrsrs Espero que eles consigam manter a bola no alto: os diálogos são um primor! Muito mais interessante que muita coisa vendida como se fosse a última bolachinha do pacote por aí.
    Bjs

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  4. Eu tb estou adorando.Eu já estava esperando pelo projeto, mas me surpreendi com a qualidade! Até Daniel Oliveira abusa da sensualidade, como vc bem observou...
    bjs

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