O diretor Felipe Braga (no primeiro plano), Alice Braga e Daniel de Oliveira: ousadia, comprometimento e novos horizontes estéticos em um filme que é, antes de qualquer coisa, um projeto
Filme? Série? Projeto? Latitudes é de tudo um pouco e,
também, algo novo, cheio de oxigênio e liberdade que avoca o direito de
nomear-se como projeto pela amplitude que o termo admite. É um “projeto
transmídia”, nas palavras do diretor e principal idealizador Felipe Braga.
Funciona assim: é, modo vulgar, um filme que mostra os encontros e
desencontros do fotógrafo José (Daniel de Oliveira) e da editora de moda Olivia
(Alice Braga) em diversas cidades do mundo. “É uma história de amor não
romântica”, oficializa o diretor. Mas Latitudes não foi concebido para ser
visto no cinema, da maneira convencional. Toda quarta-feira estreia no YouTube
um novo episódio, serão 13 ao todo, mostrando o encontro desses personagens em
uma cidade. Paris (França), Londres (Inglaterra), Veneza (Itália), José Inácio
(Uruguai) e São Paulo (Brasil) foram as cidades dos cinco primeiros episódios. Os episódios duram cerca de 13 minutos. Na
segunda-feira seguinte, o mesmo episódio é exibido na TNT, canal do grupo
Turner disponível nos pacotes mais básicos de qualquer programadora de TV por
assinatura, com um valioso adendo: o episódio exibe cenas de bastidores em que
o diretor orienta seus atores e em
que Alice e Daniel fazem leituras dos textos, compartilham
impressões gerais e discutem sobre os rumos dos personagens.
Além do voyeurístico e cinéfilo olhar sobre o processo de
produção de um filme calcado na intimidade e investigação de dois personagens,
esse expediente se revela intrínseco à narrativa multiplataforma que o diretor
objetiva. Decerto, há uma ideia de liberdade nesses bastidores diferenciada
daquela que se assume para uma produção de filme, mas o convite a essa espiada
por detrás da cortina é legítimo. Braga brinca com sua narrativa de maneira
salutar. Ora sobrepõe os diálogos ensaiados aos da ficção oficial, ora sublinha
a perspicácia e desenvoltura dos atores na promoção de adaptações dos diálogos
e interpretações dos desejos e impulsos dos personagens. É um fôlego novo na
investigação, no estudo de personagens, em que ele apresenta os atores como
parceiros do público.
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| Daniel e Alice: ensaio que também faz parte da narrativa... |
Toda a dinâmica do casal é muito sensual. O primeiro
episódio, passado no confinamento de uma suíte de hotel em Paris, é de uma
sensualidade atroz. Daniel e Alice disparam diálogos com efervescência, mas
Braga quebra essa rotina com inserções dos ensaios. Em um momento de tensão de
uma cena em que os personagens disputam o controle sobre o outro, uma
característica da dinâmica deles nos três primeiros episódios, Braga quebra a
tensão demonstrando o erro de Daniel de Oliveira na cena. Esse recurso é usado
em outras cenas de tensão; como no quarto episódio, em que os personagens
buscam controle, mas agora sobre seus próprios sentimentos.
Latitudes, no contexto da distribuição, é vanguardista.
Steven Soderbergh lançou Bubble simultaneamente no cinema, na internet e na TV
em 2005, mas a inovação competia apenas à distribuição. Aqui a distribuição
não só se renova em termos de gradação, o filme ganha estrutura episódica e
serializada, como influencia na narrativa. Quem acompanha o projeto pela
internet tem uma experiência, quem acompanha pela tv tem outra e quem acompanha
pela internet e depois pela tv tem outra ainda mais distinta.
Se na distribuição, que afeta a narrativa, Latitudes se
coloca na vanguarda, na narrativa é um projeto ainda mais inventivo e inquieto.
Os episódios sempre terminam em picos de tensão, com os chamados ganchos, mas
também com uma trama mais coesa, mais completa, mais redonda – algo que não
necessariamente se verifica nas séries a granel. Ademais, a intercalação das
cenas de ensaio, com cenas do filme, com o off vazado do diretor lendo o
roteiro ou comentando os efeitos de particular cena mais a frente no episódio,
proporcionam uma interação jamais experimentada em termos de narrativa no
cinema. Não que seja o melhor modelo a se seguir, o cinema paralisaria se
seguisse um único e dito melhor modelo, mas é um modelo muito eficiente para os
propósitos dramatúrgicos perseguidos por Latitudes. Essa compreensão de tempo,
espaço, ritmo e esse azeitamento, que surge na versão televisiva de Latitudes,
fazem do projeto algo ímpar – conceitual e ontologicamente - no cenário do
audiovisual brasileiro ou mesmo internacional.
Alice e Daniel em cena do primeiro episódio "Destino Paris": é possível acompanhar os novos episódios no canal do projeto no YouTube
Confira o primeiro episódio de Latitudes
Confira o primeiro episódio de Latitudes
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Oi? Onde eu estava enfurnado sendo que este projeto não chegou ao meu conhecimento?
ResponderExcluirThanks pela dica, cara! Que coisa interessante! Me lembrou um pouco o "360", do Meirelles, mas espero que seja melhor rs.
Está em qual episódio?
Eu sou daqueles que espera acabar para depois ver tudo, numa tacada, (Breaking Bad tá aí e fala por mim).
Vou já favoritar aqui para poder assistir depois.
Muito interessante a ideia, adoro os atores e me impressiona a revolução estrutural do "filme". Bem bacana mesmo.
Mais uma vez, obrigado por me apresentar essa sessão, Rei.
Abrasss!
Imagina meu velho! Está indo para o sexto episódio! Espero que aprecie.Who am I kidding, I know you gonna enjoy it...
ResponderExcluirabs
Ainda não vi na tv, mas peguei os episódios na internet e estou adorando. Quem diria que o Daniel era tão sexy... Eu não imaginava, pelo menos, rsrsrs Espero que eles consigam manter a bola no alto: os diálogos são um primor! Muito mais interessante que muita coisa vendida como se fosse a última bolachinha do pacote por aí.
ResponderExcluirBjs
Eu tb estou adorando.Eu já estava esperando pelo projeto, mas me surpreendi com a qualidade! Até Daniel Oliveira abusa da sensualidade, como vc bem observou...
ResponderExcluirbjs