domingo, 20 de janeiro de 2013

Oscar Watch 2013 - O fator Argo na corrida pelo Oscar, o boom das bilheterias e outras reminiscências da temporada de premiações



Existe uma grita contra o Oscar. Bem, ela sempre existe. Mas em 2013 ela é um pouco diferente. Parte majoritariamente dos chamados “Oscar pundits”, figuras que se notabilizam por comentar e antever o raciocínio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Como a lista dos indicados divulgada em 10 de janeiro pela Academia reservou algumas surpresas, a gritaria foi geral. Muitas expectativas foram desarmadas; inclusive as nomeações de Ben Affleck e Kathryn Bigelow como diretores de Argo e A hora mais escura, os dois filmes mais festejados pela crítica no ano. O que se passa, na realidade, é que a crítica americana em geral andava empolgada com a maneira que vinha influenciando o Oscar nos últimos anos. Desde a consagração feroz de Guerra ao terror em 2010 até a inserção potente de candidatos como A rede social (2011) e A árvore da vida (2012), filmes pouco compatíveis com o gosto histórico da academia, mas celebrados pela crítica, entre os principais concorrentes a melhor filme. Em 2013, mais do que qualquer outra coisa, essa porta foi fechada. Filmes bem criticados obviamente tiveram vez no Oscar, como sempre ocorreu, mas os filmes defendidos ardorosamente pela crítica se viram diminuídos na lista dos indicados.
Com a antecipação do anúncio dos indicados ao Oscar, como reflexo, a corrida ganhou ainda um outro componente paradoxal. Argo, mesmo sem Affleck na categoria de direção no Oscar, ganhou um momentum que não pode ser desconsiderado com a consagração no Critic´s Choice Awards e no Globo de Ouro. Ambas as instituições, formadas por críticos americanos e jornalistas e estrangeiros respectivamente, elegeram Argo o melhor filme do ano e Affleck o melhor diretor. O filme, assim, se mantém na mídia com um recorte bem positivo e pode gerar reavaliações de acadêmicos que não o enxergam como preferência, mas gostam bastante do filme. É preciso dizer, contudo, que uma vitória de Argo continua imensamente improvável. Mas em um cenário de pulverização como em 2006, em que o vencedor do Oscar de melhor filme, Crash – no limite, só levou outros dois prêmios (roteiro original e montagem) e empatou em número de Oscars com outros três filmes (O segredo de brokeback mountain, Memórias de uma gueixa e King Kong), Argo veria suas chances aumentarem.
Do outro lado, Lincoln, um sucesso de bilheteria invejável com um herói americano de carne e osso altamente venerado, estrelado por um ator festejado e dirigido por ninguém menos que Steven Spielberg, é um produto talhado para o Oscar. É uma competição quase desleal em matéria de lobby, dadas as circunstâncias.

Argo, ainda que não seja o favorito ao prêmio de melhor filme, conseguiu ser o protagonista da corrida pelo Oscar. Vantagem que não pode ser desprezada...


O recado do box office
O que nos leva a outro recorte. É sabido que indicações ao Oscar impulsionam bilheterias de filmes. Segundo dados coletados pela Moviemaker magazine, que monitora o cinema independente americano, todos os filmes indicados ao Oscar de melhor filme este ano experimentaram aumento de bilheteria no fim de semana passado. Lincoln, por exemplo, a maior bilheteria entre os indicados, teve uma elevação de 17%. Nada se compara, porém, aos 40% obtidos por O lado bom da vida, filme com indicações para atores nas quatro categorias de atuação. Vencedor do prêmio do público no último festival de Toronto, a fita independente distribuída pela The Weinstein Company vinha sofrendo nas bilheterias com um circuito reduzido às principais cidades americanas. Agora, às vésperas da estreia internacional e da ampliação do circuito nos EUA, o filme experimenta essa expressiva expansão no interesse do público. Esse dado nas mãos de Harvey Weinstein pode ser desestabilizador. Ademais, é bem óbvio que o filme caiu na graça dos atores – maior colegiado da Academia.
O filme também é o que reúne melhor avaliação em redes sociais, segundo auditoria independente encomendada pelo The New York Times. São aspectos que podem adquirir peso mais significativo em uma corrida um tanto mais longa do que o usual, ao invés dos tradicionais 28 dias, em 2013 serão 44 dias entre o anúncio dos indicados e a realização do Oscar.

Bradley Cooper em cena de O lado bom da vida: o melhor avaliado nas redes sociais entre os indicados a melhor filme

Entretanto
Outra pandemia que parece tomar conta de quem acompanha mais de perto a temporada de premiações é o atrofiamento de certas convicções superadas, como a de que o melhor filme do ano tem que ter obrigatoriamente a melhor direção. Não é verdade. É fato que o melhor filme do ano precisa ter um excelente trabalho de direção, mas há tantos elementos que precisam se harmonizar com eficácia e brilhantismo que reduzi-lo à direção soa maniqueísta. É mais sensato, porém, advogar que um filme que não tem seu diretor reconhecido entre os melhores do ano (sejam dez ou cinco como no caso do Oscar) não reúne chances reais de vencer como melhor produção do ano. É preciso separar uma noção da outra. Embora elas sejam intrinsecamente relacionáveis, elas são distintas.
Por isso, não existe anomalia na lista do Oscar, como advogam alguns. A academia entende, como colegiado, que Indomável sonhadora, Amor, Lincoln, O lado bom da vida e As aventuras de Pi são filmes melhores dirigidos do que Argo e A hora mais escura. O que torna inerente a leitura de que, no entendimento da Academia, são filmes melhores, mais bem urdidos em suas minúcias. O que não implica em desprestígio para os outros filmes, que com a flexibilização da lista de indicados a melhor filme, conseguiram vaga na categoria de melhor produção do ano. A anomalia, como já previra Claquete em diversos posts anteriores, é na temporada de premiações. Não que essa anomalia, para quem gosta de emoção, seja uma notícia ruim.

6 comentários:

  1. Adorei a imagem da capa do blog..linda.


    Sobre o Oscar, particularmente, gosto. Ao mesmo tempo....não acho que isso deve dizer se o filme é bom ou ruim.......tantas falhas graves.

    Minha torcida será para Tarantino....e De Niro.

    abs

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  2. Excelente análise, Reinaldo! Parabéns! Como você bem previa, "A Hora Mais Escura" chegou fraco aos shows principais de premiações, perdendo seu favoritismo para "Argo", o grande vencedor do Critics Choice e do Golden Globes. Acho que o Oscar pecou pela decisão de antecipar o anúncio dos indicados e acredito que isso se refletiu nas ausências de Affleck e Bigelow da lista de Melhor Diretor. De qualquer forma, acho que o Oscar irá por um caminho mais tradicional, com "Lincoln" predominando nas categorias principais.

    Beijos!

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  3. E nessa brincadeira de prestígio e desprestígio do Oscar, A Hora Mais Escura e Hitchcock foram adiados por aqui...

    Acompanhando tudo com moderação, hehe, também gosto bastante do Oscar, apesar de saber que não quer dizer muita coisa em termos de qualidade.

    bjs

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  4. Renato Cinema: Valeu Renato. Concordo que o Oscar não seja parâmetro para a qualidade de um filme. Mas de todos os que s epretendem parâmetros (prêmios e festivais) é o mais justo e democrático...
    Abs

    Kamila: Obrigado Ka. Não acho que "Argo" seja o favorito, mas concordo que tem mais chances de vitória ( e prestígio) do que "A hora mais escura". Por último, não acho que a academia tenha errado em antecipar seu calendário. julgando estritamente por essa temporada, foi um manejo muito bem vindo.
    Bjs

    Amanda: Pois é... essas remarcações são o ó, né? E Killer Joe que tb foi remanejado para os confins de março? É f...
    Bjs

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  5. Pelo que eu tenho lido, parece que a antecipação da entrega dos indicados ao Oscar influenciou muito no resultado. O último dia para os acadêmicos votarem foi 04 de janeiro (sexta-feira), muito próximo às festas de fim de ano, quando ainda tem muita gente viajando. Mesmo com o sistema on-line, muita gente não deve ter votado. Por isso especula-se que a abstenção tenha sido alta, apesar do presidente da Academia ter negado. Na minha opinião, não tinha necesidade de ter sido tão antecipado, era só ter colocado na semana seguinte (09/01 ou 10/01), antes dos resultados do Critics' Choice e do Globo de Ouro. Já estava sendo feito assim em anos anteriores e acredito que esses poucos dias fariam muita diferença. Acho que a parte mais importante é a época das indicações, quando o volume de filmes a serem assistidos é muito maior. Agora quero só ver se o Ben Affleck ganhar o DGA também, vai ser muito esquisito, mesmo com a Academia procurando rumos disitntos da outras premiações.

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  6. Anônimo: Mas a ideia era influenciar mesmo. O que não quer dizer que tenha tido perda de qualidade, o que não houve. Não credito que tenha havido número significativo menor de votos nessa fase. Historicamente, há muita abstenção na fase dos indicados. Acho saudável a mudança proposta pela academia.
    Abs

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