quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Oscar Watch 2013 - Cenas de cinema especial (indicados ao Oscar 2013)


Reflexos positivos I
O anúncio dos indicados ao Oscar 2013, conforme Claquete já antecipava, desmontou expectativas de muita gente. Isso porque com a antecipação do calendário proposto pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, o tempo para o lobby dos estúdios foi reduzido, assim como o peso das premiações preliminares. A ideia da medida é recuperar o status do Oscar e sua fleuma de prêmio máximo do cinema, além de diminuir a previsibilidade da temporada. Sob essa perspectiva, a lista do Oscar 2013 é um triunfo.

Reflexos positivos II
Desde que a categoria de melhor filme foi flexibilizada, admitindo de cinco a dez nomeados, essa é a primeira vez que uma produção totalmente estrangeira entra na disputa por melhor filme. Diferentemente de O artista no ano passado, Amor é um filme feito sem envolvimento americano.

Cena de Amor: produção indicada pela Áustria para concorrer a filme estrangeiro é coproduzida por França e Alemanha e é a primeira, desde O tigre e o dragão em 2000, a figurar entre os selecionados a melhor filme no Oscar sem ter financiamento americano

Reflexos positivos III
Ainda não foi desta vez que todos os indicados ao Oscar de melhor filme estão relacionados entre os concorrentes a melhor roteiro. Mas 2013 foi o ano em que isso ficou mais próximo de acontecer desde a flexibilização da categoria de melhor filme. O que é uma boa notícia. Apenas Os miseráveis não angariou uma indicação por roteiro. Esse ajuste é sinal fidedigno que os membros da Academia estão aprendendo a votar com a nova configuração da categoria de melhor filme.

 
Reflexos negativos
Por outro lado, dissonâncias seguem presentes na lista da Academia. Se o Oscar demonstrou maturidade ao selecionar um dos filmes mais premiados do ano, mesmo ele não sendo americano e impulsionou a visibilidade de uma fita independente como Indomável sonhadora, a Academia deixou de fora nomes que pareciam pertinentes em algumas categorias como O mestre em filme e roteiro original e Ben Affleck em direção.
 
Deu a louca nos diretores
A categoria mais surpreendente talvez tenha sido a de direção. Ben Affleck (Argo) e Kathryn Bigelow (A hora mais escura), nomes dados como certos, foram deixados de fora. Ang Lee (As aventuras de Pi) e Steven Spielberg (Lincoln) confirmaram as tendências da temporada e conseguiram suas vagas. Michael Haneke confirmou as expectativas das últimas semanas e foi nomeado por Amor. David O. Russell, confirmando expectativas de Claquete, também foi indicado por O lado bom da vida. Mas a grande surpresa foi mesmo a indicação de Benh Zeitlin por Indomável sonhadora. Ele não estava no radar de nenhum dos analistas e em nenhuma projeção relevante na indústria. Mas sua indicação não deixa de ser justa e merecida.
O que mais chama a atenção, no entanto, foi a quase total divergência da lista do Oscar da do sindicato dos diretores anunciada há dois dias. Além de Spielberg e Lee, Bigelow, Affleck e Tom Hooper foram indicados lá. A aparente “loucura” é muito boa para a vigente temporada de premiações.

O quinto elemento: o jovem diretor de 30 anos, Benh Zeitlin ( na foto ao lado de sua estrela em Indomável sonhadora) surpreendeu o mundo do cinema ao derrubar favoritos e azarões com sua indicação a melhor diretor do ano
 
A mais jovem e a mais velha
Uma curiosidade dessa lista de indicados ao Oscar é que Quvenzhané Wallis é a mais jovem atriz indicada ao Oscar em 85 anos de história. Em qualquer categoria de atuação, mas especialmente na principal. Ela tem nove anos, mas tinha seis quando concebeu sua atuação em Indomável sonhadora. O recorde na categoria de atriz pertencia a Keisha Castle-Hughes indicada por A encantadora de baleias, justamente no ano do nascimento de Wallis em 2003. Não obstante esse belo fato, a atriz francesa Emmanuelle Riva se torna, aos 85 anos, a atriz mais velha indicada na mesma categoria. O recorde pertencia a Jessica Tandy que, aos 80 anos, concorreu e ganhou em 1990 por Conduzindo miss Daisy.
 
Um desempenho e tanto
E o que dizer de O lado bom da vida, hein? Oito indicações ao Oscar (filme, direção para David O. Russell, roteiro adaptado para Russell, ator para Bradley Cooper, atriz para Jennifer Lawrence, ator coadjuvante para Robert De Niro, atriz coadjuvante para Jacki Weaver e montagem). Um desempenho e tanto. Não obstante, o filme de Russell é o primeiro a ser indicado ao Oscar nas quatro categorias de atuação em 31 anos. O último havia sido Reds em 1981. Um marco e tanto. Desnecessário dizer que o filme, como Claquete já havia cravado em dezembro, é o único com chances de conquistar o chamado “big five”: filme, direção, ator, atriz e roteiro. Apenas três filmes o fizeram. O último foi O silêncio dos inocentes em 1991.

A comédia romântica que chegou lá: O lado bom da vida tem oito indicações ao Oscar e oito indicações de respeito...


Ao invés de política, o sentido da vida
Muito se esperava pelo tom político nesse Oscar. Com filmes como Lincoln, A hora mais escura, Argo e até mesmo Django livre.  Apesar desses filmes entrarem na lista de melhores do ano e de Lincoln inclusive seguir com o bastão de favorito, o saldo das indicações revela a predileção pelo sentido da vida em detrimento da radiografia política. Basta conferir os relacionados para melhor diretor e os filmes que apresentam predominância nas categorias mais importantes. As aventuras de Pi, Amor, O lado bom da vida e Indomável sonhadora são filmes que, cada qual a sua maneira, examinam a existência e suas resiliências. Sob essa perspectiva, até mesmo Lincoln pode ser visto – em comparação com Django livre, Argo e A hora mais escura – menos como político e mais como humanista. Talvez derive daí sua força no Oscar neste ano.
 
Indústria ou arte?
Um bom reconhecimento, ainda que em parte restrito, a O mestre; o destaque conferido a produções como Amor e Indomável sonhadora; a mão estendida ao também independente O lado bom da vida... O Oscar 2013 aprofunda a noção de que cada vez mais o Oscar é um prêmio do cinema e não meramente de indústria.
 
Do céu ao inferno em 24 horas...
O anúncio do Bafta ontem levou Ben Affleck ao olimpo. Além de concorrer a melhor filme, Affleck foi incluído na disputa entre os diretores e atores. No entanto, o melhor da festa não veio. Sim, Argo foi indicado a melhor filme, mas Affleck tido desde setembro como uma certeza entre os diretores não foi nomeado.
 
A grande esnobada: de favorito absoluto, Affleck se viu fora da lista dos diretores no Oscar


Os frequentes e os que estão de volta após um longo inverno
Jessica Chastain é a única atriz que foi indicada ao Oscar ano passado e que está de volta à disputa. Mas outros que foram indicados em outras categorias no ano passado estão de volta. George Clooney concorre como produtor por Argo e ano passado concorreu como ator por Os descendentes e roteirista por Tudo pelo poder. Spielberg concorreu como produtor por Cavalo de guerra e volta à disputa como produtor e diretor de Lincoln.
O que chama mais a atenção, no entanto, é a presença de atores que não iam ao Oscar há certo tempo. Denzel Washington (11 anos), Robert De Niro (21 anos), Sally Field (28 anos), Helen Hunt (15 anos), Naomi Watts (9 anos) e Joaquin Phoenix (7 anos).
 
Bicampeão ou tricampeão?

Concorrendo a melhor ator coadjuvante estão Philip Seymour Hoffman (O mestre), Tommy Lee Jones (Lincoln), Christoph Waltz (Django livre), Robert De Niro (O lado bom da vida) e Alan Arkin (Argo). Só titã! Todos já são vencedores do Oscar. De Niro já tem dois. Um como ator por Touro indomável (1981) e outro, como coadjuvante, por O poderoso chefão II (1975). Waltz ganhou por Bastardos inglórios em 2010, Jones por O fugitivo em 1994 e Alan Arkin por Pequena miss Sunshine em 2007. Hoffman ganhou como ator em 2006 por Capote.
 
Take this Waltz
Se a Academia parece relutar em reconhecer além do óbvio ululante Leonardo DiCaprio, para muitos a melhor coisa de Django livre, o mesmo não se pode dizer de seu parceiro de cena, o austríaco Christoph Waltz. Em seu segundo trabalho com Tarantino, o ator vencedor do Oscar roubou a indicação que todos davam como certa a DiCaprio.

Nesta sexta-feira (11) será publicado um artigo com as primeiras impressões do blog sobre a lista dos indicados ao Oscar. Na sexta será a vez da seção Insight trazer curiosidades e informações diversas sobre a lista deste ano.

Animação
Poucos se deram conta, mas a Academia fez justiça ao reconhecer com um indicação a ótima animação Piratas pirados que tem na dublagem de Hugh Grant o seu ponto alto.
 
Host que é host é também indicado
Há dois anos atrás, James Franco apresentou o Oscar e também esteve concorrendo como melhor ator. Ninguém imaginava que isso fosse acontecer este ano com Seth MacFarlane como host. Pois bem, aconteceu! MacFarlane foi indicado a melhor canção por sua composição “Everybody needs a best friend” para o filme Ted. Uma indicação até certo ponto surpreendente, que dá um gás para o anfitrião que a academia deposita muitas, mas muitas esperanças.
 
Globalização fail
Entre os atores indicados há três australianos (Hugh Jackman, Naomi Watts e Jacki Weaver), o que é um recorde para o país, uma francesa (Emmanuelle Riva), um austríaco (Cristoph Waltz), um inglês (Daniel Day Lewis) e quatorze americanos. É o Oscar com menos estrangeiros nas categorias de atuação em cinco anos.

Um comentário:

  1. Ótima análise, Reinaldo. Acho que está uma lista equilibrada mesmo, e fico feliz com o retorno de Robert De Niro, grande ator.

    Agora é esperar que os filmes estrem por aqui e começar as torcidas, hehe.

    bjs

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